Por Rafael Morais
Após um sucesso estrondoso
no Festival de Sundance esta produção da Apple TV+, adquirida pelo Amazon Prime
Video, é aquele típico feel good movie
necessário para os dias atuais.
A jovem Ruby (a cativante
Emilia Jones) é a única pessoa capaz de ouvir em uma família de surdos. E
quando o negócio de pescaria de seus pais é ameaçado, ela fica dividida entre
seu amor pela música e suas obrigações. Ruby é uma CODA (children of deaf adults, ou filha de adultos surdos) - sigla
homônima ao título original do filme.
Assim, a diretora e
roteirista Sian Heder - que se baseou no filme
francês “A
Família Bélier” - adapta um
script que mostra o poder da comunicação, alternando leveza e peso nas horas
oportunas. É incrível como, de repente, você se pega sorrindo para, no segundo
seguinte, as lágrimas descerem incontrolavelmente. Um musical disfarçado de dramédia.
Na verdade, a condução dos
atos e a estrutura da montagem me lembrou ligeiramente “A Pequena Miss Sunshine”.
A sequência do concerto escolar é de uma sensibilidade sem igual e se assemelha
à referência citada. Optar por excluir a sonora de um local, colocando o
espectador diretamente na pele - ou melhor, no tímpano dos personagens - é
imersivo e angustiante, mas imperioso à narrativa.
É o longa feito para quem
tem um coração de manteiga derretida. Ou para aqueles desprovidos de sentimentos
tentarem superar os seus limites. Prepare o lenço, tente não se emocionar e
falhe miseravelmente. E o melhor é que a pieguice anda longe da trama, fazendo
com que os conflitos genuínos de Ruby e sua família sejam palpáveis. É
impossível não se identificar com a protagonista, neste sentido. A garota sofre
demais por ter nascido diferente dos demais dentro do próprio lar.
Incompreendida – e lutando para que o mundo lá fora compreenda as suas dores e
de seus parentes - é como se ela carregasse nos ombros uma culpa que não é
dela.
Destaque também para a
atuação da mãe de Ruby, Jackie Rossi (a oscarizada Marlee Matlin), o irmão Leo Rossi (Daniel
Durant) e, sobretudo a presença marcante do pai Frank Rossi (o impecável Troy
Kotsur) em cena; aliás, os últimos dois são, de fato, surdos na vida real.
Não menos interessante, o
uso da linguagem de sinais, que os personagens utilizam para se expressar
durante toda a projeção, é um elemento narrativo poderoso não só por comprovar
que o homem médio não faz ideia de como se comunicar com um deficiente
auditivo, mas também por conferir verossimilhança, energia e dramaticidade aos
diálogos.
Ao final, "No Ritmo do
Coração" é um exercício à empatia, uma fábula acerca do desprendimento, do
amadurecimento e, principalmente, sobre pertencimento. Uma obra sutil, humana e
representativa que aposta na emoção sem se entregar aos clichês. Trata-se de
uma grata surpresa que não apela para o dramalhão barato em momento algum. Uma
verdadeira pérola escondida no streaming da "locadora azul".
*Avaliação:5,0
Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.