Por Rafael Morais
Quando foi publicada a prévia de "Rua Cloverfield 10", o mistério que envolvia a produção era notório, uma vez que o seu título carrega uma menção expressa a outro filme: "Cloverfield - Monstro". Contudo, diferente de seu antecessor, esta produção possui uma escala bem menor quando aposta em um suspense psicológico tenso e no estudo de personagens.
Na verdade, o longa funciona tão bem, e com
autonomia até os seus 10 minutos finais, que não havia necessidade de
atrelá-lo a outro, numa clara tentativa de estratégia mercadológica para levar
um público alvo que já curte aquele universo pré-estabelecido.
A história narra o conflito de
três personagens que se veem às voltas num bunker, enclausurados, por
conta de Howard (o extraordinário John Goodman), um sujeito paranoico que
constrói esta espécie de abrigo para, segundo ele, se livrar de uma suposta
guerra nuclear que assolará o mundo. A moral de Howard é questionada desde o
momento em que salva Michelle (a bela Mary Elizabeth Winstead) de um acidente
automotivo, mantendo-a em cárcere privado, insistindo que não podem sair por
conta dos efeitos nocivos das bombas.
Também conhecemos o
carismático Emmett (John Gallagher Jr.), que diferente de Michelle, quis estar
ali dentro, forçando a sua entrada. O cara acredita, piamente, em tudo que
Howard diz, sendo totalmente subserviente. Funcionando como alívio cômico,
Emmett é figura chave na trama do roteirista Damien Chazelle, uma vez que
a sua ingenuidade conduz o arco dramático para um desfecho essencial,
impulsionando a história pra frente.
Assim, o clima claustrofóbico
é bem representado não só pelo cenário fechado, conferindo vida própria a cada
ambiente - ponto para a caprichada direção de arte - como também por close-up’s
que cerram a protagonista constantemente, enquadrando-a tal qual a sua situação
naquele lugar.
Dona de diálogos afiados, a
película é tomada por uma atmosfera cada vez mais densa, tudo auxiliado por
ótimas atuações. A direção de Dan Trachtenberg, por sua vez, é competente
ao deixar o espectador na ponta da cadeira, tamanha a tensão instalada.
Com um terceiro ato que abraça o sci-fi de ação - se aproximando mais de fitas como "Guerra dos
Mundos", por exemplo - este "Rua Cloverfield 10" perde um pouco
da coragem ao desfocar da proposta de jornada pontual e do suspense intimista, quando se vê
obrigado, enquanto franquia que tenta ser, a se entregar à grandiloquência, ao
espetáculo do blockbuster. E não que isso seja de todo ruim, mas acaba caindo nas
convenções do gênero tornando a experiência com um gostinho de déjá vu.
*Avaliação: 4,5 pipocas + 4,0 rapaduras = 8,5