quinta-feira, 30 de junho de 2022

Dica Disney Plus - THOR


Por Rafael Morais
A magia chega ao Universo da Marvel nos Cinemas

* resenha escrita em maio de 2011

Confesso que nunca li nenhum gibi da Marvel, porém assisti a todas as adaptações cinematográficas já lançadas pelo Marvel Studios. Por isso, entendo que Thor é o maior desafio enfrentado pelo estúdio, tanto pelo universo fantástico (super-herói mitológico), quanto pelo desapego aos heróis geneticamente modificados.

Já estava passando da hora de chegar às telonas um filme de super-herói com contornos imaginativos e fantasiosos, já que, cada vez mais, um suposto "realismo" toma conta dessas histórias. Até agora, as produções da Marvel, principalmente os dois “Homem de Ferro” e “Hulk”, são aventuras embasadas na ciência. Nesse contexto, Thor se insere como um divisor de águas, pois o ávido público desse gênero agora é apresentado a outros planos de existência/vida.  

No longa, somos "transportados" a outro planeta - Asgard - e apresentados aos asgardianos, seres imortais de outra dimensão, que, ao revelarem-se aos vikings, foram confundidos com deuses, iniciando a mitologia nórdica. Thor - vivido pelo inspirado Chris Hemsworth - é um jovem príncipe desse povo, que anseia pelo trono/poder desde a sua infância. Contudo, o excesso de vontade do guerreiro desencadeia uma série de graves consequências para o reino, uma vez que a sua arrogância e impetuosidade são igualmente proporcionais a sua competência em batalhas.  Somado à sua teimosia, tudo resulta em uma nova guerra contra os Gigantes do Gelo, liderados pelo Rei Laufey (Colm Feore). O Deus do Trovão acaba banido para a Terra por seu pai, Odin - interpretado com maestria por Anthony Hopkins - precisando, assim, aprender lições de humildade se quiser retornar e tornar-se digno de erguer o seu martelo Mjolnir e com ele o seu poder imortal.

As sequências aqui na Terra são aquém das expectativas, com exceção da luta com o Destruidor. Tudo é muito atropelado, literalmente. O encontro do Deus banido com os humanos: Jane Foster (Natalie Portman), Dr. Selvig (Stellan Skarsgard) e Darcy (Kat Dennings) é algo muito forçado, dando a impressão de que não se deu por força do destino, e sim por fragilidade do roteiro. Aliás, a atriz "oscarizada" poderia ter sido substituída por qualquer outra, sem prejuízo nenhum ao filme. Desnecessária, assim como a personagem Darcy que força algumas piadas sem graça.

Por outro lado, a construção do mundo asgardiano e os seus efeitos visuais enchem os olhos, assim como a cultura desse povo.  Os figurinos, o design da cidade, a iluminação e as cores são impressionantes. Segundo os fissurados em HQ's, Asgard nunca foi tão fielmente retratada no papel ou fora dele. No entanto, o 3D pouco acrescenta ao filme, já que foi filmado com câmeras normais e depois convertido para essa tecnologia. O processo de conversão ainda não tem o grau de perfeição das filmagens em câmeras especiais 3D (Avatar, Resident Evil, Santuário). Os custos para essa finalidade ainda são altíssimos, fazendo com que os diretores optem por rodar o filme em 2D e nos estúdios fazerem a conversão. James Cameron é a exceção, o cara desenvolveu a tecnologia e ainda detém as câmeras. 

Mas é Tom Hiddleston, o Loki, quem surpreende positivamente, o talentoso ator entrega ao diretor Branagh uma relação "shakespereana" bem convincente entre irmãos, pai e filhos.

Interessantes são as diferentes referências encontradas no Universo Marvel em seus filmes. No caso de Thor, há uma breve participação do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), passando pela menção a Bruce Banner, o Hulk, deixando assim, tudo pronto para o filme que virá de Os Vingadores, incluindo as reveladoras cenas pós-créditos.

 *Avaliação: 4,5 Pipocas + 3,5 Rapaduras = 8,0.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Dica Netflix - IT FOLLOWS (Corrente do Mal)


Por Rafael Morais

Em “It Follows” (aqui estranhamente e genericamente traduzido para “Corrente do Mal”), o diretor David Robert Mitchell se apropria de metáforas e simbolismos para criar um filme de terror sui generis. Imagine que algo assombroso está rondando uma turma de jovens e uma espécie de maldição está circulando entre eles. Mas esse subtexto não seria uma novidade para o gênero, caso não envolvesse a temática sexual e as suas consequências, como a repressão e a culpa, por exemplo.

É bem verdade que nos slasher movies de outrora, as primeiras vítimas escolhidas pelo psicopata sempre recaía sobre aquele casal que se retirava mais cedo para “dormir”. Perdi a conta de quantas vezes assisti a Jason (em sexta-feira 13) “atrapalhar” um ato sexual com uma facada atravessando as entranhas de quem estava praticando. Mas o Cinema indie de terror, atualmente, aborda este tema, ainda tão intocado por algumas famílias, revelando uma sociedade que prefere fazer vista grossa aos filhos, que crescem, inevitavelmente, sem prepará-los para a iminente explosão de hormônios que os tomará.

E não é à toa que Jay (vivida pela atriz Maika Monroe com uma performance sensualmente inocente), a jovem protagonista de 19 anos, revela apenas às amigas, no máximo à sua irmã, que está prestes a perder a virgindade com Hugh, o seu novo namorado. O que ela não sabia, entretanto, era que após o enlace sexual passaria a ser perturbada por entidades malignas, maldição essa transmitida pelo seu namorado através do próprio ato. Se por um lado, os jovens estão descobrindo o sexo, o corpo e os prazeres, no auge da puberdade - e isso é invocado quando Jay se olha no espelho e se admira, num ritual um tanto narcisista, típico dessa idade, além de se tocar constantemente, contemplando a descoberta do novo, do "proibido" - por outro lado, temos o peso de uma culpa por se permitir praticar sexo, algo tão reprimido e julgado por seus pais.

Assim, fica fácil perceber que os "fantasmas" que os perseguem assumem diferentes formas humanas, de preferência com a fisionomia de seus genitores e/ou antecessores. Ou seria uma mera coincidência o fato de algumas entidades representarem a forma da figura paterna de uma das personagens, ao julgar e atirar, literalmente, raiva, decepção e repressão contra suas presas fáceis?!

Revelando uma boa base de referências cinematográficas, Mitchell se vale de Wes Craven, em "A Hora do Pesadelo", ao apresentar ruas ao ermo e os perturbados jovens de Detroit, lembrando a dinâmica de Elm Street e a sua juventude impedida de sonhar. Outra notória referência vem de John Carpenter, o mestre do horror, quando o diretor brinca de quem é quem, ao inserir figurantes ao fundo, extraquadro, que de repente podem se transformar em inimigos/vilões em potencial, como se nada passasse despercebido das lentes do diretor. Câmera esta que prefere os cortes lentos, com raccords de tempo contemplativos, utilizando os travellings em 360°, inteligentemente, auxiliando à linguagem narrativa do filme, quando mostra ao espectador que o perigo pode chegar de qualquer lado.

