domingo, 23 de janeiro de 2022

Dica Amazon Prime Video - MEIA-NOITE EM PARIS

 

                     

A embriagante Paris de Woody Allen.

Por Rafael Morais

Paris exala cultura e encanta os seus visitantes, principalmente os apreciadores de arte e que reconhecem os expoentes influenciadores dos mais diversos movimentos artísticos mundo afora. E é exatamente isso que acontece com Gil (Owen Wilson), roteirista de Hollywood que está passando férias com a família da noiva Inez (Rachel McAdams). Sempre que vai à Cidade Luz, Gil busca uma reconexão com a "grande arte", algo bem diferente dos enlatados encomendados que acompanham o seu cotidiano em Los Angeles. Escrever os roteiros americanos, claramente, não inspira o lado artístico do roteirista que, ao desembarcar na capital francesa, pretende terminar de escrever/revisar o seu livro, inspirado pelos ares daquele lugar.

Na verdade, o sonho do protagonista era viver nos anos 1920, quando F. Scott Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso viviam os seus ápices como artistas e homens quando circulavam em ateliês e cafés da cidade. Impossível realizar esse sonho? Para a mente inquieta e criativa de Woody Allen, não. Tudo é possível. Pois não é que Gil, não mais que de repente, para ser mais preciso, ao badalar dos sinos da meia-noite embarca nessa viagem do tempo e encontra os seus ídolos literários que sempre o inspiraram?!

Allen insere à trama um realismo fantástico para discutir a questão da valorização do artista ser mais compreendido/reconhecido longe de casa, bem como em tempos áureos de outrora. Paris parece acolher a cultura de todos e entender a arte dos incompreendidos, por isso é igualmente conhecida como uma cidade cosmopolita.

Para o cineasta, a arte não deve ser ostentada, e sim experimentada, uma vez que o personagem de Michael Sheen - amigo de Inez - dá uma de sabe tudo, e Gil, que não se identifica nem um pouco com esse tipo, logo o apelida de "pseudointelectual". Perceba que os passeios culturais, que a noiva do jovem escritor o força a realizar, são apenas momentos para que o erudito e insuportável intelectual "vomite" os seus conhecimentos. 

Conhecer e reconhecer as estátuas de Rodin, os jardins de Versalhes, para Inez, já é um turismo cultural, mesmo que pelo período da tarde ela saia com a sua mãe para fazer compras nas lojas mais caras consumindo o supérfluo. Muito embora a Cidade Luz exale cultura, esta não se absorve por osmose.

“Meia-noite em Paris” é um filme delicado, divertido e enriquecedor. Allen volta ao seu melhor estilo charmoso e elegante de filmar. Logo na abertura, somos apresentados às imagens da cidade em movimento, o cartão-postal em transformação. É o antimuseu. Aquilo que o cineasta propõe, veementemente, é colocado em prática aqui, pois a intenção é apreciar a arte em sua dinâmica, longe da exposição estática, na trivialidade do dia a dia.

A trilha sonora suave ajuda a ambientar os personagens na Paris moderna. Da mesma forma que a bela fotografia "oxigena" os pontos turísticos e nos dá ainda mais vontade de conhecer as ruas charmosas e a arquitetura clássica parisiense, ressaltando, significativamente, o espírito do longa.

Repare que a mise-en-scène é fantasticamente orgânica entre as personas do passado e do presente. Aposto que o diretor pediu aos atores que passassem uma reação proveniente do misto de encantamento diante de um ídolo. São hilárias as expressões faciais de espanto e admiração de Owen Wilson quando ver, por exemplo, que Picasso está pintando uma de suas principais obras bem na sua frente.

Ao embarcar nessa "viagem" mágica de Woddy Allen temos a percepção de que os "bons tempos" não voltam mais, porém, podemos fazer valer a pena o presente para sermos lembrados no futuro. Os tempos de hoje poderão ser a Era dourada de amanhã.

Avaliação: 4,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 9,0.


Nenhum comentário:

Postar um comentário