quinta-feira, 31 de março de 2022

Nos Cinemas - MORBIUS


Por Rafael Morais

Sabe aquela produção genérica sem propósito de existir? Sabe quando você termina uma sessão de cinema e sai impassível, sem sentir absolutamente nada do que lhe foi estimulado? Se é que tentaram lhe estimular. Pois, assim é "Morbius": a nova tentativa frustrada da Sony de contar uma história, minimamente interessante, sobre um personagem do universo Marvel. 

A fórmula de "Venom" está lá intacta. A estrutura é a mesma: 
Surfar na onda do sucesso do Homem-Aranha em parceria com o Marvel Studios/Disney (check);
Apresentar um vilão, com tendências para ser anti-herói ou até mesmo com atos heroicos, envolto num roteiro vazio (check);
Escalar um ator de peso para ser o protagonista (check); 

E o resultado é um longa, com cara de curta-metragem, que grita o seu objetivo de ser caça-níquel. O que dizer daquelas cenas pós-créditos desconexas?! A superficialidade do argumento então é algo que assusta mais do que a careta do vampiro em transformação. Não há profundidade aqui. O script se apega aos arquétipos e se satisfaz. 

O fio de história narra a trajetória do Dr. Michael Morbius em busca de uma cura pra sua grave doença. No processo, enquanto faz experimentos com o seu sangue misturado ao de um morcego, o médico se transforma no "temível" vampirão sanguinário. 

Confesso que o desastre só não é completo porque sempre dá pra se aproveitar alguma coisa de um filme. No caso aqui, gostei do visual do anti-herói depois da metamorfose, do jogo de sombras, das cenas que o terror pedia passagem e até dos efeitos visuais, duramente criticados. Senti que ali havia um potencial para ser uma obra de terror mediana, no mínimo. 

No entanto, para ser uma película de origem bem realizada faltou muito mais. O cineasta Daniel Espinosa até tenta, mas se perde em qual história quer contar, se é que ele tem uma em mãos, e o filme se torna vazio, praticamente sem conflitos. É tudo muito apressado. A resolução, bem como quase todo o terceiro ato, é o mais puro anticlímax do tipo que quando acaba você se pergunta abrindo os braços: "É isso? Por que? Pra que fazer isso?". 

Outro questionamento que fica é o seguinte: Jared Leto não lê o roteiro antes de assinar o contrato ou ele tá só precisando pagar uns boletos mesmo?! É surreal como o ator (já vencedor de Oscar), de uns tempos pra cá, só tem entrado em projeto "suicida", com o perdão do trocadilho. Não deu pro Palhaço pimp e nem pro Drácula anêmico/tuberculoso. 

Diante de tudo, entre mortos, feridos, sugados e drenados eu escapei do tedioso Morbius a custa de algumas piscadas de 10 segundos (sim, cochilei por duas ou três vezes, mas foi rápido porque o som da sala IMAX me acordou). Quem dera eu tivesse dormido o filme todo, quem dera... 

*Avaliação: 2,0 Pipocas + 2,0 Rapaduras = nota 4,0.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Nos Cinemas: SONIC 2 - O FILME


Por Rafael Morais

Reza a lenda que toda continuação de filme blockbuster deve ser mais megalomaníaca que o seu antecessor. E “Sonic 2” segue isso à risca! Aproveitar o que deu certo no primeiro e apresentar novos personagens com um final grandioso do nível “vamos salvar a Terra” é a fórmula para o sucesso com a criançada. Mas, felizmente, essa nova aventura do “ouriço azul” vai além do algoritmo e funciona também com o público adulto em dois segmentos: a emoção e a comédia.

A história traz de volta o Dr. Robotnik (Jim Carrey leve, over, livre e solto como a gente gosta) à procura de uma esmeralda mística que tem o poder de destruir civilizações. Para detê-lo, Sonic se une à raposinha Tails e parte em uma jornada para encontrar a joia antes que ela caia em mãos erradas.

Premissa básica, roteiro bem estruturado no arco do herói, inclusive com direito a várias referências ao universo dos quadrinhos - uma sátira ao mundo sombrio do Batman não poderia faltar - enfim, tudo redondinho. Até uma singela homenagem a “Curtindo a Vida Adoidado” teve. Quem pegou o easter egg?! É impressionante como John Hughes ainda mexe com o nosso imaginário. O adolescente, ou pré, dos anos 80 e 90 adormecido em cada um de nós ainda vive.

Por sua vez, o diretor Jeff Fowler e os roteiristas Patrick Casey e Josh Miller entendem que estão diante de um protagonista que os gamers old school já o conhecem há mais de 30 anos, quando ligaram o Mega Drive e se deliciaram com a clássica apresentação: SEGAAAAAAA. Foi amor à primeira corrida!

