domingo, 16 de janeiro de 2022

ANIVERSARIANTES MEMORÁVEIS - 10 anos de A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Viaje com Scorsese por um mundo que ele conhece como poucos.

Por Rafael Morais

A briga pelo Oscar de melhor filme de 2012 foi protagonizada por duas produções que focavam na mesma dualidade temática: A evolução do Cinema X A preservação de obras clássicas. No entanto, A Invenção de Hugo Cabret narra este contexto histórico de uma forma bem mais encantadora e deslumbrante que o filme francês O Artista (que acabou levando a estatueta de melhor longa e direção), até porque traz Martin Scorsese dirigindo pela primeira vez em câmeras 3D. 

A trama acompanha a trajetória do protagonista Hugo (Asa Butterfield), que depois da morte do seu pai relojoeiro passa a viver na Gare du Nord, a majestosa estação de trem em Paris, cujos relógios o órfão acerta diariamente. Como herança, Hugo ganhou não apenas o talento com engrenagens miúdas, mas também um misterioso autômato que o garoto tenta remontar com peças que ele furta de uma loja de brinquedos na estação. Transcorrem os anos 1930 e ninguém desconfia que o deprimido dono da loja é, na verdade, o velho cineasta Georges Méliès (Ben Kingsley), mas isso Hugo logo descobre, quando o caminho dos dois se cruza. 

Tecnicamente, Scorsese foge do lugar comum no uso da tecnologia proporcionando uma experiência sensorial jamais vista depois de Avatar de James Cameron. O cineasta emprega os efeitos de terceira dimensão a favor da linguagem narrativa ao colocar o espectador dentro do filme, literalmente, de tão imersivo.

Observe, por exemplo, na sequência em que o guarda da estação (Sacha Baron Cohen) intimida o garoto Hugo:  ao aproximar o seu rosto da indefesa criança o enquadramento brinca com a proporção e explicita como o adulto é bem maior e imponente frente ao menino. Assim, o diretor não perde a oportunidade de também nos colocar na pele do protagonista e utiliza, de forma orgânica, esta aproximação em 3D. O renomado cineasta ainda consegue potencializar os efeitos dos truques de Méliès no ótimo flashback que relembra o processo do mestre (como a ilusão do tanque de lagostas). 

Quem não conhece Méliès (1861-1938) terá em Hugo Cabret, antes de mais nada, uma tocante introdução aos filmes do diretor de Viagem à Lua (1902). Foi o que aconteceu comigo, que apesar de conhecer esta obra, não tinha ideia de quão grandiosa era a sua cinematografia como um todo. Enquanto os irmãos Lumière - criadores do cinematógrafo - filmavam banalidades do cotidiano em seus curtas, Méliès, veterano do teatro de variedades, levou para o Cinema seus espetáculos de ilusionismo. Com seus truques de montagem e encenação, o francês foi pioneiro não só nos efeitos visuais como originou, com sua produção de mais de 500 filmes, toda a ideia do Cinema como uma fábrica de sonhos. 

E esta magia é retratada de maneira tocante em Hugo. A visão de Scorsese sobre Cinema (o idealizador não esconde sua obsessão sobre o tema), muito além de uma homenagem, é uma analogia ao mundo onírico, pois quando estamos assistindo a um filme é como se estivéssemos sonhando livremente, sem amarras, longe da nossa cruel e indigesta realidade. Fantasia pura!

Enfim, um filme mágico, deslumbrante e imperdível para os amantes da sétima arte.

* NOTA: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.

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