domingo, 2 de março de 2025

ESPECIAL OSCAR 2025 - Um Completo Desconhecido

 

Por Isa Barretto

"Um Completo Desconhecido", dirigido com maestria por James Mangold, é mais do que uma cinebiografia; é uma jornada pela alma inquieta de Bob Dylan, o artista que nunca quis ser colocado em uma "caixa". O filme vai além da superfície ao retratar um jovem cuja voz e identidade estavam sempre em movimento, desafiando rótulos e expectativas.

Timothée Chalamet entrega uma performance impressionante, capturando a essência de Dylan em cada gesto e silêncio. Sua atuação vai além da simples imitação; ele incorpora o espírito livre e indomável de alguém que, como em "Blowin' in the Wind", entendia que as respostas estavam sempre ao vento, jamais fixas. Chalamet transmite essa sensação de constante transformação, onde o personagem não se limita a ser apenas um cantor folk ou um porta-voz de geração.

A direção de Mangold complementa essa entrega com uma sensibilidade notável. A câmera não apenas segue o protagonista, mas ela o observa de perto, como se registrasse cada instante de suas batalhas internas para se manter fiel a si mesmo. O filme não busca oferecer respostas prontas ou definir o protagonista de maneira única. Pelo contrário, celebra o mistério e o enigma que ele sempre foi.

Um dos maiores méritos do longa é mostrar a coragem de Dylan ao romper com o movimento folk tradicional. A cena da performance elétrica no Newport Folk Festival é um ponto alto, não pela polêmica em si, mas pela mensagem poderosa: Dylan nunca foi um artista de seguir regras. Sua transição para o rock não foi uma traição, mas uma declaração de independência artística. Em várias entrevistas, Dylan fez questão de dizer que não era uma cantor folk, apenas o rotularam assim, e essa autenticidade é o que o filme capta tão bem.

A música, mais do que trilha sonora, é a espinha dorsal da narrativa. Cada canção se apresenta quase como um diálogo interno, trazendo à tona os medos, as dúvidas e o desejo incessante de se reinventar. As letras de "Like a Rolling Stone" parecem ecoar na jornada do protagonista, onde a falta de direção não é um problema, mas uma escolha consciente de quem se recusa a ser definido por outros.

"The times they are a-changin'", "Os tempos estão mudando"...e o filme celebra essa mudança com coragem. Na vulnerabilidade do protagonista, o público encontra inspiração e a lembrança de que, às vezes, ser um completo desconhecido para o mundo é o primeiro passo para se tornar verdadeiramente autêntico. Afinal, como Dylan sempre mostrou: o importante não é se encaixar, mas continuar fiel ao som único de sua própria voz.

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