Deste modo, apresentar esse personagem à nova audiência é essencial para o seu legado. O que auxiliou o Cinema, neste caso, foi o fato de que o Sonic não desapareceu da indústria dos videogames. Volta e meia tem um joguinho novo, ou uma remasterização, que nos puxa pela nostalgia.

E por falar nisso...o filme sabe “apertar os botões” do espectador e desbloquear as melhores memórias. O fan service é bem realizado aqui. As clássicas músicas-tema dos games estão inseridas no longa-metragem de forma inteligente; o visual de Sonic, Tales e do Knuckles são fidelíssimos; até alguns designs de fases estão lá, como as traumáticas sequências embaixo d’água (faltou só inserir a musiquinha cronometrada que mastigava meu juízo, na época). Assim, esta continuação em live-action dá aula ao adaptar um game de tamanha importância e tão querido pela comunidade.

Mas foi na emoção e na comédia que o filme me ganhou. A obra tem coração e não faz questão de esconder. Temas como amizade e família são abordados de maneira tocante. Destaque para o segundo ato totalmente voltado ao humor. Surpreendentemente, o filme se desvencilha do tom de ação/aventura e parte para uma comédia genuína. Gags visuais, piadas literais e muito humor físico prometem arrancar gargalhadas até do sujeito mais sisudo. Funcionou demais, sobretudo a participação da comediante Natasha Rothwell (Rachel) no elenco. A sequência do casamento até o seu desfecho, então...Timing preciso, risos garantidos!

Por fim, "Sonic 2" é um típico “pipocão” digno de levar a família aos cinemas. Diversão certa com um plus a mais para os que curtiram as Sessões da Tarde, as videolocadoras e arriscavam controlar um tal bichinho azul veloz e descolado que rolava pra cima e pra baixo no intuito de concorrer com um tal encanador italiano da Nintendo.

*Avaliação: 5,0 pipocas + 2,5 rapaduras = 7,5

terça-feira, 29 de março de 2022

Dica Netflix - DUNKIRK

Por Rafael Morais

Na Operação Dínamo, mais conhecida como a Evacuação de Dunquerque, soldados aliados da Bélgica, do Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. Ancorada nessa premissa, a história acompanha três momentos distintos do mesmo evento: uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país; e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço. 

Interessante notar como o diretor Christopher Nolan, também roteirista, arquitetou o seu script já pensando na espetacular montagem, uma vez que essas três histórias se fundem organicamente no desfecho. Aliás, espetáculo é o que não falta em “Dunkirk”, não por tratar a guerra como um, mas pelo show de efeitos práticos que o cineasta prioriza em detrimento dos digitais. Estamos diante de um Cinema puro, capaz de imergir o espectador na linha de frente do front de batalha, ou no cockpit de um caça. Tudo isso auxiliado pelo perfeito design e mixagem de som, bem como pela utilização de específicas câmeras IMAX – e aquelas instaladas na fuselagem externa dos aviões são geniais e imersivas - projetadas especificamente para rodar o longa. Por este motivo, recomendo que o filme seja assistido, prioritariamente, neste formato. 

Assim, durante a projeção, roer as unhas e sentar na ponta da cadeira são reações “normais” diante da tensão crescente que toma a película de assalto. Observe a formidável trilha sonora do mestre/maestro Hans Zimmer, parceiro habitual de Nolan: apostando em notas agudas para os momentos que precedem um ataque, como o uso de violinos distorcidos, por exemplo, Zimmer traz notas de horror, quase como àquelas encontradas na famosa sequência do chuveiro em Psicose (Hitchcok), porém, aqui a ideia é harmonizar a crescente tensão do que estamos assistindo (visual), focando na iminência de um confronto, com o que os nossos ouvidos captam (áudio). Desta forma, temos mais uma parceria perfeita (senão a melhor) entre o diretor e o compositor que entregam uma experiência sensorial e audiovisual incrível! 

Quanto ao elenco, todos cumprem o seu papel com exatidão entregando o que lhes foi pedido. Aqui, propositalmente, não há um maior desenvolvimento de um ou outro personagem, não há apenas um herói. A guerra é composta por figuras anônimas e os heróis estão representados em cada tipo, como por exemplo, quando Dawson, um senhor de idade que coloca o seu iate à disposição da Marinha, mas faz questão dele mesmo velejar na tentativa de salvar o exército acuado. Sem contar no jovem e altruísta George, que também coloca a sua vida em risco para salvar os outros.