Não menos inovadora e corajosa é a fotografia escolhida para a fita. Observe que a paleta colorida e solar destoa da escuridão costumeiramente escolhida nos filmes de terror convencionais, e uma das principais sequências do filme acontece em plena luz do dia, quando menos se espera. Se bem que para a ameaça se aproximar, bastava algum olhar mais quente capaz de aflorar um desejo entre os personagens, corroborando com a nossa tese da repressão sexual.

Por outro prisma, o ponto baixo da produção fica por conta da personificação destas ameaças em forma humana, fugindo do plano metafísico para o físico, propriamente dito, já que os “fantasmas” podem ser acertados por objetos, socos e até tiros de revólver. E aí vem o pior, talvez na ânsia de tornar o produto em mãos algo mais palatável ao grande público, o diretor torna os seus vilões passíveis de tomar um tiro na cabeça, guardando nesta região o seu ponto fraco e “vital”. Alguém aí se lembrou dos mortos-vivos, de Romero a Walkind Dead, ou só eu mesmo? Talvez neste quesito o filme tire o espectador mais saudosista do foco, pois, em outros exemplares do gênero, um espírito ou entidade jamais seria acertado por algum objeto, com exceção de Ghost, é claro rsrsrs.

Contudo, merece destaque a caprichada direção de arte que nos remete à década de 70 ao inserir aparelhos de TV’s antigos, quadros e pôsteres da época. Tudo isso é ajudado com a intensa trilha sonora à base de sintetizadores monofônicos que, apesar de simples, passam um ar vintage. Porém, uma das personagens, amiga de Jay, utiliza um aparelho anacrônico para a época sugerida, uma espécie de leitor de e-book, ou tablet, em formato de maquiagem, que também serve como lanterna, acredite, objeto dotado de tecnologia impensável para aquele momento. Ora, daí extrai-se uma leitura no sentido de acreditar que aquela personagem, além de alívio cômico, está à frente do seu tempo. Em momento algum ela se transforma em alvo, se distanciando da persona feminina de suas amigas, românticas e ainda inocentes.

E nesse quesito, é emocionante perceber a romantização de Jay após a perda de sua virgindade, ao recitar, quase que poeticamente, os seus sonhos e ideais de um amor puro, como caminhar de mãos dadas com o namorado em uma tarde de outono. E o desfecho do filme, sensivelmente, nos remete a esse momento. Na verdade, o filme também dialoga com o perigo das relações desprotegidas e a proliferação das DST's (doenças sexualmente transmissíveis).

Desse modo, aquela garota que ilumina a vida de seus amigos com sua poderosa maquiagem multiuso, deslocada em seu tempo, destoando dos demais, já parece saber que, em um futuro próximo, a prevenção seria o melhor remédio para não sermos perseguidos por "monstros", sejam eles frutos da sociedade, implacavelmente hipócrita e julgadora, da promiscuidade ou da nossa própria culpa.

* Avaliação: 4,5 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 9,0.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Dica Disney Plus – DIVERTIDA MENTE


Por Rafael Morais

Em “Divertida Mente”, a Pixar consegue se reerguer após os seus recentes fracassos de crítica: “Carros 2” e “Universidade Monstros”. Para isso, Peter Docter (criador de Up – Altas Aventuras e Monstros S.A), ficou a cargo da direção e roteiro dessa mais ambiciosa animação já produzida pelo estúdio. Se levarmos em conta os conceitos utilizados no filme, bem como a abordagem e construção temática, sem dúvida estamos falando da mais audaciosa produção da Pixar.

Tudo começa com o nascimento da garotinha Riley, personagem que iremos acompanhar de perto, literalmente, já que na sua sala de comando (cérebro) seremos apresentados a: Alegria, Raiva, Nojinho (poderia ser chamada de preconceito), Medo e Tristeza, emoções que passam a fazer parte da vida daquela cativante menina. Portanto, dentre esses sentimentos, quem lidera é a Alegria, que se esforça sobremaneira para fazer com que a vida de Riley seja sempre feliz.

Contudo, aos 11 anos de idade, pré-adolescente, a protagonista tem que enfrentar mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal, no estado de Minnesota, para viver em San Francisco. A trama e os seus conflitos têm início após uma confusão na “sala de controle”, fazendo com que a Alegria e a Tristeza sejam expelidas para fora do comando. A partir de então, o espectador é transportado à imensidão efervescente que é a mente de um ser humano, sobretudo em formação, que é o caso de Riley.

A criatividade dos roteiristas, por sua vez, não tem limites quando a Alegria e a Tristeza percorrem as várias “ilhas” existentes nos pensamentos de Riley, no intuito de retornarem à sala de controle resgatando as memórias-base perdidas no incidente, e, enquanto isto não acontece, a vida da garota muda radicalmente.

O filme, neste prisma, ganha contornos de road movie, quando as emoções vão conhecendo outros personagens durante a jornada, habitantes daquele universo fantástico e personificado, todos carismáticos e essenciais à narrativa. Interessante perceber também como o filme aborda questões complexas de maneira simples e poética. Desta forma, colocar todas as emoções em pé de igualdade e importância demonstra certa maturidade, mesmo que para isso o emprego de metáforas e personificações seja livremente imaginativo, agradando tanto o público adulto quanto o infantil: outra característica marcante na filmografia da Pixar. Será que o Studio Ghibli deixou sua marca e ensinamento aqui?!

De certo é que, às vezes, abraçar o caos é essencial para se sobressair de uma crise. E nesse ponto o filme dialoga com a atual situação da empresa, que em recente entrevista do produtor Jonas Rivera admitiu, diante da inércia de boas ideias e projetos originais, uma pequena crise interna. No entanto, se após a tempestade há sempre a bonança, para o bem do equilíbrio, sabemos que a tristeza é tão essencial quanto a alegria - e o desfecho do longa perpassa por essa questão - a arte imitou a vida e assim se fez “Divertida Mente”.

Vale notar, igualmente, que as animações da premiada empresa, como de costume, conseguem emocionar o público sem nunca ser piegas ou apelativa. Já virou tradição, e aqui não foi diferente. A delicadeza com que as cenas mais dramáticas são construídas se harmoniza com a caprichada direção de arte e design, marcando o tom da projeção. Não menos fantástico é o uso das cores vibrantes para os cenários quentes e alegres, assim como as respectivas personas, contrastando com a paleta gélida, por vezes acinzentada, inserida em situações de desânimo, por exemplo.

Aliás, conceitos como consciente, subconsciente, depressão, sonhos e comportamento, de maneira geral, são extremamente bem desenvolvidos, ao ponto de me fazer acreditar que esta animação será obrigatoriamente exibida em grades de cursos de psicologia, sobretudo a infantil. A propósito, para quem aprecia Cinema esta é uma obra indispensável, independente de qual área você atue, já que a Pixar costuma falar sobre temas universais que transitam entre o existencial e o filosófico. E o que seria ”Divertida Mente” senão uma viagem pelo interior de um ser humano e sua complexidade?

