Após 36 anos, a continuação de um dos clássicos das sessões
da tarde, enfim, ganhou vida depois de vários adiamentos e incertezas. Mas não
poderia chegar em uma hora melhor: a tal volta do Cinema, após o período mais
grave da pandemia, se tornou algo emblemático e esperado por muitos.
A sétima arte estaria destinada a ser consumida em qualquer
tela, a qualquer hora e mesmo que dividida em trechos (entre uma pausa para
olhar o celular e outra)?! Conheço alguns que para concluir um longa de 90
minutos, por exemplo, o “parcelam” em 3x de 30 minutos, “sem entrada e sem
juros”, assistindo pelo celular enquanto aguarda uma consulta. Mas tá tudo certo
também. O problema é perder a magia, o costume, a tradição e o encanto.
Será que esse “Top Gun: Maverick” é o filme capaz de
arrebatar o público e tirá-lo da zona de conforto formada pelo combo:
"sofá de casa + streaming"?! Será que, finalmente, as pessoas vão comprar
o ingresso, deixar os seus lares e se deslocarem para uma sala que fará a projeção
em um horário já especificado?! Penso que sim, chegou a hora. O próprio
Tom Cruise acredita no poder das telonas, na experiência coletivamente
catártica e mágica, inigualável, proporcionada ao apagar das luzes de uma sala
de cinema. Afinal, lugar de blockbuster é na maior tela e com o melhor som
possível.
E todo esse introito tem a ver com o simbolismo por trás do
argumento de "Top Gun: Maverick". Os homens resistirão às máquinas,
mesmo que a automação seja inevitável. Um dia, os drones tomarão o seu lugar
afastando os pilotos de carne e osso. Mas o que o astro de Hollywood propõe é:
"pode até ser, mas hoje não!". Resistir a algo que nos ameaça tornar
obsoletos faz parte da sobrevivência.
E quando Maverick (Cruise) é convocado para retornar à
academia dos melhores pilotos do mundo para treinar uma nova turma visando uma
missão suicida, praticamente impossível (e isso me lembrou outra franquia do
mesmo cara), temos o script ideal sobre a superação humana diante da
tecnologia. Os limites estarão à prova e o protagonista não está disposto a
abrir um centímetro ao admirável mundo novo, uma vez que a Marinha caminha para
apostar o futuro nos aviões não tripulados.
Fica fácil perceber essa proposta de pensar a sétima arte de
forma menos automatizada possível. Quanto menos chroma key - e que seja
minimamente perceptível - mais autêntico. O coração de uma obra está atrelado ao
quanto os artistas envolvidos deixam sua marca, expressão e entrega no set. O piloto
automático, com o perdão do trocadilho, não é suficiente aqui.
Melhorando em tudo o que o filme de 86 fez, temos uma sequência
com jeitão de remake, mas que desta vez acerta na construção dos arcos dos
personagens principais, sobretudo quando se trata do protagonista e do coadjuvante
Rooster (Miles Teller muito bem, por sinal!).
A construção do clímax é muito delineada para que no momento certo a emoção
tome conta. Os conflitos interpessoais ultrapassam a fuselagem de um caça F-18
chegando ao drama interior bem construído. Temas como remorso, autoestima,
coragem e lealdade acrescentam à carga dramática sem jamais cair na pieguice.
Quanto à ação, os combates aéreos são de tirar o fôlego. A
colocação de câmeras grudadas tanto no cockpit, quanto no lado externo das aeronaves
faz o público embarcar nas alucinantes perseguições em alta velocidade. E os
últimos 45 minutos, então, são espetaculares! Garanto que você não vai ficar
quieto na cadeira.
Na verdade, não senti nenhum ato inchado ou com "barrigada". As
2 horas e 17 minutos passaram voando...literalmente. Ponto para a primorosa
direção de Joseph Kosinsk (“Oblivion” e “Tron: O Legado”). Mas não se preocupe,
Tony Scott estará sempre na memória do cinéfilo e tem o seu lugar merecido na
dedicatória.
Não menos incrível é a trilha sonora assinada por Lady Gaga,
Hans Zimmer,
Harold
Faltermeyer e Lorne Balfe.
A linda canção “Hold my Hand” traz algo novo sabendo referenciar e pontuar a
hora certa de entrar. Diferente de “Take My Breath Away” do original que mais
parecia um tema de novela sendo banalizada à exaustão bastando o casal se
entreolhar para tocar. Era um filme dentro de outro. Aqui não. Jennifer Connelly
empresta seu charme habitual e mostra a excelente atriz que é. O seu texto não
é o dos mais ricos, menos aprofundado, e mesmo assim Connelly dribla com
bastante talento.
Emocionante e surpreendente, “Top Gun: Maverick” é o melhor
blockbuster de 2022 que assisti até agora. Quiçá um dos melhores dos últimos
anos. A nostalgia está lá, a homenagem também, mas nada é gratuito. Há um zelo ao
tratar a novel audiência. Não se trata apenas de uma carta de amor aberta à aviação,
mas sim ao Cinema.
Assim, a troca do theater pelo home theater pode até estar
próxima, mas uma coisa é certa: "hoje não!"
*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.
Realmente que filmaço grande Rafael, Uma experiência que precisa de uma tela e som de cinema (de preferência IMAX) para ser degustada da forma que foi idealizada pelos seus produtores, e como vc falou, vale cada centavo pago! Um trabalho incrível de edição, som, fotografia e produção. A expressão na cara dos atores quando desmaiam (de verdade!) pela força G, é algo que não tem como ensaiar ou atuar, é cinema feito a moda antiga, sem CGI e facilidades tecnológicas. Mas isso não quer dizer que a tecnologia não tenha sido utilizada a favor do filme, as várias tomadas de câmeras, nas mais diversas posições das aeronaves, somente foram possíveis graças ao avanço na minituarização das lentes e câmeras, o que proporciona imagens de tirar o fôlego e nos leva para dentro da ação de uma forma que era impossível no Top Gun de 86, Além disso, temos nesse filme uma demonstração de todo o avanço tecnológico ocorrido na indústria aeronáutica desde a época do original, eu fiquei particularmente muito empolgado em ver o SR- 72 "Darkstar" em uma belíssima sequência de abertura, com detalhes que somente os entusiastas da aviação conhecem (como a utilização do motor Scramjet para alcance da velocidade hipersônica) e a impressionante demonstração da supermanobralidade dos caças de 5° geração (um SU-57 russo), em uma cena fantástica! A própria missão da equipe liderada pelo (aparentemente imortal) Tom Cruise, se assemelha muito a fases de jogos de videogame atuais, como Ace Combat, por exemplo. Mas também temos nostalgia, referências e links ao filme original, tudo na dose certa, Com destaque para a participação do Iceman Val Kilmer, em uma cena muito bonita e emocionante, e a dedicatória ao falecido diretor do original, Tony Scott. Enfim, valeu a pena toda a espera! Top Gun Maverick é um puta filme! (No bom sentido da palavra kkk) e recomendo fortemente que seja assistido na telona com pipoca e guaraná! Do jeito que a tradição manda...
ResponderExcluirPerfeito, Emanuel. Valeu pelo ótimo comentário que sempre acrescenta demais!
ExcluirMaravilhoso, valeu a espera. Tom Cruise arrasando sempre ♡
ResponderExcluirCom crtz, Cicera. Valeu demais!
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