quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ANIVERSARIANTES MEMORÁVEIS - 22 anos de RÉQUIEM PARA UM SONHO

 

Aronofsky expõe os vícios e as fraquezas humanas, ao passo que deixa o espectador psicologicamente destruído. 

Por Rafael Morais

Réquiem significa prece pelos mortos. E é justamente isso que se traduz da película. Darren Aronofsky (roteirista e diretor) clama ao denunciar, de uma forma bem peculiar, todos os tipos de "morte". Para o cineasta, o que está em voga não é necessariamente perder uma vida, mas, sobretudo, o falecimento dos sonhos. Seja de uma juventude transviada ou da solidão de um ser, os sonhos cairão um a um. Assim, em "Réquiem Para um Sonho", os personagens pagarão caro o preço pelas escolhas e padecerão sob as fraquezas da carne e do espírito. Tudo captado pelas aguçadas lentes do cineasta e retratado em diálogos afiadíssimos.

Não é fácil assistir e "digerir" os 102 minutos desse filme. As mãos gélidas traduzem a apreensão de um pobre espectador - tão humano quanto os demais ali apresentados - esperando uma reviravolta e em busca de um final feliz. Pobre ilusão! Ao final, a sensação é de que levamos uma surra, pois presenciamos a degradação humana frente ao vício das drogas (lícitas ou ilícitas). Não há firulas, embelezamentos ou poesia. As sequências são fortes, nuas e cruas, como a vida é. O roteiro descreve diferentes formas de vícios, conduzindo os personagens ao aprisionamento em um mundo ideal, que logo será tomado e devastado pela realidade.

Na verdade, a intensa e tocante trilha sonora de Clint Mansell, interpretada por Kronos Quartet, se tornou icônica, sendo massivamente utilizada por outros filmes. A composição acrescenta à narrativa ao acompanhar os principais pontos do longa e ao criar o crescente clima de angústia. Os contornos e as nuances da música dão a entender que estamos participando de uma marcha fúnebre, onde os personagens devaneiam nas próprias esperanças.   

Inspirada no romance de Hubert Selby Jr., a trama se apresenta de forma simples, onde o ponto central está nos vícios e "pecados" da sociedade moderna, tais como: o uso de drogas (heroína ou qualquer outra), a "TV aberta", a busca insana pelos padrões de beleza, a perversidade sexual e os diversos outros fatores desencadeados pela solidão. A ganância e a inconsequência também ganham destaque neste contexto.  

A obra narra a história de Harry Goldfarb (o metódico Jared Leto), que tem a "brilhante" ideia de revender uma droga alterando sua qualidade, com a ajuda de sua namorada Marion Silver (a sempre estonteante Jennifer Connelly) e seu amigo Tyrone C. Love (o multifacetado Marlon Wayans, conhecido pelas suas comédias "mamão com açúcar"). Juntos, eles iniciam esta parceria no crime, mas as consequências deste universo se tornariam bruscas demais para o trio e quem os rodeia. 

Ponto forte para o talentosíssimo elenco em atuações marcantes, como a de Ellen Burstyn interpretando Sara Goldfarb (mãe de Harry), cujo desempenho lhe rendeu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Injustiça não ter levado a estatueta. Desaparecendo dentro de Sara, a atriz expõe a solidão de uma mulher que nada mais tem na vida a não ser assistir seu programa de TV preferido e tentar emagrecer para entrar em seu velho vestido vermelho, no qual representava o auge da sua beleza e juventude. É para isso que ela toma suas anfetaminas, deteriorando assim o que lhe resta de sanidade.

No fim, a incrível montagem - auxiliada pela memorável trilha sonora - nos envolve em uma atmosfera alucinante onde os medos e delírios são fielmente retratados, proporcionando uma experiência inesquecivelmente perturbadora. 

 Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.

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