Aliás, neste sentido, vale ressaltar o fato de Nolan ter optado pelo inimigo sem rosto, onde jamais nos deparamos, frente a frente, com o outro lado, aumentando mais ainda a angústia por não sabermos de onde virá o ataque. O mal está onipresente, tal qual a trilha sonora já citada. E por não optar pelo derramamento de sangue em profusão, ou mutilação lógica de membros de soldados, o que 99% dos filmes de guerra assim o fazem, Nolan entende que tais consequências são inerentes a um confronto armado, se dando ao direito de uma licença poética, para abrir mão da violência gráfica em detrimento de uma fotografia contemplativa (e estonteante) voltada à narrativa proposta, onde o suspense e o drama pesam mais do que o terror/gore. 

Na verdade, as escolhas do cineasta lembram às de Kubrick em “Glória Feita de Sangue”, quando foca na desilusão e desgraça de uma guerra pela perspectiva dos soldados enquadrados em constantes close-ups, reforçando a sensação de encarceramento. Alguns planos, inclusive, me lembrou o título "Enemy at the Gates/Círculo de Fogo" de 
Jean-Jacques Annaud, sobretudo na expectativa do embate e do bombardeio.

Sufocante durante os seus 120 minutos, "Dunkirk" ainda prepara uma montagem arrebatadora para o seu terceiro ato amarrando o desfecho de cada segmento apresentado no primeiro, encerrando com chave de ouro esta obra-prima.

*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10,0.

sábado, 26 de março de 2022

OSCAR 2022 - Palpites


Por Rafael Morais

Como de costume, seguem os meus palpites nas principais categorias. Serão divididos em "na torcida, quem ganha e correndo por fora"Façam suas apostas... 

MELHOR FILME
Na torcida - No Ritmo do Coração 
Quem ganha - Ataque dos Cães 
Correndo por fora - Amor, Sublime Amor 

MELHOR ATOR
Na torcida - Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães)
Quem ganha - Will Smith (King Richards)
Correndo por fora - Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães) 

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Na torcida - Troy Kotsur (No Ritmo do Coração)
Quem ganha - Troy Kotsur (No Ritmo do Coração)
Correndo por fora - Troy Kotsur (No Ritmo do Coração) 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Na torcida - Kristen Dunst (Ataque dos Cães)
Quem ganha - Ariana Débora (Amor, Sublime Amor)
Correndo por fora - Kristen Dunst (Ataque dos Cães) 

MELHOR ATRIZ 
Na torcida - Kristen Stewart (Spencer)
Quem ganha - Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye)
Correndo por fora - Olivia Colman (A Filha Perdida) 

MELHOR ANIMAÇÃO
Na torcida - A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas 
Quem ganha - Encanto
Correndo por fora - Flee 

MELHOR FOTOGRAFIA
Na torcida - Greig Fraser (Duna)
Quem ganha - Ari Wegner (Ataque dos Cães)
Correndo por fora - Greig Fraser (Duna) 

MELHOR FIGURINO
Na torcida – Cruella
Quem ganha - Cruella
Correndo por fora – Duna 

MELHOR DIRETOR
Na torcida - Jane Campion (Ataque dos Cães)
Quem ganha - Jane Campion (Ataque dos Cães)
Correndo por fora - Jane Campion (Ataque dos Cães) 

MELHOR DOCUMENTÁRIO
"Não vi nenhum. Não posso opinar." 
Pires, Glória. 

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
"Não vi nenhum. Não posso opinar." 
Pires, Glória. 

MELHOR EDIÇÃO/MONTAGEM
Na torcida - Duna
Quem ganha – Duna
Correndo por fora – Tick, Tick...Boom! 

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Na torcida - Drive My Car
Quem ganha – Drive My Car
Correndo por fora – A Pior Pessoa do Mundo 

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Na torcida – Duna
Quem ganha – Duna
Correndo por fora - Ataque dos Cães 

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Na torcida - No Time to Die (Billie Elish) por "007: Sem Tempo para Morrer"
Quem ganha - No Time to Die (Billie Elish) por "007: Sem Tempo para Morrer"
Correndo por fora - Dos Oruguitas (Lin-Manuel Miranda) por "Encanto" 

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Na torcida – Duna
Quem ganha – Duna
Correndo por fora - O Beco do Pesadelo 

MELHOR CURTA ANIMADO E MELHOR CURTA-METRAGEM
"Não vi nenhum. Não posso opinar." 
Pires, Glória. 

MELHOR SOM
Na torcida – Duna
Quem ganha – Duna
Correndo por Fora – Amor, Sublime Amor 

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Na torcida – Duna
Quem ganha – Duna
Correndo por forra – Duna 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Na torcida – Ataque dos Cães 
Quem ganha – Ataque dos Cães 
Correndo por fora – No Ritmo do Coração 

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Na torcida – Não Olhe Para Cima
Quem ganha – Licorice Pizza
Correndo por fora - Não Olhe Para Cima

quarta-feira, 23 de março de 2022

Aniversariantes Memoráveis – 10 anos de 007 OPERAÇÃO SKYFALL


Por Rafael Morais

Após entregar uma pistola e um rádio para James Bond, o cientista Q nota a cara de decepcionado do agente e questiona: "O que você esperava? Uma caneta explosiva? Não fazemos mais isso." A frase é engraçada e simples, mas diz muito sobre a última trilogia do herói, pós Pierce Brosnan. A verdade é que desde que Daniel Craig assumiu o posto do espião mais famoso dos cinemas, os longas ganharam contornos mais realistas, principalmente nas cenas de ação. A referência clara é a trilogia de Jason Bourne (dirigida por Doug Liman e Paul Greengrass), como fica evidente nas diversas sequências de perseguição com motos subindo e descendo escadas constantemente, além de "aulas" de Parkour, e claro, muito porradaria.

