Sequência direta de "Jurassic World: Reino
Ameaçado" (de 2018), a história da vez acompanha quatro anos após a
destruição da Ilha Nublar. Agora, os dinossauros vivem, caçam, são caçados e
sobrevivem ao lado de humanos em todo o mundo. Consequência disso é o iminente
desastre biológico e ambiental dessa convivência forçada, uma vez que nem todos
os répteis conseguem coexistir em harmonia com a espécie humana, e vice-versa.
Esse desequilíbrio poderá colocar o futuro em cheque. Com esta cadeia alimentar
em desordem, os maiores predadores do planeta estão destronando outros num
ciclo caótico.
Lendo assim parece o enredo perfeito. Só aparenta.
As ideias e o potencial do argumento são totalmente
descartados durante o desenrolar dos atos. É um típico blockbuster
enlatado daqueles sem alma, sem identidade, que o melhor dele já está no
trailer. A propósito, a prévia separa as melhores cenas. É aquele famoso caso
do trailer ser infinitamente melhor que o filme. Sabe aquela redação que começa
bem, mas que não se desenvolve e chega até a fugir de tema?! Pois é, aqui em
"Jurassic World Domínio" é mais ou menos isso que acontece: uma
produção realizada de qualquer jeito que arremessa ideias, planta conceitos,
mas que acaba colhendo piadas mal construídas, falta de timming cômico e
de desenvolvimento de diálogos minimamente críveis, já que pedir capricho seria
demais.
Nem as famosas cenas de ação escapam, marca registrada da
recente franquia. Tudo é muito confuso: a geografia da misancene
simplesmente não existe; é uma edição mal renderizada, uma película
pessimamente finalizada e coreografada de forma desleixada. Sem contar que o
desenho de som é estrondoso ao ponto de distorcer ao invés de equalizar.
Zuadento é diferente de impactante.
Apelar para o trio original formado pelos ótimos Laura Dern
(Dra. Ellie Satler), Sam Neil (Dr. Alan Grant) e Jeff Goldblum (Dr. Ian Malcom)
não foi suficiente. Pelo contrário. Mal aproveitados, os personagens apenas
desbloqueiam a nostalgia barata no espectador. E nada mais. Dar vergonha alheia
as linhas de diálogos entre eles, por sinal. Por vezes, são mais rasos que uma
poça d'água causada por uma neblina. É preguiçoso! Não deu química, não deu
match!
A franquia anunciou o seu fim, felizmente, e ficou fácil
perceber a saturação da saga. Nem sombra do que foi o clássico de 1998.
Spielberg assistiu isso, será?! O diretor Colin Trevorrow demonstra ser fã do
original, mas isso não é suficiente.
O que escapa, então, para não dizer que esse novo
episódio foi um completo desastre? Alguns enquadramentos são bem captados e
retratam essa tentativa de convívio dos dinossauros com os homens aqui na
Terra. Cavalos correndo contra o sol sempre é bonito de se ver. Outro ponto
positivo fica pra única cena de suspense do filme, onde Claire (Bryce Dallas
Howard) se arrasta na mata para não ser trucidada por um dino esquisitíssimo,
visual ameaçador de um novo tipo de predador. Inventividade não falta no
quesito visual, temos que concordar com isso.
Ao final, o que mais assusta não são os maiores predadores do
universo, que precisam se reinventar a cada episódio, mas sim as facilitações
de um roteiro pobre de conteúdo e de espírito que nem sequer consegue
harmonizar a introdução com o desfecho. Lamentável a série "O Parque dos
Dinossauros" terminar de forma tão genérica, totalmente no piloto
automático.
* Avaliação: 1,5 Pipocas + 1,5 Rapaduras = 3,0.