*Avaliação: 5,0 pipocas + 5,0 rapaduras = nota 10

terça-feira, 21 de junho de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 28 anos de O CARTEIRO E O POETA


Por Rafael Morais

As palavras têm o poder transformador.

Mario Ruoppolo (Massimo Troisi) é um cidadão comum de uma pequena ilha na costa italiana, filho de pescadores. Um homem tímido e simplório que vê o seu destino mudar, arrebatadoramente, depois que o grande poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) então exilado político do Chile - se abriga naquele remoto e belo lugar.

O encontro dos dois acontece após Mario assumir para o seu pai que a vida de pescador não seria o seu legado, revelando, inclusive, ter alergia às embarcações. Mas essa suposta "alergia" deve ser entendida no sentido lato, uma vez que o pacato homem se inquietava diante da sua realidade e do que realmente ele era.

Diante desse quadro, surge, ao jovem italiano, a oportunidade de ser carteiro particular de Pablo Neruda. Entre cartas e correspondências, a inusitada amizade entre os dois foi se estreitando. Porém, o interesse primordial do carteiro era tornar o poeta o seu mentor e cupido a fim de conquistar o coração de uma donzela. A cena do bar é sensacional e representa bem o peso de ser amigo de um poeta como Neruda.

Com isso, está armada a carpintaria cômico-romântica que o filme propõe em seu primeiro e segundo ato. As cenas em que o carteiro descobre, aos poucos, o sentido das palavras, as metáforas da vida e o enxergar das pequenas coisas, são poéticas e tocantes. Aliás, o filme é poético até o último frame.  

Perceba que o afloramento e a descoberta da poesia na vida de Mario são estimulados pelo nobre amigo, mas, sobretudo, emergem naturalmente, como o vaivém das ondas e a troca de olhares apaixonados. Os meios dialéticos - Sócrates e Platão - são a base para o amadurecimento dos personagens. Repare nos diálogos filosóficos, cujas respostas pouco acrescentam ao debate, e os questionamentos é que são imprescindíveis para o progresso, contribuindo, sobremaneira, à fluidez narrativa da trama.

A fotografia e a trilha sonora (ganhadora do Oscar), por sua vez, são um espetáculo à parte, uma vez que conseguem retratar fielmente as belas locações e o espírito do script. A cena em que Neruda dança com a sua esposa, no meio da sala, ao som de uma inspiradora canção é de uma beleza sem igual, tendo como testemunhas os penhascos e as montanhas ao fundo. 

Ao fim, perceber a evolução de Mario durante o longa é algo grandioso. E para conseguir tal feito, o soberbo trabalho do ator Massimo Troisi foi fundamental. Do início caricaturesco, ao final amadurecido, Troisi entrega um carteiro-poeta dotado de um carisma sem igual. "...a mulher dele o chama de amor!", revela Mario ao seu amigo, depois de deixar mais uma correspondência a Neruda. Ao demonstrar consternação com esse tipo de comentário, o jovem aprendiz de poeta revela por que não tem tanta sorte com as mulheres. E não se engane com o arco do personagem, pois, já afeito às palavras e o poder que emana delas, o mesmo "ignorante-romântico" galanteia a sua amada, dizendo: "Teu sorriso se espalha feito borboleta". Também, com o professor que ele tinha, ficou fácil!

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Dica de Streaming - IT: A COISA

Por Rafael Morais

Um grupo de jovens é atormentado por uma entidade maligna, representada por diversas formas, guardando na figura do palhaço dançarino Pennywise a sua principal representação. Ancorado nesta premissa, este remake de "Uma obra-prima do medo", de 1990, se revela necessário tanto pelas questões técnicas (efeitos visuais aperfeiçoados, maquiagem caprichada e direção de arte impecável) quanto pelo valioso subtexto abordado, tão em voga atualmente: o bullying sofrido pelos heróis e a representatividade das minorias, através das diferentes raças, credos e culturas do clube dos "perdedores".

Na verdade, o roteiro escrito por Gary Dauberman, Chase Palmer e Cary Fukunaga conseguiu captar o espírito do livro de Stephen King ao estabelecer uma química entre os membros do grupo ao passo que expõe, gradualmente, as limitações e problemáticas de cada um. Repleto de alegorias sobre a difícil fase “mutante” que é a adolescência, o filme, de maneira proposital, desfoca a visão do adulto como um ser implacável com as suas crianças, além de alienados ao que está acontecendo à sua volta. E aqui, o Cinema sob o ponto de vista freudiano pesa a mão nas relações pais e filhos. "It - A Coisa" é focado exclusivamente sob a perspectiva do universo infanto-juvenil, em que pese a atmosfera de terror que toma a película.

Assim, o diretor Andy Muschietti captura cenas icônicas de uma juventude em constante transformação por meio de tomadas que evocam a amizade, os desafios e a maturidade precoce. Lembrando "Conta Comigo", também de King, neste aspecto - quando caminham pela floresta, andam de bicicleta pelas ruas e tramam planos mirabolantes - o cineasta tem ótimas e certeiras referências. E "A Hora do Pesadelo" de Wes Craven também é uma delas. Perceba o tom onírico das sequências de assombração que remetem àquelas situações em que Freddy Krueger escolhia sua presa, sempre solitária e indefesa. Contudo, se lá soava orgânico o fato de a vítima estar dormindo, e, portanto, havia uma lógica para o pesadelo ser um evento individual e descolado da realidade; aqui em "It" cada sequência de terror parece um videoclipe à parte, o que não ajuda na construção do todo, na misancene, podendo transparecer um viés episódico ao longa, situação que o Cinema evita a todo custo.

Isso também acontece graças ao terror estilosamente gráfico. Esqueça o medo psicológico ou intimista, aqui o gore rola solto e o monstro apresenta suas garras, literalmente. O suspense não andou lado a lado com o terror, aniquilando a preparação para o “sentir medo”. E por falar em medo, como a entidade nefasta se alimenta dele, é curioso notarmos a inventividade da direção de arte em criar lugares e figuras macabras para cada tipo de situação. Esgotos, escolas, quartos e porões fazem parte do imaginário popular, dos contos sombrios, fato não esquecido pelo script, muito menos pelo olhar apurado do diretor. Neste sentido, adaptando-se individualmente a cada tipo de fobia, variando de acordo com o personagem, chove criatividade em tela, como por exemplo: o leproso que assombra uma criança hipocondríaca; os traumas de uma tragédia do passado que voltam à tona no presente; o ciclo menstrual de uma garota entrando na puberdade (e a cena do banheiro é uma das minhas favoritas), que enfrenta o preconceito da sociedade dentro e fora de casa, apenas por ser mulher; e claro, o medo de palhaço. E assim chegamos a Pennywise.