Para 007 - Operação Skyfall, o diretor Sam Mendes contou com outra referência de peso e que virou moda: “Batman - O Cavaleiro das Trevas” de Christopher Nolan. E isso fica claro no decorrer da obra, com o vilão vivido por Javier Bardem surgindo como uma espécie de Coringa, seja pelo visual estranho, seja pelo fato de lidar bem com o caos. O fato é que os diálogos na prisão e os trejeitos na composição do personagem Silva lembram demais a atuação de Heath Ledger no papel do palhaço desmiolado. Outra evidente comparação com a recente trilogia do "Morcegão" fica por conta da "queda" de Bond, tendo como consequência o seu ressurgimento (Rises). Todo o seu treinamento, passando pelo desgaste físico e emocional do personagem, até mesmo o novo QG subterrâneo, nos remete à obra de Nolan.

Contudo, a nova produção mantém a ação frenética de Cassino Royale e Quantum of Solace (que foi um fracasso total de crítica), ao passo que se distancia quanto ao roteiro destes antecessores. Em Skyfall, a nostalgia toma conta da projeção, a começar pela presença do clássico carro Aston Martin DB5, com a placa BMT216A (o mesmo utilizado por Sean Connery); a utilização de animais exóticos nas cenas de ação (tão usados nos filmes do Roger Moore, por exemplo), imprimindo elegância e ajudando a compor a atmosfera de perigo, além de outras referências aos filmes antigos. 

Na trama, 007 é ferido durante uma missão e dado como morto pelo governo britânico. Ele, no entanto, vê a situação como a chance de se aposentar e deixar para trás a vida de arriscadas missões. Ao ficar sabendo de um ataque terrorista à sede da agência MI6, em Londres, o agente decide voltar ao serviço, colocando-se a disposição de M para apanhar o responsável pelo crime.

Daniel Craig está cada vez melhor na pele do herói. Em determinado momento, o espião, depois de ser baleado, se joga em um trem em movimento e a primeira coisa que faz ao "aterrissar" é ajeitar as mangas da camisa. Isso é muito Bond, James Bond!

Berenice Marlohe, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Bem Whishaw e Albert Finney completam o elenco, com destaque para os dois primeiros. Marlohe interpreta a cativante, bela e misteriosa Bond Girl Severin, enquanto que Fiennes surge como um importante membro do governo, que entrará em confronto com 007 e M por considerá-los ultrapassados.

Destaque para a tradicional sequência de abertura. A canção tema "Skyfall" ficou a cargo de Adele, casando perfeitamente com a narrativa proposta. E a cantora não fez feio. A trilha, composta e cantada por ela, tem na sua belíssima e inconfundível voz e acordes um arranjo harmônico que perpassa toda a trajetória de Bond, se encaixando impecavelmente no roteiro do filme.

Enfim, o agente secreto mais famoso do mundo chegou aos 50 anos esbanjando virilidade, charme, vigor e aumentando, cada vez mais, o "exército" de fãs da franquia. Que venham mais 50...

*Avaliação: 05 rapaduras + 4,5 pipocas = 9,5.

terça-feira, 22 de março de 2022

Dica Disney Plus - ZOOTOPIA


Por Rafael Morais

Após os sucessos de “Frozen” e “Operação Big Hero”, a Disney continuou inspirada. “Zootopia” foi mais um acerto na filmografia do estúdio quando aposta em temas relevantes como a complexidade da natureza, através de metáforas com a realidade humana. Muito do mérito se deve ao talento do produtor executivo John Lasseter, responsável por obras consagradas como a trilogia “Toy Story”, por exemplo. 

Partindo de um subtexto que grita ensinamentos de autoajuda (do tipo que Paulo Coelho se sentiria em casa, não só pela temática, mas principalmente pelo seu sobrenome rsrsrs), a animação foge do lugar comum durante o desenvolvimento de seus atos, sobretudo no 2º, demonstrando a sagacidade do roteiro escrito a quatro mãos por Byron Howard e Jared Bush, em que pese o epílogo flertar com o trivial. 

