domingo, 26 de novembro de 2017

NOS CINEMAS - Liga da Justiça



Por Rafael Morais
26 de novembro de 2017

Depois dos eventos de "BvS - Batman Vs Superman", Bruce Wayne (Ben Affleck) decide reunir um grupo de meta-humanos capaz de conter uma ameaça intergalática que pretende aniquilar a vida na Terra e se apoderar do planeta. Baseado nesta premissa, o roteiro, transbordado de clichês, de Chris Terrio e Zack Snyder é tão óbvio e infantil ao ponto de nos depararmos com aquelas famosas frases de efeito: "vamos salvar o mundo" ou "o mundo precisa de nós"! Mas os problemas do filme não ficam somente aí. A pressa com que a DC/Warner tem em apresentar seu universo estendido e cinematográfico de seu vasto plantel de heróis é visível no desespero em introduzí-los nas telonas. Tudo é arremessado por meio de explicações didáticas (faltou só um datashow) embutidas em pen drives (BvS), tolhendo todo o charme mítico daquelas figuras. 

Acompanhar o mercado aquecido de heróis que invadem as salas de cinema é fácil, o difícil é fazer isso com qualidade. Perceba que até o tom mitigado entre o divertido e sombrio conquistado na trilogia Dark Knight, de Christopher Nolan, foi totalmente descartado aqui. Na verdade, devido a pressão advinda do público e da crítica, o filme não tem um tom definido, seja no humor ou na paleta de cores. Não há uma identidade visual própria, tornando a produção genérica. Aliás, percebemos facilmente o desleixo através de tomadas pouco inspiradoras (para não dizer horríveis) como aquela em que os heróis saltam de um trem, um de cada vez, em meio a um túnel escuro. É perceptível o cenário montado, sem vida, bem como a luz artificial, indireta, projetada na misancene. Muito tosco! Nesta mesma sequência, ainda notamos que o uniforme do Batman (cada vez mais parrudo) não passa de um amontoado de plásticos emborrachados, dando a impressão que a sua movimentação é anatomicamente impossível. Seria moleza derrotar um cara todo emplastificado, até nas juntas, porém, graças ao CGI, o milagre acontece e o morcegão consegue se mexer fluidamente para derrotar seus inimigos. 

Esteticamente feio e dono de uma montagem nada inspiradora, "Liga da Justiça" tinha todo potencial para ser espetacular. Talvez a troca de diretor no apagar das luzes (pós-produção), sai Snyder entra Joss Whedon, tenha auxiliado na formação do Frankenstein que é esse longa. Os remendos na película são notórios. Piadas de humor sem o mínimo timing cômico são arremessadas no público na tentativa de segurá-los. Mas como se prender a um filme que volta a lidar com a temática já experimentada no terrível ''Lanterna Verde'', onde o vilão fareja o medo. Sério isso? O medo, de novo?! Como se não bastasse errar uma vez, a DC permanece no erro ao não manter sua identidade dos quadrinhos (dizem os especialistas que a pegada é mais densa por lá) e regressa com falhas já catalogadas na sua oscilante cinematografia, se entregando ao fan service fake quando tenta mimetizar a concorrente Marvel até mesmo incluindo duas cenas pós-créditos. 

O elenco, por sua vez, se esforça para agradar, mas acaba se resumindo a isto: o Flash de Ezra Miller é aborrecedor e aparece sempre com a mesma expressão de assustado. Não convenceu. O Ciborgue de Ray Fisher lembra os dilemas do Robocop, mas não é bem explorado. Já o Aquaman de Jason Momoa pode render um filme solo legal, tendo em vista o carisma do ator. O vilão, Lobo da Estepe, é um desastre completo, uma vez que  é todo trabalhado no digital, sem expressão alguma, sendo mais um boneco metido a assustador com um baita vozeirão grave modificado na mesa de som. Enquanto isso, a chamada Trindade, formada por Mulher-Maravilha (Gal Gadot MARAVILHOSA como sempre, com o perdão do trocadilho), Batman e Superman (Henry Cavill e sua barbearia digital) tenta segurar todo o filme nas costas, e que embora sejam largas, não aguentam. 

Outro desacerto fica por conta da quase trilha sonora. A obra em si é um quase. Poderia se chamar "Quase Liga da Justiça", inclusive. Por que raios não inseriram completamente as icônicas trilhas originais/tema do Batman e do Superman, mas apenas o comecinho, uma palhinha?! MEDO de não ser original? Cuidado com o medo porque se não bicho papão vem e pega. Foi isso que vocês nos ensinaram. A propósito, nem a canção "Come Together" (dos Beattles), que teve uma regravação sensacional por Gary Clark Jr., exclusiva para o filme, foi utilizada durante, mas, apenas depois, nos créditos finais. Anticlímax total! Diferente de Thor Ragnarok, por exemplo, que injetou duas vezes o ''Immigrant Song'' de Led Zeppelin e foi de arrepiar.

Entretanto, depois de tantas mordidas, vale assoprar um pouquinho. Aqui e acolá, algumas cenas podem empolgar os mais suscetíveis, como quando o Detetive de Gotham caça um monstrengo, durante a noite escura de Snyder - e bota escura nisso - nos altos dos prédios de Gotham (ou seria Metropolis ?); num certo diálogo entre Clark e Bruce que referencia o pré-embate entre eles ocorrido em BvS; no instante em que o batmóvel atira projéteis contra bestas, e a famosa câmera lenta do diretor entra em ação para mostrar as cápsulas caindo em primeiríssimo plano; ou até mesmo quando toda a Liga está reunida e vislumbra o horizonte (enquadramento clássico). Mas não foi suficiente, não deu liga DC/Warner...não foi dessa vez.

*Avaliação: 2,5 pipocas + 2,5 rapaduras = nota 5,0.