Interpretado com maestria por Bill Skargard, o palhaço é freaky na medida, além de carregar nas expressões corporais e faciais um trunfo para a composição perfeita de um ser macabro. Entregando doçura para atrair uma criança e insanidade para fazê-la sentir medo, no mesmo quadro, como uma entidade sempre prestes a explodir, Pennywise parece estar onipresente tanto fisicamente, quanto em cada ato eivado de maldade. Note o balãozinho vermelho (a cor do perigo) que passeia perto de um personagem que acabara de praticar o mal ou omitir uma ajuda, como na sequência em que uma criança obesa é gravemente agredida por seus perseguidores, fato presenciado por um casal de senhores que passa de carro no momento e nada faz para ajudar a indefesa vítima. Desta forma, o símbolo surge no banco de trás do carro indicando que a figura de um clow é apenas uma das formas de malignidade.

O elenco mirim, por sua vez, é carismático e talentoso ao ponto de Amblin nenhuma botar defeito. E quando me refiro à empresa responsável por um dos melhores filmes de aventura dos anos 80 não é à toa. A película nos mergulha nesta época, flertando com o jeitão datado de um cine trash ou sessão da tarde (“Os Goonies” estão ali), ocasião em que a nostalgia nos pega de jeito. Spielberg que o diga...

Divertido mais do que aterrorizante, o longa deixa um gostinho de quero mais, muito embora tenha duas horas e quinze minutos de duração. De tal modo, até a fotografia solar explicita o tom aventuresco em detrimento do terror, uma vez que a maioria das cenas se passa à luz do sol, durante o verão, sem se preocupar com a mudança para uma possível paleta mais dark ou ambientes escuros.

Enfim, preparando terreno para a vindoura parte II (e não foi preciso esperar mais 27 anos para assistir à continuação, apesar desta data ser uma referência direta aos acontecimentos do filme), o desfecho amarra as pontas soltas, se é que tinha alguma, e cria expectativa para o que pode vir no futuro, uma vez que o medo não é privilégio apenas de crianças, muito pelo contrário.

E você, tem medo de quê?

*Avaliação: 5,0 pipocas + 4,0 rapaduras = nota 9,0

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 70 anos de A MONTANHA DOS SETE ABUTRES


Por Rafael Morais

Atemporal, obra-prima de Billy Wilder discute o jornalismo circense.

É muito difícil se comprometer com a verdade? Creio que sim, e para algumas profissões essa tarefa é ainda mais árdua. O meio jornalístico, por exemplo, precisa da notícia para existir. Porém, muitas vezes, a história surge de uma forma e é comunicada de outra, um tanto quanto mais afetada, sensacionalista e, por conseguinte, vendável. Tudo em nome da audiência, dos números e do lucro. Quem nunca exclamou isso ao assistir um telejornal: "Deus me livre, esse jornal só tem notícia ruim!" Claro, a informação quanto mais apelativa e nefasta, mais se vende.

A notícia deveria ser passada de maneira imparcial, guardando na figura do jornalista um elemento neutro que apenas informa a realidade dos fatos. Acredito que a partir do momento em que a história é alterada por alguma ação desse profissional, a informação já não é mais a mesma, passa a ser eivada de vícios, e, consequentemente, deturpada.

É nesse contexto que o cineasta Billy Wilder, dono de um currículo invejável (Crepúsculo dos Deuses (1950) O Pecado Mora ao Lado (1955), Quanto Mais Quente Melhor (1959), Inferno nº 17 (1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957) e Se Meu Apartamento Falasse, entre outros), oferece a sua visão nua e crua acerca desse mundo sorrateiro e falseado. 

O longa narra a história de Chuck Tatum (Kirk Douglas), um jornalista arrogante e inescrupuloso que ao perder o emprego em diversos jornais de grande circulação, se vê sem rumo, com a sua carreira em franca decadência. Até que o destino o guia até uma pacata cidade do Novo México, onde arruma um emprego em um jornal discreto e correto, ao ponto de uma placa, dentro do escritório, já apresentar a filosofia de trabalho do pequeno jornal: "Diga a Verdade", dizia a mensagem. Máxima inconcebível para aquele profissional.   

A ideia é que esse trabalho seria temporário, porém, o inquieto jornalista percebe que o tempo está passando e sua vida caiu na mesmice e no anonimato. Até que, para a infelicidade de um, e a alegria de tantos, um minerador (Richard Benedict) é soterrado em uma montanha próxima dali.

Assim, Tatum vê a oportunidade que precisava para voltar aos holofotes: dramatizar e explorar, até não poder mais, a história daquele homem, mesmo que para isso tenha que colocar em risco a vida dele e subornar quem for preciso para manter a exclusividade da coisa, entre xerifes e esposas. Inclusive, a esposa do desafortunado minerador, gananciosa ao extremo, é uma das figuras mais repulsivas do filme, pois, desiste da ideia de abandonar o marido graças aos argumentos de Tatum, que precisa da figura da mulher bondosa e companheira ao lado do esposo, mesmo que tudo não passe de aparência. Está montada a história "perfeita", e o circo está prestes a pegar fogo. 

Neste diapasão, A Montanha dos Sete Abutres é, sem dúvida, um dos filmes mais amargos e raivosos já saídos de algum estúdio de Hollywood. Tudo no filme remete ao pior do ser humano: egoísmo, manipulação, trapaças...

Servindo como estudo de ética para jornalistas em formação (o filme até hoje deve ser usado em faculdades), o discurso de Tatum resume perfeitamente o modo de se contar uma notícia: uma história individual, onde um homem apenas está em perigo, vende muito mais jornais do que se forem várias pessoas; afinal, um só é mais fácil dos leitores se importarem, pois você destrincha sua vida, ramifica a história, dramatiza-a, causando mais impacto do que um grupo. E isso é verdade, vide à atenção exacerbada que a mídia dá até hoje a casos individualizados.

A Montanha dos Sete Abutres é um retrato de como o meio jornalístico transforma simples notícias em espetáculos da existência. Obra-prima que deve ser obrigatoriamente revisitada por todos que gostam de um Cinema que vai muito além da denúncia, sendo o próprio retrato da vida real. Um dos grandes clássicos esquecidos que merece ser redescoberto pelo grande público.

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

terça-feira, 14 de junho de 2022

Dica de Streaming - SHAZAM!

Por Rafael Morais

A DC Comics vem acertando a mão após os ventos do “sombrio e realista” soprarem sobre as suas produções. É fato que “Batman Vs Superman” dividiu as plateias, ganhando a reprovação de grande parte da imprensa, seguido por uma “Liga da Justiça” que não deu liga!

Assim, chegamos à “Mulher-Maravilha”, responsável por arejar o universo DC, trazendo otimismo ao que estava por vir. “Aquaman”, por outro lado, demonstrou como uma história de fantasia leve, colorida e bem construída pode dar certo, sopesando o humor com o drama, sem esquecer das boas cenas de ação. Tudo isto para chegar em “Shazam!”, a aposta da vez dos estúdios Warner consolida a tendência do tom ameno, da comédia despretensiosa, entre uma pancada e outra - não só física, mas emocional - trabalhando mais na dinâmica dos personagens, nas interações e no envolvimento com a plateia. Sim, não preciso dizer que os efeitos visuais estão bons e as cenas de ação empolgam - isso já é quase obrigação para os filmes deste gênero hoje em dia. O diferencial, aqui, é outro.

