quinta-feira, 23 de junho de 2022

Dica Disney Plus – DIVERTIDA MENTE


Por Rafael Morais

Em “Divertida Mente”, a Pixar consegue se reerguer após os seus recentes fracassos de crítica: “Carros 2” e “Universidade Monstros”. Para isso, Peter Docter (criador de Up – Altas Aventuras e Monstros S.A), ficou a cargo da direção e roteiro dessa mais ambiciosa animação já produzida pelo estúdio. Se levarmos em conta os conceitos utilizados no filme, bem como a abordagem e construção temática, sem dúvida estamos falando da mais audaciosa produção da Pixar.

Tudo começa com o nascimento da garotinha Riley, personagem que iremos acompanhar de perto, literalmente, já que na sua sala de comando (cérebro) seremos apresentados a: Alegria, Raiva, Nojinho (poderia ser chamada de preconceito), Medo e Tristeza, emoções que passam a fazer parte da vida daquela cativante menina. Portanto, dentre esses sentimentos, quem lidera é a Alegria, que se esforça sobremaneira para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz.

Contudo, aos 11 anos de idade, pré-adolescente, a protagonista tem que enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. A trama e os seus conflitos têm início após uma confusão na “sala de controle”, fazendo com que a Alegria e a Tristeza sejam expelidas para fora do comando. A partir de então, o espectador é transportado à imensidão efervescente que é a mente de um ser humano, sobretudo em formação, que é o caso de Riley.

A criatividade dos roteiristas, por sua vez, não tem limites quando a Alegria e a Tristeza percorrem as várias “ilhas” existentes nos pensamentos de Riley, no intuito de retornarem à sala de controle resgatando as memórias-base perdidas no incidente, e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente.

O filme, neste prisma, ganha contornos de road movie, quando as emoções vão conhecendo outros personagens durante a jornada, habitantes daquele universo fantástico e personificado, todos carismáticos e essenciais à narrativa. Interessante perceber também como o filme aborda questões complexas de maneira simples e poética. Desta forma, colocar todas as emoções em pé de igualdade e importância demonstra certa maturidade, mesmo que para isso o emprego de metáforas e personificações seja livremente imaginativo, agradando tanto o público adulto quanto o infantil: outra característica marcante na filmografia da Pixar. Será que o Studio Ghibli deixou sua marca e ensinamento aqui?!

De certo é que, às vezes, abraçar o caos é essencial para se sobressair de uma crise. E nesse ponto o filme dialoga com a atual situação da empresa, que em recente entrevista do produtor Jonas Rivera admitiu, diante da inércia de boas ideias e projetos originais, uma pequena crise interna. No entanto, se após a tempestade há sempre a bonança, para o bem do equilíbrio, sabemos que a tristeza é tão essencial quanto a alegria - e o desfecho do longa perpassa por essa questão - a arte imitou a vida e assim se fez “Divertida Mente”.

Vale notar, igualmente, que as animações da premiada empresa, como de costume, conseguem emocionar o público sem nunca ser piegas ou apelativa. Já virou tradição, e aqui não foi diferente. A delicadeza com que as cenas mais dramáticas são construídas se harmoniza com a caprichada direção de arte e design, marcando o tom da projeção. Não menos fantástico é o uso das cores vibrantes para os cenários quentes e alegres, assim como as respectivas personas, contrastando com a paleta gélida, por vezes acinzentada, inserida em situações de desânimo, por exemplo.

Aliás, conceitos como consciente, subconsciente, depressão, sonhos e comportamento, de maneira geral, são extremamente bem desenvolvidos, ao ponto de me fazer acreditar que esta animação será obrigatoriamente exibida em grades de cursos de psicologia, sobretudo a infantil. A propósito, para quem aprecia Cinema esta é uma obra indispensável, independente de qual área você atue, já que a Pixar costuma falar sobre temas universais que transitam entre o existencial e o filosófico. E o que seria ”Divertida Mente” senão uma viagem pelo interior de um ser humano e sua complexidade?

*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10

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