terça-feira, 3 de maio de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 65 anos de O SÉTIMO SELO


Por Rafael Morais
Jogar com a morte: certeza da derrota.

Questionamentos e dúvidas: essas são as principais temáticas que permeiam O Sétimo Selo. Entenda que estamos falando sobre o Cinema sueco, logo, a essência do ser humano, bem como as suas principais indagações internas são o ponto-chave dessas obras. Para onde vamos e de onde viemos? Se existe o Mal, o Bem, a contrario sensu, também existe? São essas perguntas que pairam em nossas massas cinzentas. Entender os meandros da natureza do homem, através do simbolismo, é a pretensão de Ingmar Bergman

O filme narra a história de um cavaleiro que retorna à sua vila depois de lutar nas Cruzadas. Seu nome é Antonius Block (Max Von Sydow), e o cenário por ele encontrado é de profunda desolação. Mortos, caos, fome e tudo o que um ambiente pós-guerra pode "proporcionar". Estamos no século XIV, e parte da devastação é por conta da peste negra, doença mortal que dizimou milhões de vidas em várias partes do mundo conhecido, até então.

Desse modo, diante do embate com essa realidade tão perversa, surge no cavaleiro um sentimento de enorme dúvida sobre a existência de Deus em meio a tamanha desesperança. Assim, o que norteia os passos, palavras e atitudes do questionador Anthonius é, justamente, a busca incessante por desvendar um algum dos maiores mistérios existenciais: Deus existe? E se existe por que ele deixa que aconteça tantas tragédias? Mas indagar e procurar não significa, necessariamente, achar as respostas. E é assim, inteligentemente, que o cineasta prefere lidar com o tema.

Nesse prisma, o longa ganha tons mais fantásticos com o surgimento de um estranho e irremediável "personagem": a Morte. E essa nefasta figura revela ao protagonista que sua hora é chegada. Mas Antonius, mesmo atormentado, desafia a entidade com uma proposta ousada. Por meio de um jogo de xadrez, ele pode ganhar uma sobrevida no caso de vencer; é a partir desse encontro, com a mais temida das horas, que a trama ganha contornos existencialistas. 

Bergman, então, se utiliza do Cinema para mergulhar nos fantasmas que não só o atormentam, mas persegue qualquer um de nós. A inquietude do homem diante da imposição do destino é algo que o cavaleiro, destemidamente, enfrenta ao questionar, tentando entender o mistério da vida e da humanidade. 

Durante toda a narrativa, observamos a insegurança de Anthonius diante do plano abstrato, tanto que em um dado momento, diante de tantas perguntas lançadas, um dos personagens lhe diz: "Você nunca para de questionar?".

No entanto, na contramão do sombrio e das angústias, Bergman nos apresenta um núcleo de extrema importância na narrativa, vivido por artistas circenses alegres e despretensiosos. A salvação estaria na expressão mais bela e simples da arte? Parece que sim, haja visto que apesar de o filme ser em preto e branco, quando esses artistas, "cheios de vida", entram em cena, tudo parece ganhar tintas vibrantes, mesmo que os nossos olhos presenciem apenas o branco e a ausência de cor. Incrível!

Inquietante, atual e arrebatador, como um clássico deve ser, O Sétimo Selo é merecedor de todos os prêmios conquistados, além de ser parte indispensável nas principais listas de melhores filmes. Enfim, uma obra de arte cinematográfica. É como se os quadros/frames ganhassem vida e estivessem em movimento.

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0. 

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