A trama apresenta Billy Batson (Asher Angel) como um obstinado garoto em busca de voltar ao convívio de sua mãe, a qual se perdera durante um passeio no parque, ainda menino. Para tanto, entre rebeldias, expulsões de colégios, fugas de abrigos e incompreensão, nutrindo sentimento de desprezo, conhecemos o protagonista aos 14 anos de idade já amargurado com a vida, sem esperança. Características marcantes implementadas desde o início, as quais serão exploradas no fechamento do arco, da jornada do herói. Neste contexto, as ótimas comparações com "Quero Ser Grande", com direito a uma homenagem explícita, ou qualquer obra de John Hughes, são inevitáveis.

Entretanto, a vida do adolescente começa a mudar quando o casal Victor e Rosa Vasquez (Cooper Andrews e Marta Milans) resolve o levar para um lar provisório, de crianças “abandonadas”, oferecendo alimentação, estabilidade e o mais importante: afeto. E é justamente aí, no entrosamento ao conhecer seus “irmãos”, no convívio familiar, na química entre eles, que o filme ganha o espectador. O coração do longa pulsa naquela residência. Ponto também para a excelente trilha sonora, que vai de Queen, passando por The Police a Ramones, a boa música marca o ritmo do longa.

Não menos sensacional, destaco o elenco mirim, principalmente Freddy (o excelente Jack Dylan Grazer) moleque carismático, engraçado e amigo fiel, quase um sidekick do herói; a fofa falante Darla (Faithe Herman, surpreendente) e o inteligente Ian Chen (Eugene Choi), o viciado em videogames (olha o estereótipo), rendendo ótimas piadas/referências geeks.

Mas o principal conflito ainda estava por acontecer. Após uma confusão com dois valentões na escola, Billy foge para o metrô e é “abduzido” para um universo fantástico/paralelo, onde recebe de um antigo mago o dom de se transformar num super-herói adulto chamado Shazam (Zachary Levi impecável!). Ao gritar a palavra “SHAZAM!”, a magia toma conta e o adolescente se transforma nessa sua poderosa versão adulta. Deste modo, o tom mais divertido é logo percebido, em comparação a outros longas de super-heróis, tendo em vista que a primeira coisa que o Billy faz, junto ao seu amigo Freddy, é testar as possíveis habilidades. O poder descompromissado rende ótimas sequências, ao passo que traz leveza à narrativa. “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” é uma ova!

Advindo do horror (“Annabelle 2” e “Lights Out”), o diretor David F. Sandberg (tal qual James Wan de Aquaman), não pesa a mão, sabendo balancear e segurar sua onda gore, mesmo que o vilão dê todas as ferramentas para explorar este gênero. Sim, o Dr. Thaddeus Sivana (vivido pelo sempre competente Mark Strong) é o representante do mal encarnado, pois o nefasto sujeito absorve os sete pecados capitais, todos personificados em monstros horrendos, liberando-os quando bem deseja para atacar quem estiver no seu caminho, tipo uns capangas ou cães de caça. São nessas sequências, inclusive, que Sandberg se sente mais à vontade, na tensão dos monstros contrapondo a humanidade de suas presas. E no episódio da reunião no escritório, o cineasta flerta com o terror.

A propósito, a dualidade abordada entre os conflitos de Shazam e Thaddeus é propositalmente maniqueísta, é a luta do bem contra o mal, genuinamente. Enquanto o super-herói de Zechary Levi (o ator caiu como uma luva no personagem) conquista o público com a sua ingenuidade natural, cujo sentimento de altruísmo vai aos poucos dando lugar à falta de compromisso, é algo crescente; o malvado Dr. Sivana é ruim por essência, fazendo questão de colocar o seu arquirrival em situações que levam à perda da inocência. E isso, de certa forma, faz com que Billy/Shazam amadureça e passe a controlar os seus poderes para enfrentar o vilão.

Em “Shazam!”, os arquétipos reforçam a nostalgia, em que pese o filme se situar nos dias atuais. Ao final, o gosto que fica é aquele sentimento de “sessão da tarde”. Aquela “colcha de retalhos” bordada por referências à cultura pop por todos os lados, literalmente.

Pois é, quando o “S” da esperança surgiu lá em “Man of Steel”, e na época eu detonei por achar brega, explicativo demais, aqui já faz todo sentido. O símbolo aparece na blusa e na mochila de Freddy (que sofre bullying constantemente por mancar de uma perna), e quando este se junta a Pedro (um garoto obeso, tímido e indefeso), a Darla (menina negra, abandonada e sem lar), a um menino oriental estereotipado por ser aficionado por tecnologia e, finalmente, a Billy Batson, o “rebelde” que renega a rejeição, fica claro que este "clube dos derrotados” precisava de um “sinal verde” para seguir em frente. Saquei a referência, DC... que continue inspirada assim!=

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 9,0.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Nos Cinemas - LIGHTYEAR


Por Rafael Morais

Em 1995, Andy recebe um brinquedo de presente que ganha vida. Buzz Lightyear era um boneco baseado no filme que o garoto mais gostava, à época. E agora estamos assistindo a esse longa preferido de Andy para conhecer a origem do famoso patrulheiro espacial na sua “versão humana”, digamos assim.

A sinopse oficial diz que “Lightyear” é uma aventura de ficção científica cheia de ação e que nela acompanharemos a jornada definitiva de Buzz (voz de Chris Evans em inglês e Marcos Mion em português brasileiro). O herói que inspirou o brinquedo agora terá sua história contada numa metalinguagem bem bolada pelos criadores de Toy Story.

A nova narrativa segue o lendário Space Ranger em uma experiência intergalática ao lado de um grupo de recrutas renegados e desajeitados, mas não menos ambiciosos (vozes de Keke Palmer, Dale Soules e Taika Waititi), e seu companheiro robô Sox (voz de Peter Sohn/César Marchetti). A animação é dirigida por Angus MacLane (co-diretor de “Procurando Dory”), parceiro habitual da Pixar em curtas-metragens.

Mas o que esse resumo acima não antecipou foi a carga dramática e os conflitos que todos os personagens, seja o protagonista ou os coadjuvantes, passam durante a trama. O arco de redenção e progresso de cada um é notório.

O inteligente roteiro foca no errático e na imperfeição para trazer humanidade ao triunfo. Todos têm a sua importância aqui. A equipe do herói, escolhida por acidente e por ausência de opção, é marcada pela falta de talento aliada à vontade de sempre melhorar e de acertar. E isso aproxima o público, há identificação. Observe que a Pixar vem explorando cada vez mais essa temática: vide o sucesso recente da canção "Não falamos do Bruno" da animação "Encanto".

A computação gráfica, por sua vez, é deslumbrante. Há um inegável avanço nos efeitos visuais. Perceba o movimento dos cabelos dos personagens, o balançar dos fios que ganham vida num vaivém hipnotizante. As boas sequências de ação também são auxiliadas pelo CGI de alta qualidade.

