Paris exala cultura e
encanta os seus visitantes, principalmente os apreciadores de arte e que
reconhecem os expoentes influenciadores dos mais diversos movimentos artísticos
mundo afora. E é exatamente isso que acontece com Gil (Owen Wilson),
roteirista de Hollywood que está passando férias com a família da
noiva Inez (Rachel McAdams). Sempre que vai à Cidade Luz, Gil busca
uma reconexão com a "grande arte", algo bem diferente dos
enlatados encomendados que acompanham o seu cotidiano em Los Angeles.
Escrever os roteiros americanos, claramente, não inspira o lado artístico do
roteirista que, ao desembarcar na capital francesa, pretende terminar de
escrever/revisar o seu livro, inspirado pelos ares daquele lugar.
Na verdade, o sonho do
protagonista era viver nos anos 1920, quando F. Scott
Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso viviam os seus
ápices como artistas e homens quando circulavam em ateliês e cafés da cidade.
Impossível realizar esse sonho? Para a mente inquieta e criativa de Woody
Allen, não. Tudo é possível. Pois não é que Gil, não mais que de repente,
para ser mais preciso, ao badalar dos sinos da meia-noite embarca nessa viagem
do tempo e encontra os seus ídolos literários que sempre o inspiraram?!
Allen insere à trama um
realismo fantástico para discutir a questão da valorização do artista ser mais
compreendido/reconhecido longe de casa, bem como em tempos áureos de
outrora. Paris parece acolher a cultura de todos e entender a arte
dos incompreendidos, por isso é igualmente conhecida como uma cidade
cosmopolita.
Para o cineasta, a arte
não deve ser ostentada, e sim experimentada, uma vez que o personagem
de Michael Sheen - amigo de Inez - dá uma de sabe tudo,
e Gil, que não se identifica nem um pouco com esse tipo, logo o apelida de
"pseudointelectual". Perceba que os passeios culturais, que a noiva
do jovem escritor o força a realizar, são apenas momentos para que o erudito e
insuportável intelectual "vomite" os seus conhecimentos.
Conhecer e reconhecer as estátuas de Rodin, os jardins de Versalhes, para Inez, já é um turismo cultural, mesmo que pelo período da tarde ela saia com a sua mãe para fazer compras nas lojas mais caras consumindo o supérfluo. Muito embora a Cidade Luz exale cultura, esta não se absorve por osmose.
“Meia-noite em Paris” é
um filme delicado, divertido e enriquecedor. Allen volta ao seu
melhor estilo charmoso e elegante de filmar. Logo na abertura, somos apresentados
às imagens da cidade em movimento, o cartão-postal em transformação. É o
antimuseu. Aquilo que o cineasta propõe, veementemente, é colocado em prática
aqui, pois a intenção é apreciar a arte em sua dinâmica, longe da exposição
estática, na trivialidade do dia a dia.
A trilha sonora suave ajuda a
ambientar os personagens na Paris moderna. Da mesma forma que a bela
fotografia "oxigena" os pontos turísticos e nos dá ainda mais vontade
de conhecer as ruas charmosas e a arquitetura clássica parisiense, ressaltando,
significativamente, o espírito do longa.
Repare que a mise-en-scène é
fantasticamente orgânica entre as personas do passado e do presente. Aposto que
o diretor pediu aos atores que passassem uma reação proveniente do misto de
encantamento diante de um ídolo. São hilárias as expressões faciais de espanto
e admiração de Owen Wilson quando ver, por exemplo,
que Picasso está pintando uma de suas principais obras bem na sua
frente.
Ao embarcar nessa
"viagem" mágica de Woddy Allen temos a percepção de que os
"bons tempos" não voltam mais, porém, podemos fazer valer a pena o
presente para sermos lembrados no futuro. Os tempos de hoje poderão ser a Era
dourada de amanhã.
Avaliação: 4,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 9,0.