terça-feira, 25 de janeiro de 2022

ANIVERSARIANTES MEMORÁVEIS - 05 anos de LOGAN

Por Rafael Morais

Até que enfim uma das figuras mais queridas da cultura pop ganhou uma adaptação à sua altura. “Logan” representa a digna despedida de Hugh Jackman da persona que representou por 17 anos, além de ter trazido frescor aos filmes do gênero através de uma história concentrada no minimalismo.

Depois do fraco “Wolverine Origens” e do mediano “Imortal”, a Fox resolveu apostar as fichas numa versão realista e sombria, focando no lado humano do mito, no estudo de personagens, a começar pelo próprio título. E deu muito certo!

Inserido em um universo em que os mutantes não nascem há mais de 25 anos – lembrando “Filhos da Esperança” de Alfonso Cuarón – o cansado Logan trabalha como motorista de limousine para ganhar a vida ajudando a cuidar do agora idoso e adoentado Charles Xavier (o genial Patrick Stewart).

Assim, o 1º ato é dedicado a narrar o cotidiano do protagonista, inserindo o espectador naquele ambiente desesperançoso e hostil. Todos os elementos de cena reforçam esta ideia de desilusão que o longa propõe. Repare o local onde o prostrado Xavier vive, ou melhor: passa o tempo. Se antes o líder dos “X-Men” tinha a tecnologia ao seu favor, como o “cérebro” gigante e a famosa escola para tomar conta, por exemplo, agora lhe resta as ruínas de uma fábrica, dentro de um tonel desativado para chamar de lar, onde espera a morte chegar.

A fotografia solar também sinaliza o clima árido da região desértica de El Paso, transpirando poeira na tela. O olhar sempre amargurado, banhado em vermelho, o caminhar vacilante, mancando do início ao fim, a barba grande e por fazer, bem como as diversas cicatrizes do herói contribuem para a composição perfeita do caos. Ponto também para a maquiagem, figurino e direção de arte.

Mas tudo muda com a aparição de Laura (a espetacular Dafne Keen), uma garotinha que precisa de ajuda após fugir de uma organização paramilitar. Os “carniceiros”, capangas da vez, estão por todos os lados atrás da fugitiva e não poupam quem estiver no caminho. Contudo, o roteiro de James Mangold (também diretor), Michael Green e Scott Frank não explora os membros mecânico dos inimigos como deveria, já que todos tem alguma parte do corpo formada por exoesqueleto. Tal artifício não serve aqui como arma ou empecilho nos combates. Perceba o líder Donald Pierce (vivido por Boyd Holbrook), o sujeito tem um braço de armadura biônica e nunca o utiliza para esmagar um crânio sequer. Potencial desperdiçado que poderia dar um ar de urgência ou perigo.

Entretanto, com a chegada de Laura, Xavier e Logan saem da zona de conforto e enfrentam um road movie com o objetivo de ajudar a menina. Os principais momentos do filme, fora as sensacionais sequências de ação, ficam por conta do relacionamento do trio. Os diálogos nas viagens de carro, entre outros momentos, só acrescentam. Comovente, a relação avô-pai-filho-neta, mesmo que disfuncional, conquista o espectador segurando toda a narrativa.

O arco do herói, agora com pretensões humildes, tem nos valores da família a sua principal catarse. Sensível, e juro que não esperava mencionar esse adjetivo para esse tipo de filme, “Logan” busca um meio termo entre blockbuster e alternativo ao tratar sobres temas tão espinhosos como o envelhecimento (e aí entra a demência, incapacidade...) e a morte.

Gore, a película não deixa barato o corte das afiadas garras de adamantium fazendo jorrar sangue por todos os lados. A selvageria toma conta dos combates, o que não poderia ser diferente, uma vez que Wolverine é animalesco por excelência! A violência, nem sempre gráfica, remete a filmes como “Kick Ass”, quando a Hit-Girl (X-23 aqui) chuta bundas de adultos espalhando um rastro de morte por onde passa.

Por fim, “Logan” está para a franquia cinematográfica dos “X-Men”, assim como “O Cavaleiro das Trevas” está para o Batman, parafraseando alguém que li na internet.

*Avaliação: 5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,5.

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