sábado, 2 de agosto de 2025

Nos Cinemas - Lilo & Stitch


Por Isa Barretto 

Os desenhos da Disney marcaram gerações. Com traços simples, histórias emocionantes e uma pitada de magia, eles tocaram o coração de milhões de crianças pelo mundo. “Lilo & Stitch”, lançado originalmente em 2002, é um desses clássicos que, mesmo sem a pompa de princesas ou castelos, conquistou com sua essência única: a de uma família quebrada que se reconstrói através do afeto – ainda que esse afeto venha de um alienígena azul altamente destrutivo.

A chegada da versão live action reacendeu a expectativa em dois públicos bem distintos: os adultos que foram crianças naquela época e cresceram com a expressão "ohana significa família", e as crianças de hoje, que talvez estejam tendo seu primeiro contato com a história. O desafio era enorme – afinal, como emocionar novamente sem perder a autenticidade do original?

Mas o resultado infelizmente escorrega em um ponto fundamental: a falta de conexão do roteiro. O que antes era uma história recheada de silêncios cheios de significado, olhares que diziam muito, e uma trilha sonora havaiana embebida em saudade e pertencimento, agora se perde em uma narrativa apressada, onde o impacto emocional é substituído por explicações óbvias e diálogos rasos.

Na animação, Lilo era mais do que uma criança "estranha" – ela era solitária, sensível, desajustada em um mundo que exige encaixe. Sua dor e o esforço de sua irmã Nani em criá-la sozinha após a morte dos pais são palpáveis. Já no live action, essas camadas parecem diluídas. A relação das duas irmãs perde profundidade, e Stitch, que antes conquistava pela dualidade entre caos e afeto, agora é uma criatura digital bem feita , mas que pouco transmite em termos de emoção.

É é aí que o “faz de conta” da animação parece mais verdadeiro do que a tentativa de realismo nessa adaptação. Porque, por mais fantasiosa que seja, a versão animada sabe tocar onde realmente importa: no sentimento.

Claro, para quem nunca assistiu à obra original, talvez o live action funcione. É bonitinho, tem momentos engraçados e entrega uma aventura simples. Mas para quem cresceu com a versão de 2002, falta aquela lágrima que caía sem aviso quando Lilo dormia com um retrato rasgado na mão, ou quando Stitch caminhava sozinho pela floresta, murmurando que estava perdido – e pela primeira vez, desejando ser encontrado.

No fim, o novo “Lilo & Stitch” se torna apenas mais uma peça na engrenagem de adaptações que, ao tentar modernizar clássicos, acabam esquecendo que o que nos encantava não era apenas o que os olhos viam, mas o que o coração sentia. Era o afeto bordado em cada cena, como se a história tivesse sido desenhada com emoção, quadro a quadro.

E quando o real não consegue tocar tanto quanto a fantasia, o que antes era sonho se transforma apenas em mais um título no catálogo — bonito, mas esquecível.

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