Algumas histórias parecem tão absurdas que a gente custa a acreditar que realmente aconteceram. 'The Nickel Boys' é uma dessas. O filme, dirigido por RaMell Ross e baseado no livro de Colson Whitehead, traz à tona um pedaço cruel da história americana, mostrando como o preconceito pode ser devastador não só para indivíduos, mas para toda uma comunidade. O mais chocante? Isso aconteceu nos Estados Unidos na mesma época em que Martin Luther King estava lutando por direitos civis. Enquanto a humanidade avançava em ciência e tecnologia, o básico—os Direitos Humanos—continuava sendo ignorado para alguns.
A narrativa, filmada em primeira pessoa, tem uma proposta interessante, mas pode causar certa confusão. Em alguns momentos, o espectador precisa se esforçar para entender em que ponto da história estamos. Talvez essa seja uma escolha proposital, para nos colocar na pele dos garotos da Nickel Academy—perdidos e sem saber o que esperar do próximo dia.
O final é um soco no estômago. Turner, um dos sobreviventes, assume a identidade de seu amigo Elwood, morto na tentativa de fuga. Esse desfecho não é só um truque narrativo, mas um símbolo da anulação de tantas vidas que poderiam ter sido diferentes. Aqueles meninos tinham sonhos e esperança, mas saíram do reformatório sem nada—quando conseguiram sair vivos. A falta de perspectiva apagou possibilidades e destruiu futuros, além de fazer com que talentos se perdessem na brutalidade do sistema.
O preconceito não afeta só indivíduos, mas toda a sociedade. O que aconteceu com os jovens negros da Nickel Academy também ocorreu, de formas diferentes, com judeus, indígenas e minorias ao redor do mundo. E não se trata apenas do passado. Ainda hoje, há grupos que continuam sendo impedidos de ter um futuro digno simplesmente por causa de sua cor, origem ou crença. O racismo, seja onde for, mina a evolução coletiva. Não adianta conquistar o espaço se ainda somos incapazes de garantir humanidade para todos.