Já a trilha sonora de Michael Giachinno é só operante, passando longe de ser tão inspiradora quanto o seu último trabalho em “Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa”.

E para quem, assim como eu, estava criticando a escolha de Marcos Mion para dublar o protagonista, uma vez que Guilherme Brigs dava voz ao Buzz desde sempre, tem que reconhecer o excelente trabalho do cara. Mion desaparece na persona do herói e por várias vezes esqueci que era ele quem estava dublando. O que é um bom sinal.

Essa mudança da Disney foi global e justificou a substituição de todos os dubladores. Há uma enorme diferença na personalidade: se por um lado tínhamos um boneco nascido num passe de mágica e totalmente perdido num quarto, ainda se conhecendo e lidando com outros toys ao seu redor; por outro, agora vemos um humano autoconfiante e totalmente ciente de sua missão. Esse é o ponto. A autoconfiança de Buzz e o domínio do ambiente onde está inserido é sentido na voz. E como foi esse longa que inspirou a criação do brinquedo, de acordo com a história apresentada, nada mais justo que encarar a versão clássica como uma paródia, uma reinvenção.

Portanto, esqueça o fiasco de Luciano Huck em "Enrolados". Aprenderam com o próprio erro, felizmente.

E a inventividade não poderia faltar por ser marca registrada do renomado estúdio. Assim, o gato robô Sox é um exemplo disso. Carismático, engraçado e com o timing perfeito para o alívio cômico, o bichano autômato rouba a cena.

Ao infinito e além do Toy Story...Lightyear é Pixar na essência!

*Avaliação: 4,5 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,5.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Dica de Streaming - CINE HOLLIÚDY


Por Rafael Morais

Halder Gomes homenageia o Cinema, ao tempo em que propõe a interiorização deste.

* ATENÇÃO: Alguns termos serão digitados em cearensês. Abaixo da avaliação da resenha você poderá ler os significados de cada um. 

Baseado no premiado curta: "O Astista Contra o Caba do Mal" (também dirigido por Halder Gomes em 2006), Cine Holliúdy ganhou um longa-metragem com o objetivo de introduzir e desenvolver melhor aquele universo e personagens já apresentados. Contudo, apesar de utilizar uma linguagem extremamente regionalista - "cearensês" - a temática central proposta é universal, pois o cineasta faz um bom uso da metalinguagem para narrar a saga de um homem que leva sua esposa e seu filho pelo interior do Ceará em busca de manter vivo o sonho de projetar filmes para os menos privilegiados.

E neste sentido, a fala de Francisgleydisson (Edmilson Filho), este pai de família "abirobado" por cinema, em uma das surpreendentes cenas emocionantes reservadas, diz muito sobre o espírito do filme: "Enquanto houver vida, haverá Cinema". Na filosófica frase do personagem, a troca da palavra esperança por cinema tem tudo a ver e reflete bem toda a dedicação e amor daquele "caba" pela sétima arte, justificando a sua "peleja" e teimosia nesta intrépida e árdua missão.

A direção de arte, por sua vez, é "arretada" ao ambientar o filme de forma detalhista na década de 70. Fitas de Kung Fu, com títulos pra lá de toscos, divulgados em placas no chão; carrinho de pipoca estacionado na frente do cinema; palhaço com pernas de pau (que ajudam a assistir ao filme pelas brechas sem pagar o ingresso); veículos típicos da época; e, principalmente, figurinos e cenários que valem para reproduzir a atmosfera nostálgica sugerida pela produção. Assim, a sequência que mostra a reforma do cineminha, por exemplo, denota todo este esmero artístico.  

Alguns tipos apresentados são outro show à parte. Falcão como um cego "ingnorante, mah" e Bolachinha como a oposição política, entre outras figuras que aparecem naquela sessão de cinema, conferem verossimilhança às cenas, uma vez que faz o espectador pensar: " já vi um desses no meu interior." Porém, a escolha de Karla Karenina como torcedora do time do Fortaleza, com poucas falas e importância, não traz uma personagem à altura da atriz, ainda que seja para mostrar a rivalidade regional entre os times de Futebol local (convenhamos que o Fortaleza não dá pra disputar com o glorioso Ceará, rsrsrsrs).

Do mesmo modo, a esposa de Francisgleydisson, vivida pela atriz Miriam Freeland, não convence como uma mulher tipicamente cearense. Mesmo dotada de um forte carisma, o seu estereótipo não ajuda na composição da persona, sobretudo pelo sotaque nordestino forçado.

E por falar no elenco local, por mais inexperiente que sejam como atores, há uma tridimensionalidade nos personagens. É verossimilhante. Halder Gomes tinha o elenco na mão e, como um bom cineasta, soube extrair o máximo de cada um sentindo a química entre eles. Entretanto, ainda neste tocante, confesso que senti falta das molecagens do ator, diretor de peças teatrais, comediante e "marmotoso" Carri Costa. O filme tem a sua cara e é revestido pela matéria-prima de seu trabalho artístico: o humor cearense de molecagem. Derrapada corrigida em 2019 no lançamento da série homônima produzida pela Globo, onde o Carri Costa é adicionado ao casting.

Elenco à parte, em se tratando de comédia, Halder consegue o essencial e mais difícil: mostra domínio do tempo cômico e faz o humor funcionar a contento, mesmo que a montagem não ajude em certos momentos. Algumas cenas, mesmo funcionando bem e arrancando risos "discatitados" da plateia, parecem descoladas da trama principal. Repare, por exemplo, nas críticas feitas às religiões católica e protestante. Deslocadas dentro do contexto do filme, parecem mais curtas-metragens dentro de um longa, do que propriamente uma sequência narrativa. O desfecho da trama, não obstante ser bem realizado, é prejudicado por uma elipse temporal que salta para o futuro dos personagens, "rebolando" o espectador lá na frente sem se dar ao trabalho de dizer, ou fornecer pistas, de como eles chegaram até ali. 

Mas esses pequenos entraves técnicos, no entanto, não conseguem abalar a experiência de assistir a um filme autêntico, funcionando como uma reflexão sobre o próprio Cinema brasileiro, de grandes aspirações, dificuldades "medonhas", principalmente, para aqueles que não têm acesso à cultura e ao lazer.

Interiorizar o Cinema auxilia a acessibilidade destes direitos fundamentais de todo cidadão. Se tivéssemos mais Francisgleydisson's e Halder's em prol do Cinema, a cena local - em termos de produção e exibição de filmes - seria outra: mais "joiada", mais "gaiata" e com a rubrica do povão assinando embaixo. 

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 3,0 Rapaduras = 8,0.

