Vinte anos atrás, o diretor britânico Joe Wright estreava no cinema com uma missão desafiadora: adaptar um dos romances mais amados da literatura inglesa, 'Orgulho e Preconceito', de Jane Austen. O que poderia ter sido apenas mais uma releitura de época se transformou, nas mãos dele, em uma experiência sensorial e emocional que atravessou o tempo.
De cara, a estética saltava aos olhos. A câmera de Wright deslizava pelos salões e campos com fluidez e ousadia nas sequências de neblinas simbólicas e silêncios significativos. Era um romance de época filmado como se fosse uma coreografia emocional. E foi essa linguagem cinematográfica que dividiu algumas opiniões na época, mas que hoje é o que mais faz esse filme se destacar e se manter tão vivo.
Keira Knightley, aos 20 anos, entregou uma Elizabeth Bennet de espírito indomável, com o olhar afiado e a ironia nos lábios. Uma Lizzie moderna sem ser anacrônica. Forte, mas profundamente humana. Sua atuação lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz — e ajudou a redefinir o que o público esperava de heroínas de época.
Matthew Macfadyen, até então um nome pouco conhecido, reinventou o Sr. Darcy. Ao contrário do Darcy impetuoso e contido eternizado por Colin Firth na BBC em 1995, o de Macfadyen é mais introspectivo, vulnerável, quase hesitante. Mas é justamente essa contenção — esse amor sufocado, esse orgulho desmontado aos poucos — que torna seu Darcy tão memorável. Quando enfim declara: "Você me enfeitiçou de corpo e alma", é impossível não se render.
A primeira vez que assisti a 'Orgulho e Preconceito' eu era adolescente. Me deixei levar pela beleza das imagens, pelos diálogos que soavam como flechas gentis, e por aquele romance que surgia devagar, como quem aprende a dançar sem encostar os pés no chão. Tudo parecia mágico, quase inalcançável. Mas foi ao revisitar o filme com outras vivências que entendi sua verdadeira força: não era só sobre beleza — era sobre amadurecimento. Sobre orgulho, sim, mas também sobre coragem. Sobre como a gente muda quando escolhe escutar em vez de reagir. Cada novo olhar trouxe um sentido diferente — e foi nesse processo silencioso que ele se tornou um dos filmes da minha vida.
O roteiro de Deborah Moggach, com polimentos de Emma Thompson , foi certeiro ao manter a essência da obra de Austen, mas trazendo um ritmo mais acessível para novos públicos. Os diálogos fluem com a leveza que esconde a profundidade: uma crítica aos julgamentos apressados, às aparências sociais e às limitações impostas às mulheres.
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A crítica da época, embora majoritariamente positiva, teve suas ressalvas: alguns disseram que era esteticamente mais bonito do que profundo. Mas o tempo — esse crítico final — mostrou que estavam errados. O filme envelheceu com elegância. Continuou a encantar. E, para muitos, se tornou a versão definitiva da história no cinema.
'Orgulho e Preconceito' (2005) não é apenas um romance.
É um estudo sutil sobre como a gente aprende a amar melhor.
Sobre escutar antes de julgar.
Sobre mudar — não por alguém, mas por merecer ser merecido.
Vinte anos depois, o filme ainda pulsa.
Ainda há quem o reveja só pela cena do campo, com Darcy caminhando na névoa do amanhecer, onde o amor chega não com promessas, mas com presença.
E onde o silêncio fala mais alto que qualquer declaração.
'Orgulho e Preconceito' não envelheceu. Ele amadureceu.
E se tornou um clássico para quem ainda acredita que amor de verdade exige tempo, escuta e coragem.