A trama gira em torno de Judy Hopps (na voz irreconhecível de Monica Iozzi): uma carismática coelhinha advinda de uma fazenda isolada, filha de agricultores, que possui uma extensa família, como já era de se esperar. E o painel com o número de habitantes desta cidadezinha dos coelhos, que só aumenta, evidencia o tom acertado do humor.

Mas Judy tem sonhos maiores, em contraponto ao seu tamanho: pretende se mudar para a metrópole denominada Zootopia, onde todas as espécies de animais convivem em harmonia na intenção de se tornar a primeira coelha policial. A protagonista então passa a enfrentar o preconceito e as manipulações dos outros animais, mas conta com a ajuda inesperada da raposa Nick Wilde (voz de Rodrigo Lombardi), conhecida por suas malandragens infracionais. A inesperada dupla se dedica à busca de uma lontra desaparecida, descobrindo, pouco a pouco, uma conspiração que afeta toda a cidade. 

Assim, uma típica heroína altruísta e dedicada se vê às voltas com um anti-herói egoísta ao extremo: e a química entre esses improváveis personagens acontece. Utopia, no dicionário, é a ideia de civilização ideal, fantástica, imaginária. E como o próprio nome do filme já diz, o espectador é apresentado a um ideal, não demorando a surgir o conflito: alguns animais estão sumindo, principalmente mamíferos (e os humanos são o que mesmo?), atrelado a um descontrole que aflora o extinto mais primitivo adormecido.

Referências e críticas à nossa sociedade (“bem-vindo à selva urbana”, diz o cartaz americano), seja pelo prisma social, político ou comportamental estão estampadas, reservando momentos hilários como a representação do DETRAN, rendendo uma das melhores sequências de comédia do longa. Confesso que tive uma crise de risos tamanha capaz de me tirar do filme por alguns minutos, ocasião em que limpei os óculos 3D e me recompus.

E por falar nisso, o filme brinca com os estereótipos, até não poder mais, passando mensagens de otimismo, ao passo que desincentiva o preconceito. Abordagens sobre o nocivo bullying surgem contemporâneas e dialogam com o novel público. Tudo ajudado por uma linda fotografia que transporta a plateia para aquele mundo fantástico, por meio do uso inteligente das cores: se temos um primeiro ato entregue ao colorido, ao lúdico, na apresentação da cidade e seus adoráveis moradores; em um segundo momento, durante a investigação, o universo ganha ares de uma fita policial, já que o filme é banhado por uma paleta sombria, remetendo ao submundo, ocasião em que somos apresentados a personagens marginais. 

Neste sentido, a animação ganha fôlego ao fugir das convenções do gênero entregando um clima quase noir ao piscar para o espectador mais velho: sim, esse filme é para você também! O mistério por trás da investigação é bem arquitetado, auxiliado pela montagem dinâmica, que explora os cortes de maneira orgânica, deixando o público na ponta da cadeira dado o clima de suspense empregado. Contando com um design de produção engenhoso, tecnicamente temos uma produção extremamente criativa ao ponto de criar a engenharia da cidade adaptada para cada espécie: o meio de transporte dos hamsters então, nem se fala. 

Dirigido com inventividade por Byron Howard e Rich Moore, a animação não consegue manter o nível do extraordinário segundo ato até o fim, quando cai em um desfecho piegas (e o discurso da coelhinha “mastiga” tudo que foi visto durante sua trajetória), além de soar corrido, sendo facilmente resolvido, já que o sumiço dos bichos parecia complexo demais para ser solucionado de forma tão simplória. Somado a isso, temos um personagem pouco explorado - o comparsa da raposa Nick - onde se espera que seja mais utilizado em uma provável sequência. 

Entretanto, felizmente, Zootopia supera essas pequenas adversidades. Os seus realizadores alegram os corações cinéfilos ao fazerem referências do naipe de “O Poderoso Chefão” e “Breaking Bad”. Homenagens que entregam de onde vem tamanho bom gosto.

*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 50 anos de O PODEROSO CHEFÃO

Por Rafael Morais

O filme narra a primeira parte da saga dos Corleone. No comando da mafiosa famiglia está o magistral Marlon Brando na pele do inesquecível Don Vito Corleone. O respeitado Don controla os "negócios" da família, inserida em uma Nova Iorque próspera e crescente dos anos 40 e 50, onde o sonho americano ainda existia. Nesse contexto, os conflitos com outros clãs e dons (imigrantes ou não) eram inevitáveis.

O patriarca tem na figura dos seus filhos - Sonny (James Caan), Fredo (John Cazale), Connie (Talia Shire) e Michael (Al Pacino) -  e na honra de sua família seus verdadeiros bens e valores. Na gerência das negociações o poderoso Don, sempre que possível, inclui o seu "braço direito/homem de confiança" o sábio consigliere (o conselheiro, Robert Durvall). E nessas cenas que mostram os business beiram a perfeição, tendo nelas um ponto forte do longa.

