Por Isa Barretto
*esta resenha contém SPOILER!
Dirigido por Robert Zemeckis e estrelado pelo talentoso Tom
Hanks, 'Aqui' se propõe a ser um drama intimista e reflexivo sobre o tempo, as
escolhas e a vida que deixamos escapar. No entanto, apesar da proposta
emocionante, o filme não consegue atingir plenamente a conexão que deseja com o
espectador.
A narrativa se desenrola em um único ambiente: a mesma sala,
filmada repetidamente sob os mesmos ângulos ao longo das décadas. Essa escolha
estética pretende reforçar a passagem do tempo e a transformação da vida dentro
daquele espaço, desde o nascimento até a morte. Contudo, o efeito acaba por
tornar a experiência visualmente repetitiva, o que pode por muitas vezes
dispersar o público.
A história acompanha a trajetória do protagonista,
interpretado por Hanks, cuja vida se desenrola dentro daquela casa.
Inicialmente rejuvenescido por inteligência artificial, vemos sua infância, sua
formação, a construção de sua família e, por fim, sua velhice. Ele é um homem
que, ao longo da vida, sempre adiou seus sonhos, protelando seus desejos e se
acomodando na rotina. Sua procrastinação o distanciou do que realmente queria,
até o momento em que sua esposa decide partir, deixando para trás a casa que simbolizava
anos de relacionamento.
Somente então, já sozinho e envelhecido, ele decide resgatar
sua verdadeira paixão: a pintura – algo que poderia ter sido uma carreira
brilhante se não tivesse sido constantemente adiada. Mas agora é tarde. Sua
esposa não deseja mais voltar. O que resta são apenas as memórias. Em um dos
raros momentos de lucidez causados pelo Alzheimer, ela relembra cenas felizes
que viveu ali, revelando que, apesar de tudo, sua vida foi mais plena do que
imaginava.
O filme nos entrega uma grande lição sobre o tempo e a
maneira como lidamos com ele. Mas a falta de expressividade em certas atuações
e a escolha de manter a câmera estática muitas vezes impedem que a emoção
alcance o espectador da maneira pretendida.
Ainda assim, a reflexão que fica é poderosa: por que nos
contentamos em ser meros coadjuvantes da nossa própria história? Por que
insistimos em viver uma felicidade inventada, quando sabemos que nosso coração,
espírito e alma precisam de algo mais?
No fim das contas, a vida segue, com ou sem nossas escolhas.
A grande questão é: vamos nos adaptar e apenas existir ou finalmente assumir o
protagonismo que sempre nos pertenceu?
Isso, sim, é algo a se pensar....