Você já parou para pensar até onde a gente vai na tentativa de alcançar um padrão de beleza que, na real, ninguém nunca consegue atingir de verdade? "A Substância" pega essa nossa obsessão coletiva e transforma num terror visceral, daqueles que deixam a gente desconfortável do começo ao fim.
O filme segue Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma apresentadora de TV que vê sua carreira e sua aparência desmoronarem porque, aos olhos da indústria, ela simplesmente "envelheceu". A solução? Um tratamento secreto que promete juventude eterna. Só que, como qualquer "pacto com o diabo", isso tem um preço – e um bem alto.
O que Coralie Fargeat faz aqui é escancarar nossa obsessão com juventude e beleza de um jeito que beira o grotesco. A história joga na nossa cara o quanto a sociedade impõe um ideal inalcançável, especialmente para as mulheres. A cobrança é constante: seja jovem, seja perfeita, seja desejável. E se não for? Bom, você é descartável.
Visualmente, o filme trabalha com uma estética que mistura o glamour artificial com o horror visceral. O brilho exagerado dos estúdios de TV contrasta com os tons opacos e frios dos bastidores, onde Elisabeth encara sua decadência. Já nas cenas mais intensas, o vermelho toma conta da tela, criando uma atmosfera sufocante que reforça a transformação grotesca da protagonista. É como se o próprio visual do filme deixasse claro que, por trás de toda a estética polida da mídia, existe algo muito mais sombrio e destrutivo.
O terror corporal do filme amplifica exatamente essa crítica. Não é só sobre querer se encaixar no padrão, mas sobre o que a gente faz com o próprio corpo para tentar chegar lá. Cirurgias, produtos milagrosos, dietas absurdas... até que ponto estamos dispostos a nos modificar para sermos aceitos? E o mais assustador: será que, depois de tanto mudar, ainda seremos nós mesmos?
No fim, 'A Substância' não é só um filme de horror – é um espelho cruel da nossa realidade. E talvez o mais aterrorizante seja perceber que o verdadeiro monstro da história não é algo sobrenatural, mas sim essa nossa busca incessante por um ideal impossível.