Contudo, não pense que esses negócios se resumem à problemas de ordem financeira, pagamento de contas, por exemplo. São mafiosos de verdade, e que passam um realismo impressionante às cenas. Para tanto, existem assassinatos, encruzilhadas, traições e toda a violência que Coppola não gosta muito de dirigir. Cogitou-se na época que seria contratado um diretor específico para as cenas com esse teor, porém, não foi necessário, pois o brilhante diretor encontrou uma interessante saída para lhe dar com o "lado negro" da máfia.

O cineasta então utilizou de elementos sutis que distraíssem o público (na realidade, ele mesmo estava se distraindo) das cenas mais pesadas. Exemplos disso são as laranjas rolando no asfalto durante um tenso tiroteio, o desfoque, o pé de uma vítima para fora do para-brisa de um carro durante sua execução por estrangulamento e muitos outros truques incorporados para dar camadas e textura à violência. 

O resultado de tanto esforço foi um filme grandioso, obrigatório e ricamente ilustrado em todos os sentidos. Um sucesso de crítica e de público que acabou rendendo três Oscar - melhor filme, roteiro e ator (Marlon Brando, que se recusou a receber o prêmio por detestar Hollywood) e tornou-se um clássico imortal do Cinema.

A aceitação de O Poderoso Chefão acabou fazendo com que Coppola assumisse a direção e o controle total do segundo filme da série - O Poderoso Chefão Parte II, desta vez com liberdade criativa e US$11 milhões de orçamento.

Inesquecíveis as cenas na inspiradora Sicília, do tiroteio na barraca de frutas, do duplo assassinato no restaurante entre outras. Mesmo após 50 anos de seu lançamento essas imagens continuam vivas em nossas memórias. 
* Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = nota 10.

quinta-feira, 10 de março de 2022

E o Oscar vai para...GRAVIDADE

                       

Cuarón propõe uma reflexão sobre a vida diante de uma catástrofe.

Por Rafael Morais

Gravidade, do diretor mexicano Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança), fala mais sobre um drama (quase um estudo de personagens), tendo como pano de fundo o suspense, do que propriamente uma ficção científica, diferente do que se especulava antes de seu lançamento. O fato é que ao enfocar questões existenciais/ontológicas, a solidão e o autocentrismo, o cineasta flerta com a subjetividade, dando "asas" à identificação direta do público com as personas apresentadas.

Assim, não estamos diante de um blockbuster qualquer. Foram investidos mais de $100 milhões de dólares em computação gráfica e cada centavo é recompensado visualmente, tornando a obra tecnicamente impecável; além de ajudar na construção e linguagem narrativa.

A história, por sua vez, se passa no hostil, enigmático e belo espaço, na órbita terrestre, a 600 quilômetros de altura. Neste ambiente, onde a vida é impossível - poeticamente paradoxal à proposta do filme e o seu desfecho - uma equipe de astronautas e cientistas faz a manutenção e instalação de algumas peças no telescópio Hubble quando surge o alerta trágico: vários detritos estão chegando em alta velocidade à sua posição. Em minutos, pegando todos os astronautas de surpresa, a catástrofe está consumada, não restando nada seguro a se apegarem, a não ser uns aos outros (literalmente). Diante disto, restam apenas a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e o comandante da missão, Matt Kowalsky (George Clooney), à mercê da própria sorte, totalmente indefesos e vagando pelo espaço.

Mas para narrar esta "epopeia" sobre a vida, ou como sobrevivê-la, Cuarón abusa (no bom sentido) de seus já famosos planos-sequência lindamente intermináveis, chegando ao ápice quando aproxima ou distancia o foco/close nos astronautas e os objetos que os cercam. Tudo isso em um mesmo take, como se incluísse o espectador naquela história, forçando-o a confrontá-la de perto, mesmo que não queira - quando há a aproximação - pois não é possível fugir por mais que a câmera se distancie.

Contudo, o que vai imperar durante boa parte da película é a justaposição dos personagens com o espectador, tanto é que em uma belíssima e inesquecível tomada, o cineasta nos transporta para dentro do capacete da Dra. Ryan, onde assumimos o seu ponto de vista e compartilhamos a sua experiência, para depois nos tirar de lá sem um mínimo corte aparente. 

A verdade é que tecnicamente não há o que se repreender em Gravidade. A utilização do som, ou falta dele, bem como a contemplação do silêncio, torna o ensaio ainda mais agoniante, uma vez que o diretor aprendeu com os erros das ficções que não respeitavam algumas leis da física, sendo certo que no espaço o som não se propaga. Logo, mesmo diante de todos os impactos dos detritos com os objetos em cena, não escutamos absolutamente nada, apenas sentimos as colisões. E se você acha que ouviu os estrondos desses choques, saiba que, mais uma vez, o Cinema usou da arte de contar uma mentira, ludibriando-o e fazendo-o acreditar que a trilha sonora de Steve Price, inteligentemente diegética, entra no momento certo, levando o público a "erro". Genial! 