Tradução de alguns termos cearensês usados na resenha:

- Cearensês = linguajar próprio do povo cearense;

- Mermo = mesmo;

- Gaiatice = brincadeira; querer ser engraçado;

- Abirobado = alucinado; fanático;

- Caba = cara no sentido de rapaz; homem;

- Peleja = insistência; persistência;

- Arretada = excelente; massa;

- Ingnorante = ignorante;

- Man ou Mah = homem; cara;

- Marmotoso = pessoa que faz palhaçada; faz graça; 

- Discatitados = histriônicos; exagerados;

- Rebolando = Arremessando; jogando;

- Medonhas = grandes; imensas;

- Joiada = legal. 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Dica de Streaming – CORINGA


Por Rafael Morais

“O homem é produto do meio”

Coringa foi um dos filmes mais politizados do ano de 2019! E isso não é necessariamente um mérito, neste caso. Quão grande foi a minha surpresa, negativa, ao perceber que o longa de Todd Phillips apenas flertava com o terror psicológico para abraçar os entraves políticos, e seus desdobramentos, mesmo que superficialmente, de uma maneira inesperada. A questão é que o roteiro do próprio Phillips, em parceria com Scott Silver, não tem estofo suficiente para abordar estas problemáticas com a complexidade que merece, tornando o discurso muito maniqueísta e até relativamente perigoso.

Mimetizar “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia” é fácil, difícil é ser Martin Scorsese. E com Robert De Niro no elenco, aliás, temos uma referência direta a estas obras, sem contar os signos claros percebidos durante a projeção.

Assim, é lamentável observar a abordagem “preto no branco”, as diversas frases de efeito, os estereótipos criados e repisados durante a criação de um “símbolo”. Uma verdadeira ode ao vilão.

Para se ter uma ideia, por diversas vezes, me peguei pensando: quem foi o adolescente raivoso que escreveu este script?! Inacreditável o mau gosto dos roteiristas para desenvolver o gatilho da revolução dos “clowns”. Sério mesmo que “os ricos têm que morrer”, simplesmente por serem abastados; e “aquele que não for bem sucedido na vida é um palhaço”, no sentido mais pejorativo que você possa imaginar?! Sério isso?! Essas situações não me permitiram criar envolvimento com a obra, confesso.

Esperava algo mais delineado, cuidadoso, sagaz e menos direto. O anarquismo visto pelo Joker de Heath Ledger, por exemplo, em “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (Christopher Nolan, 2008) caiu como uma luva na época, diferente do que acontece nesta reencarnação do Palhaço. Por mais que o protagonista não tenha a menor noção dos seus atos, isso despertou uma dualidade “adormecida” entre o povo massacrado pela ausência de política pública x os seus algozes (aqui leia-se: políticos, autoridades e a elite), tornando uma narrativa extremamente maniqueísta (repito) e forçada!

A impressão que se dá é de uma sociedade esquizofrênica que necessitava de um representante, a qualquer custo, e escolheu o primeiro que apareceu. E como estamos falando de Gotham City, isso não seria inviável. O Coringa, vítima desta mesma sociedade, um líder por acidente capaz de criar um estopim social de uma hora pra outra, por acaso, realmente não me desceu. Gostava mais do mistério por trás do vilão de outrora, e não a romantização autoindulgente do anti-herói presenciada aqui.

Mas nem tudo é desgraça. Joaquin Phoenix entrega uma atuação forte, desaparecendo dentro do personagem, se contorcendo, literal e gradativamente, num sujeito retraído, triste e solitário prestes a explodir. O bizarro “distúrbio do riso”, por sinal, é algo constrangedor e assustador, ao mesmo tempo, algo que o excelente ator trabalha com genialidade por meio de uma incrível linguagem corporal, encontrando uma saída inteligente para a icônica risada do vilão.

Tudo isso auxiliado pela ótima composição sonora de Hildur Guðnadóttir ao estabelecer tensão na utilização de violoncelos distorcidos, arranhando o juízo do público, bem como ao inserir batidas enervantes de “tic-tac” ao fundo, numa clara alusão a uma “bomba-relógio”.

Nesta pegada, o suspense toma uma crescente angustiante e a plateia sente o peso das ações e suas consequências. Tecnicamente, a direção de Phillips não deixa a desejar, sendo precisa ao captar os movimentos corporais, as expressões faciais e a aflição do anti-herói. Como Arthur está em mutação constante, parecendo não caber mais dentro de si, a fotografia reserva espaço para um frame excepcional: repare que durante um diálogo formal, sentado e segurando um cigarro em uma das mãos, entre as duas pernas inquietantes, temos um truque de câmera simples, mas capaz de metaforizar a situação daquele sujeito que está fumaçando, literalmente, de dentro pra fora, emanando a efervescência de uma mente doentia através de seu corpo cadavérico e cansado de apanhar da vida.

Tão excepcional quanto a performance de Phoenix em seu estudo de personagem, a direção de arte é extremamente cuidadosa nas minúcias, que vão desde a composição dos objetos de cena (os detalhes da modesta casa dos Fleck é uma delas) passando pela ambientação da cidade imersa no lixo; sem esquecer o acertado figurino colorido, envolto numa atmosfera de uma Gotham dessaturada que, aos poucos, o anti-herói vai introduzindo os seus próprios adereços no dia a dia, quase por osmose.

Observe que todos esses adornos, típicos do mundo circense, vão se incorporando a Arthur, naturalmente, durante a sua transformação. A maquiagem exagerada, a cor esverdeada do cabelo, o nariz vermelho, os sapatos enormes. Uma nova identidade surge cada vez mais solta, autoconfiante, dançante, segura e livre das amarras da sanidade.

Em que pese um roteiro superficial, quando deveria ser complexo o bastante para acreditarmos nessa revolução proposta, “Joker” é um filme violento, inquietante e perturbador, igual o protagonista-título.

 *Avaliação: 3,5 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 7,5.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 45 anos de SORCERER: O COMBOIO DO MEDO


Por Rafael Morais

Refilmagem do clássico francês "O Salário do Medo", de Henri-Georges Clouzot, traz William Friedkin (de "O Exorcista") na direção. A história narra a sina de quatro homens impedidos de voltar aos seus próprios países, por diferentes motivos e que acabam se encontrando em um país pobre da América do Sul, onde são contratados por uma companhia de petróleo para uma missão quase suicida: transportar uma perigosa carga de explosivos por um terreno acidentado.

Película dona de uma atmosfera claustrofóbica e carregada de tensão, guarda no desenvolvimento de seus personagens e na irretocável construção do clímax o seu ponto alto. Interessante notar como o cineasta sabe a importância da criação de uma persona não só para os atores, mas também para os objetos/elementos de cena. Não à toa que o caminhão, onde se passa grande parte da ação do longa, é brilhantemente arquitetado através de uma linguagem narrativa inteligente ao empregar características marcantes ao veículo durante a sua montagem. Dar personalidade a um ser inanimado não é para qualquer um.

E como estamos falando de um diretor ímpar, Friedkin filma o comboio contra a luz, ao final de sua concepção, em uma fotografia impecável, gerando uma persona corajosa e hostil no meio daqueles homens desesperados. Destaque para a famosa sequência da ponte que demorou três meses para ser rodada, graças ao perfeccionismo de seu idealizador, esticando o orçamento e enfrentando problemas na pós-produção.

Recomendação máxima para aqueles que curtem um bom suspense com uma pegada aventuresca.

