segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

NOS CINEMAS - Aqui

 

Por Isa Barretto

*esta resenha contém SPOILER!

Dirigido por Robert Zemeckis e estrelado pelo talentoso Tom Hanks, 'Aqui' se propõe a ser um drama intimista e reflexivo sobre o tempo, as escolhas e a vida que deixamos escapar. No entanto, apesar da proposta emocionante, o filme não consegue atingir plenamente a conexão que deseja com o espectador.

A narrativa se desenrola em um único ambiente: a mesma sala, filmada repetidamente sob os mesmos ângulos ao longo das décadas. Essa escolha estética pretende reforçar a passagem do tempo e a transformação da vida dentro daquele espaço, desde o nascimento até a morte. Contudo, o efeito acaba por tornar a experiência visualmente repetitiva, o que pode por muitas vezes dispersar o público.

A história acompanha a trajetória do protagonista, interpretado por Hanks, cuja vida se desenrola dentro daquela casa. Inicialmente rejuvenescido por inteligência artificial, vemos sua infância, sua formação, a construção de sua família e, por fim, sua velhice. Ele é um homem que, ao longo da vida, sempre adiou seus sonhos, protelando seus desejos e se acomodando na rotina. Sua procrastinação o distanciou do que realmente queria, até o momento em que sua esposa decide partir, deixando para trás a casa que simbolizava anos de relacionamento.

Somente então, já sozinho e envelhecido, ele decide resgatar sua verdadeira paixão: a pintura – algo que poderia ter sido uma carreira brilhante se não tivesse sido constantemente adiada. Mas agora é tarde. Sua esposa não deseja mais voltar. O que resta são apenas as memórias. Em um dos raros momentos de lucidez causados pelo Alzheimer, ela relembra cenas felizes que viveu ali, revelando que, apesar de tudo, sua vida foi mais plena do que imaginava.

O filme nos entrega uma grande lição sobre o tempo e a maneira como lidamos com ele. Mas a falta de expressividade em certas atuações e a escolha de manter a câmera estática muitas vezes impedem que a emoção alcance o espectador da maneira pretendida.

Ainda assim, a reflexão que fica é poderosa: por que nos contentamos em ser meros coadjuvantes da nossa própria história? Por que insistimos em viver uma felicidade inventada, quando sabemos que nosso coração, espírito e alma precisam de algo mais?

No fim das contas, a vida segue, com ou sem nossas escolhas. A grande questão é: vamos nos adaptar e apenas existir ou finalmente assumir o protagonismo que sempre nos pertenceu?

Isso, sim, é algo a se pensar....


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