quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ESPECIAL OSCAR 2025 - O Brutalista

 

Por Isa Barretto

A arquitetura brutalista é marcada pela grandiosidade de suas formas, pela exposição crua dos materiais e por uma estética que impõe presença. Mais do que abrigar pessoas, ela é projetada para resistir ao tempo, independente do que se passa dentro ou ao redor de suas estruturas. No Cinema, 'O Brutalista', dirigido por Brady Corbet, adota essa mesma abordagem: uma história de ambição e sobrevivência em meio à dureza da realidade. No centro dela está László (Adrien Brody), um arquiteto húngaro que, depois da guerra, tenta reconstruir sua vida nos Estados Unidos, mas se vê esmagado por um mundo que não tem espaço para idealismos.

Só que o que começa como uma busca por um recomeço logo se torna um processo de degradação. László carrega marcas profundas dos abusos e maus-tratos que sofreu no passado, além da vergonha de lidar com tudo que ele foi – e do que está se tornando – . O homem que um dia sonhou com grandes obras agora se vê preso a um ciclo de descontrole, afundado em álcool e drogas, sem conseguir sustentar nem sua própria identidade. Quando aceita um projeto misterioso, acredita estar agarrando sua última chance de redenção, mas o que encontra é um caminho ainda mais sombrio, repleto de dilemas morais e renúncias dolorosas.

O "American Dream", tão cantado em músicas e retratado no imaginário coletivo como sinônimo de sucesso e recomeço, não passa de uma miragem para László. A promessa de uma nova vida nos Estados Unidos se dissolve diante da realidade dura e impiedosa. Ele não encontra oportunidades, mas sim barreiras. Não há acolhimento, apenas cobranças. Seu talento não basta, sua resiliência é testada a cada instante e, no fim, seu sonho de construir algo grandioso cede lugar à simples tentativa de sobreviver.

Brody entrega uma atuação brilhante, transmitindo todo o peso de um homem consumido por frustrações e arrependimentos. Seu olhar perdido, seus gestos cansados e sua voz embargada revelam um personagem que luta contra si mesmo, enquanto o mundo ao seu redor continua indiferente.

O filme, no entanto, não fala apenas sobre ele. É um retrato de tantas pessoas que, em algum momento, veem seus sonhos esmagados pela realidade. Até onde conseguimos ir sem abrir mão de quem somos? Como reagimos quando percebemos que talvez nunca sejamos aquilo que imaginamos? São perguntas sem respostas fáceis, mas que permanecem nas entrelinhas, ecoando ao longo da história e muito depois dos créditos finais.

Corbet constrói essa narrativa usando ângulos rígidos, sombras opressivas e uma trilha sonora inquietante que reforça o peso da história. Assim como a arquitetura brutalista, o filme não tenta suavizar nada – ele é duro, incômodo e nos faz sentir cada fissura na vida do protagonista.

Mais do que um drama, 'O Brutalista' é um filme que nos convida a refletir sobre a fragilidade humana diante do tempo, das escolhas e das circunstâncias. Não é uma história de redenção, mas de confronto. E, ao final, fica a pergunta: o que resta quando tudo aquilo que nos sustentava começa a ruir?

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