*Avaliação: 4,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 9,0.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Dica Disney Plus - TOY STORY 4

Por Rafael Morais

O ano era 1995. Brinquedos ganham vida nos cinemas revolucionando a era digital das animações. Sucesso de crítica e público, "Toy Story" narrava as aventuras de um carismático cowboy, um destemido patrulheiro espacial e uma turminha do barulho (sim, isso pareceu uma chamada de "sessão da tarde"), arrebatando fãs ao redor do mundo; e eu não fiquei incólume.

Passados 24 anos até o novo capítulo, é impressionante como a Pixar evoluiu tecnicamente sem esquecer a emoção como "carro-chefe" de suas obras. Se no capítulo anterior, o nível de emotividade chegou ao limite, nesta sequência temos as consequências do que aconteceu com Woody, Buzz e cia. depois que o seu dono Andy cresceu e foi para faculdade, doando seus brinquedos à doce Bonnie.

Desta vez, a garotinha concebe o seu próprio brinquedo durante o primeiro dia de aula no jardim de infância. O "Garfinho" vem ao mundo através de uma iniciativa de reaproveitamento de materiais descartáveis que, por sua natureza, não seriam mais úteis. Assim, ao se sentir sozinha e amedrontada no inédito ambiente escolar (lembre-se que ela ainda estava na creche no filme passado) Bonnie cria e customiza um amigo ao seu modo: o Garfinho é desajeitado, inseguro e simpático.

Deste modo, é interessante perceber o relevante subtexto ambientalista quando trata a reciclagem pelo aspecto anticonsumista, bem como pelo viés do estímulo à criatividade da criançada. Não à toa, o talherzinho recém-criado tem uma obsessão autodepreciativa combatida por Woody com resiliência. Portanto, é genial a ideia de se reinventar durante a "crise de identidade" de um objeto que nasceu para ser utilizado apenas durante uma refeição e ser descartado logo em seguida. O enredo brinca com o lúdico explorando os conceitos de amizade, família e lealdade no melhor estilo da franquia.

A nova trama coloca toda a trupe reunida numa viagem em família que vai revelar surpresas e confirmar a personalidade de alguns toys. Se Woody está cada vez mais altruísta tornando-se o coração do filme, Buzz Lightyear não demonstra autoconfiança à altura do companheiro, uma vez que busca a "voz interior" para ditar os seus passos, literalmente. Neste contexto, me incomodou também o fato de o script diminuir a participação de personagens clássicos como o Sr. e Sra. Batata, Rex, a cowgirl Jessie e até o próprio Buzz. Eles quase não auxiliam no desenvolvimento da história, sendo meros coadjuvantes de luxo, bem diferente dos outros títulos.

Entretanto, sem querer entrar no terreno dos spoilers, não é novidade pra ninguém que Betty reaparece no longa, isso está nos trailers e no vasto material de divulgação. Feita de porcelana, genuinamente um bibelô, a camponesa teve o seu fechamento de arco digno que aborda também a questão do se reinventar. Aproveitando a onda do "girl power", Betty se transforma desde o figurino mais despojado, passando pelos adornos capazes de identificar a marca do tempo: tudo isso reflete sua nova personalidade. Se antes o seu cajado era imóvel, colado ao seu corpo, servindo apenas como enfeite, agora o bastão é uma poderosa arma nas suas mãos. A expertise que ela ganha no habitat livre justifica toda a mudança de atitude firme e até uma certa marra que adquiriu com o tempo.

Já a direção ficou por conta de Josh Cooley que, apesar de ser o seu primeiro longa no currículo, já era um antigo conhecido e colaborador da Pixar. O cara participou do roteiro de “Divertidamente” (2015, Pete Docter), além de ter desenhado storyboards para “Up - Altas Aventuras” (2009, Pete Docter) e “Ratatouille” (2007, Brad Bird). O estúdio não deu um “tiro no escuro” e acabou acertando na escolha. Cooley enquadra os brinquedos como verdadeiros heróis, contempla a história de amizade dos mesmos através de lindos raccord temporais, demonstrando conhecer a essência de Toy Story imaginada por John Lasseter.

Mas a beleza da animação também perpassa tanto pela talentosa direção artística quanto pela nítida evolução dos efeitos digitais. A película é irretocável no quesito técnico! Tudo é muito lindo, vistoso, colorido nos momentos certos e cinza nos instantes necessários. O antimaniqueísmo reflete na paleta de cores.

Aqui, a perfeição da Pixar em animar seres inanimados chegou ao auge quando um simples garfo conquista o espectador com tamanha empatia. O universo de Toy Story está cada vez mais fotorrealista e não esconde mais os adultos, limitando a câmera à altura do joelho ou da cintura destes, tal qual o primeiro capítulo quando nos remetia à Muppet Babies. Agora, até close-ups são utilizados nos rostos de vários personagens humanos mais velhos, dando a impressão da inevitável integração entre mundos tão diferentes.

Quanto às canções, destaco que “Amigo, Estou Aqui” ainda emociona, sobretudo quando entoa uma sequência que, certamente, mexerá mais com os adultos que cresceram com a obra do que propriamente com a meninada. Por sua vez, a nova música do desconsertado Forky (o Garfinho como foi traduzido por aqui) também tem seu charme, visto que a letra desafia o destino natural das coisas. Para o padrão Disney, no entanto, confesso que senti falta de mais números musicais.

Já o antagonismo ficou por conta de “Gabby Gabby”, uma boneca mandona, centralizadora e sinistra que mora num antiquário. Junto com os seus assombrosos capangas, a anti-heroína (não dá pra chamá-la de vilã clássica) remete aos filmes de horror com bonecos amaldiçoados. Há todo um clima de suspense no ar, nunca antes explorado na jornada da franquia. Prepare-se para jump scares (pulos de sustos) quando os Benson’s aparecem. Outras ótimas adições ao elenco são os ursinhos “Patinho” e “Coelhinho”. Os caras surtam nos mais mirabolantes planos arquitetados pelas suas mentes maquiavélicas. Sem contar o dublê “Duke Caboom” (voz de Keanu Reeves), um sujeito cheio de conflitos e traumas os quais são postos à prova durante uma cena que arrancou aplausos da galera na minha sessão.

Enfim, “Toy Story 4” é engraçado, dramático, nostálgico e emocionante! O filme chancela a qualidade da Pixar na questão técnica, bem como traz uma resolução corajosa para o nosso amigo Woody, muito embora não se importe tanto com os coadjuvantes. Assim, por mais que o filme faça um estrondoso sucesso nas bilheterias, infelizmente, sinto que o estúdio irá colocá-lo na geladeira por um bom tempo. Em recente entrevista, produtores falaram que as continuações tendem a não ter mais prioridades, pois o futuro reside nas novas marcas, novas histórias. Além do mais, com o esmero que a Pixar tem com os seus produtos, não é todo dia que um novo enredo vai convencê-los a mexer com as suas principais pérolas. Mas independente do que vier por aí, só digo e repito uma coisa:

♫ ♫ ♫

“O tempo vai passar

Os anos vão confirmar

As três palavras que proferi

Amigo, estou aqui!"

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 9,0.