Não menos brilhante, os efeitos visuais são de tirar o fôlego (especialmente em 3D - lágrimas desprovidas de gravidade se cruzam com as do público, apreciando o encanto da fragilidade humana e sua persistência). Explosões em gravidade zero, além de longos e aflitivos planos sem cortes durante as chuvas de detritos que acontecem a cada 90 minutos - tempo esse que serve de parâmetro para que a Dra. Ryan cronometre o que poderá ser o seu fim - tornando o roteiro ágil ao prender a nossa atenção até o final. 

E por falar em roteiro, para boa parte da crítica, este é o único probleminha do filme. Mas como ando longe de ser crítico, não entendo assim. O argumento é perspicaz ao aprofundar - na medida do possível - a personagem principal com o público. Repare que uma simples conversa entre a Dra. Ryan (na pele da surpreendente Sandra Bullock) e o tenente Matt (o sempre competente e talentoso George Clooney) ao ser indagada sobre o seu nome um tanto masculino, a astronauta confessa que o seu pai queria um menino ao invés de menina. É algo simples, mas que faz uma grande diferença em um filme-sobrevivência, onde a vida passará sobre os olhos daqueles que se encontram em uma situação limite. Aliás, Clooney desempenha um papel importantíssimo na trama como um profissional já experiente, servindo como um desafogo a quase insuportável tensão apresentada, praticamente um alívio cômico, ao fazer piadinhas ou emprestar uma voz suave e calma no auxílio à sua colega novata.

Mas é no buscar um sentido para viver, nos "renascimentos" da Dra. Stone - seja em posição fetal ao tirar o seu pesado uniforme, envolta pelas cordas da astronave, tal qual um bebê recebendo o básico para a sua sobrevivência através de um cordão umbilical; seja pelos seus "primeiros"/segundos passos em outro momento da película - que Cuarón encontra no espaço uma beleza para a vida; na natureza física selvagem rebusca um momento para reflexão, onde dirigir, apenas para se deixar levar, sem rumo algum, não nos cabe mais. E não à toa o sobrenome da heroína é Stone, que significa pedra, metáfora para alicerce, matéria-prima de uma fortaleza.

* Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = nota 10.

** A produção concorreu a 10 estatuetas no Oscar de 2014, ganhando 07 no total.

terça-feira, 1 de março de 2022

Nos Cinemas - THE BATMAN


Por Rafael Morais
01 de março de 2022

Após mais de uma década sem dar as caras nos cinemas - quando Christopher Nolan realizou a trilogia do Cavaleiro das Trevas – o Batman surge rebootado nesta adaptação dirigida por Matt Reeves. A trama da vez é carregada por uma atmosfera de suspense crescente, onde um assassino está à solta em pleno Halloween. À medida em que as suas vítimas vão aparecendo, o psicopata deixa mensagens em forma de charadas endereçadas ao “Morcegão”. Assim, o jogo de gato e rato, literalmente, tem início.

Inevitável não lembrar de “Seven” e “Os Suspeitos” (David Fincher e Villeneuve, respectivamente) na forma como Reeves conduz a investigação, a dinâmica da dupla (Batman e Jim Gordon, no caso) e a decupagem das cenas, filmando quase com pesar. Tudo é muito pausado e intimista.

A contemplação é perceptível na edição que enfatiza a lentidão dos passos do protagonista (dando a impressão que o filme está em slow motion em alguns momentos), reforçada pelos planos que captam o “Homem-Morcego”, enquanto entidade, de baixo pra cima (famoso contra-plongée). O cineasta trata com máximo respeito a figura do herói em construção - ou seria desconstrução?! – chegando até a fazer alusão a algo sacro/espiritual, eventualmente.

Reeves, claramente, estava com receio de sair da zona de conforto, arriscar e perder a mão. Jogou seguro nas TRÊS HORAS de duração. Isso mesmo, 180 minutos! Dava pra ter cortado uma meia hora fácil apenas colocando o Batman pra caminhar acelerado (1,5x), igual a gente faz com áudio longo de WhatsApp. Assim como dava pra ter descartado três parágrafos dessa resenha.  

Descontrações à parte, o Bruce Wayne de Robert Pattinson, por sua vez, é tão sequelado que sua aura “deprê” se reflete em todos os aspectos fílmicos: a fotografia é mergulhada nas sombras para mostrar uma Gotham desesperançosa que pode ter sua salvação na escuridão, ao invés da luz (DC em corpo e espírito); a trilha sonora é pesada, desoladora e remete a uma procissão funeral constante (as batidas graves martelam o juízo do público); a expressão corporal do homem por trás da máscara demonstra um sujeito cabisbaixo, introspectivo e sempre de luto. Bruce é “fruto do meio” e está fechado para acolher outras questões que não somente a violência enquanto endemia social.

