segunda-feira, 23 de maio de 2022

Nos Cinemas -TOP GUN: MAVERICK


Por Rafael Morais

Após 36 anos, a continuação de um dos clássicos das sessões da tarde, enfim, ganhou vida depois de vários adiamentos e incertezas. Mas não poderia chegar em uma hora melhor: a tal volta do Cinema, após o período mais grave da pandemia, se tornou algo emblemático e esperado por muitos.

A sétima arte estaria destinada a ser consumida em qualquer tela, a qualquer hora e mesmo que dividida em trechos (entre uma pausa para olhar o celular e outra)?! Conheço alguns que para concluir um longa de 90 minutos, por exemplo, o “parcelam” em 3x de 30 minutos, “sem entrada e sem juros”, assistindo pelo celular enquanto aguarda uma consulta. Mas tá tudo certo também. O problema é perder a magia, o costume, a tradição e o encanto.

Será que esse “Top Gun: Maverick” é o filme capaz de arrebatar o público e tirá-lo da zona de conforto formada pelo combo: "sofá de casa + streaming"?! Será que, finalmente, as pessoas vão comprar o ingresso, deixar os seus lares e se deslocarem para uma sala que fará a projeção em um horário já especificado?!  Penso que sim, chegou a hora. O próprio Tom Cruise acredita no poder das telonas, na experiência coletivamente catártica e mágica, inigualável, proporcionada ao apagar das luzes de uma sala de cinema. Afinal, lugar de blockbuster é na maior tela e com o melhor som possível.

E todo esse introito tem a ver com o simbolismo por trás do argumento de "Top Gun: Maverick". Os homens resistirão às máquinas, mesmo que a automação seja inevitável. Um dia, os drones tomarão o seu lugar afastando os pilotos de carne e osso. Mas o que o astro de Hollywood propõe é: "pode até ser, mas hoje não!". Resistir a algo que nos ameaça tornar obsoletos faz parte da sobrevivência.

E quando Maverick (Cruise) é convocado para retornar à academia dos melhores pilotos do mundo para treinar uma nova turma visando uma missão suicida, praticamente impossível (e isso me lembrou outra franquia do mesmo cara), temos o script ideal sobre a superação humana diante da tecnologia. Os limites estarão à prova e o protagonista não está disposto a abrir um centímetro ao admirável mundo novo, uma vez que a Marinha caminha para apostar o futuro nos aviões não tripulados.

Fica fácil perceber essa proposta de pensar a sétima arte de forma menos automatizada possível. Quanto menos chroma key - e que seja minimamente perceptível - mais autêntico. O coração de uma obra está atrelado ao quanto os artistas envolvidos deixam sua marca, expressão e entrega no set. O piloto automático, com o perdão do trocadilho, não é suficiente aqui.

Melhorando em tudo o que o filme de 86 fez, temos uma sequência com jeitão de remake, mas que desta vez acerta na construção dos arcos dos personagens principais, sobretudo quando se trata do protagonista e do coadjuvante Rooster (Miles Teller muito bem, por sinal!).

A construção do clímax é muito delineada para que no momento certo a emoção tome conta. Os conflitos interpessoais ultrapassam a fuselagem de um caça F-18 chegando ao drama interior bem construído. Temas como remorso, autoestima, coragem e lealdade acrescentam à carga dramática sem jamais cair na pieguice.

Quanto à ação, os combates aéreos são de tirar o fôlego. A colocação de câmeras grudadas tanto no cockpit, quanto no lado externo das aeronaves faz o público embarcar nas alucinantes perseguições em alta velocidade. E os últimos 45 minutos, então, são espetaculares! Garanto que você não vai ficar quieto na cadeira.

Na verdade, não senti nenhum ato inchado ou com "barrigada". As 2 horas e 17 minutos passaram voando...literalmente. Ponto para a primorosa direção de Joseph Kosinsk (“Oblivion” e “Tron: O Legado”). Mas não se preocupe, Tony Scott estará sempre na memória do cinéfilo e tem o seu lugar merecido na dedicatória.

Não menos incrível é a trilha sonora assinada por Lady Gaga, Hans Zimmer, Harold FaltermeyerLorne Balfe. A linda canção “Hold my Hand” traz algo novo sabendo referenciar e pontuar a hora certa de entrar. Diferente de “Take My Breath Away” do original que mais parecia um tema de novela sendo banalizada à exaustão bastando o casal se entreolhar para tocar. Era um filme dentro de outro. Aqui não. Jennifer Connelly empresta seu charme habitual e mostra a excelente atriz que é. O seu texto não é o dos mais ricos, menos aprofundado, e mesmo assim Connelly dribla com bastante talento.

Emocionante e surpreendente, “Top Gun: Maverick” é o melhor blockbuster de 2022 que assisti até agora. Quiçá um dos melhores dos últimos anos. A nostalgia está lá, a homenagem também, mas nada é gratuito. Há um zelo ao tratar a novel audiência. Não se trata apenas de uma carta de amor aberta à aviação, mas sim ao Cinema.

Assim, a troca do theater pelo home theater pode até estar próxima, mas uma coisa é certa: "hoje não!"

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.

Comentários
4 Comentários

4 comments:

  1. Realmente que filmaço grande Rafael, Uma experiência que precisa de uma tela e som de cinema (de preferência IMAX) para ser degustada da forma que foi idealizada pelos seus produtores, e como vc falou, vale cada centavo pago! Um trabalho incrível de edição, som, fotografia e produção. A expressão na cara dos atores quando desmaiam (de verdade!) pela força G, é algo que não tem como ensaiar ou atuar, é cinema feito a moda antiga, sem CGI e facilidades tecnológicas. Mas isso não quer dizer que a tecnologia não tenha sido utilizada a favor do filme, as várias tomadas de câmeras, nas mais diversas posições das aeronaves, somente foram possíveis graças ao avanço na minituarização das lentes e câmeras, o que proporciona imagens de tirar o fôlego e nos leva para dentro da ação de uma forma que era impossível no Top Gun de 86, Além disso, temos nesse filme uma demonstração de todo o avanço tecnológico ocorrido na indústria aeronáutica desde a época do original, eu fiquei particularmente muito empolgado em ver o SR- 72 "Darkstar" em uma belíssima sequência de abertura, com detalhes que somente os entusiastas da aviação conhecem (como a utilização do motor Scramjet para alcance da velocidade hipersônica) e a impressionante demonstração da supermanobralidade dos caças de 5° geração (um SU-57 russo), em uma cena fantástica! A própria missão da equipe liderada pelo (aparentemente imortal) Tom Cruise, se assemelha muito a fases de jogos de videogame atuais, como Ace Combat, por exemplo. Mas também temos nostalgia, referências e links ao filme original, tudo na dose certa, Com destaque para a participação do Iceman Val Kilmer, em uma cena muito bonita e emocionante, e a dedicatória ao falecido diretor do original, Tony Scott. Enfim, valeu a pena toda a espera! Top Gun Maverick é um puta filme! (No bom sentido da palavra kkk) e recomendo fortemente que seja assistido na telona com pipoca e guaraná! Do jeito que a tradição manda...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Perfeito, Emanuel. Valeu pelo ótimo comentário que sempre acrescenta demais!

      Excluir
  2. Cicera Silva e Carvalho7 de junho de 2022 às 05:39

    Maravilhoso, valeu a espera. Tom Cruise arrasando sempre ♡

    ResponderExcluir