Denso, o longa nos apresenta uma Gotham que “chora” o filme inteiro precipitando suas “lágrimas” em forma de chuva. Lembrou o universo cyberpunk de "Blade Runner", neste sentido. Imensas torres comerciais, neons, propagandas, céu sempre fechado, grandes corporações e homens sobrepujando outros: aspectos capazes de imergir ainda mais o espectador na tóxica e claustrofóbica cidade. Gotham é um personagem caoticamente vivo e o seu povo, já cansado, cobra um preço alto pela negligência sofrida há anos.

A introdução, arrebatadora, propõe a utilização do medo como ferramenta na luta contra o crime. "Eu não me escondo nas sombras, eu sou a sombra”. Porém, essa ideia - narrada pelo próprio protagonista ao ler o seu diário - fica adstrita apenas à sequência inicial, sem jamais ser desenvolvida. Simplesmente um conceito alegórico, infelizmente.

Por outro lado, o roteiro tem um contexto político-social que toma corpo e ganha as ruas gradativamente. Algo parecido com o que vimos em Joker de Todd Phillips - 2019. A tal vingança proposta pelo vigilante encapuzado também se encaixa no cotidiano dos moradores de Gotham. Cada qual com a sua perspectiva. A corrupção toma cada segmento da cidade; seja dos becos às áreas mais nobres, tudo está entranhado com o mal à espreita.  “EU sou a vingança”, “EU sou as sombras”...essas frases egocêntricas cairão por terra e o herói perceberá que não é apenas sobre ele.

Terreno propício para a propagação do ideário neofascista flertado por mocinhos, vilões, “cidadãos de bem” e uma parcela de pessoas que estão simplesmente exaustas de tanta injustiça. Em um determinado momento pensei: é o “Tropa de Elite” da DC! José Padilha vai pirar nesse filme! Mas para o bem da mensagem final, o arco do herói (doido pra ser anti-herói) guardava um discreto plot twist. Bem discreto, por sinal.

Parece que esse “The Batman” pegou um pouco do argumento emprestado da trilogia de Nolan. Relembre que durante um baile de caridade da alta sociedade, em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, Selina Kyle (vivida por Anne Hathaway) diz a Bruce Wayne (na pele de Christian Bale): “Tem uma tempestade chegando, Sr. Wayne. É melhor você e seus amigos se prepararem...Porque quando ela chegar...Vocês irão se perguntar como enriqueceram tanto e deixaram tão pouco para o resto de nós”

E por falar em Mulher-Gato, a interpretada por Zoe Kravitz dar um charme todo especial ao elenco. Ágil, charmosa, multifacetada e decidida, a gatuna contrapõe o mundo fechado, quase míope, de Bruce Wayne e do seu alterego ao oferecer pontos de vista divergentes fazendo o cara pensar “fora da bolha”. E como temos o justiceiro soturno ainda no seu “Ano 2”, elaborando projetos, é natural pensarmos na sua evolução, caso uma trilogia se confirme.

Destaque também para o design e a mixagem de som: um primor à parte! Perceba o ranger do couro no uniforme do Batman; experencie o impacto de um tiro de escopeta à queima-roupa; sinta toda a potência do motor de uma besta em forma de veículo. Nesta nova versão, o Batmóvel é, definitivamente, a reencarnação de “Christine, o Carro Assassino”. A perfeição no trabalho de som é tamanha que nos transporta como passageiros em uma das sequências de perseguição de carro mais animalescas e alucinantes que eu já presenciei numa sala IMAX (não se conforme com menos).

Por fim, “The Batman” transita entre o acerto, quando “o mascarado” entra em ação; e o desacerto da falta de carisma, e de tom, sempre que “o desmascarado” surge em quadro. Isto é: Pattinson convence como Batman, mas não entrega como Bruce. É um desarranjo que não chega a estragar o conjunto da obra, porém, é algo facilmente perceptível e causa uma enorme estranheza.

Quem sabe numa continuação isso venha a ser equacionado para não presenciarmos diálogos e atuações bizarras como aquela em que Bruce visita Alfred no hospital (Andy Serkis). Cesar, Gollum, todos os bichos computadorizados possíveis que o Cinema moderno já concebeu e traços do vampiro crepuscular contracenam naquele momento. Não deu liga. Não me refiro a da Justiça. Gostaria de esquecer essa sequência do hospital, mas não consigo.

HaHaHaHa...   

*Avaliação: 4,0 Pipocas + 4,5 Rapaduras = nota 8,5.