sexta-feira, 6 de maio de 2022

Nos Cinemas - DOUTOR ESTRANHO: NO MULTIVERSO DA LOUCURA


 Por Rafael Morais

* (sem spoilers)

O tal multiverso, que promete bagunçar tudo no UCM (universo cinematográfico da Marvel), chegou! E ninguém melhor do que o trio Raimi, Strange e Wanda para dar esse pontapé inicial valendo. Sei que já tivemos um vislumbre desse evento na aventura do “Homem-Aranha Sem Volta pra Casa”. No entanto, aqui em “Dr. Estranho no Multiverso da Loucura” essa visitação às outras terras e infinitas possibilidades começa com os dois pés na porta.

A sinopse aborda o surgimento de America Chavez (Xochitl Gomez), uma garota que é capaz de abrir portais e transitar por multiversos. Simples assim. Nesse contexto, entre uma viagem e outra, a adolescente cai na Terra como nós conhecemos. Nela, Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch excepcional e cada vez mais à vontade no papel) sofre as consequências de seus atos heroicos e terá que proteger Chavez, sob pena de uma nova e inimaginável ameaça colocar as diversas realidades em total colapso. Na verdade, o filme é uma continuação direta dos eventos acompanhados na série “WandaVision”, disponível na Disney Plus.  

Para tanto, a saída encontrada pelos roteiristas Michael WaldronJade Bartlett, sob o comando atento e controlador de Kevin Feige, foi simplesmente trazer dos quadrinhos uma personagem que tem o poder de desencadear e atravessar esses portais. Não há nada muito rebuscado nesse argumento, como se vê. A ideia, portanto, é brincar com as possibilidades através da imaginação. Diferente do fio de premissa, a criatividade se sobressai no desenrolar dos atos.  

Desta forma, o ponto alto da nova produção do Marvel Studios é o tom de terror que o veterano diretor Sam Raimi emprega à película. Pegue a trilogia “Evil Dead” (A Morte do Demônio), acrescente uma pitada de “Arraste-me Para o Inferno” e voilà!

Perceba os enquadramentos e movimentos de câmera característicos do idealizador. As lentes se aproximando rapidamente de uma porta prestes a sair uma ameaça real; a utilização de ângulo holandês (câmera inclinada em relação à horizontal; ângulo torto para simplificar) dando a sensação de aflição e desorientação; a maquiagem digna de filmes trash, mas bem produzidos; os jump scares que não poderiam faltar. Todos esses elementos estão lá, sobretudo nos momentos de tensão.

Mas não apenas no aspecto técnico podemos perceber a assinatura de Raimi. A presença de um vilão implacável, ainda por cima conjurando o Darkhold (irmão gêmeo do Necromicon?!), é muito filme de terror oitentista! Por diversas vezes me peguei como se tivesse assistindo um misto de “Sessão da Tarde” com “Cine Trash”. E essa sensação nostálgica/saudosista me deixou extremamente feliz e satisfeito.

O fato é que esse longa é tudo o que a primeira aventura de 2016 não conseguiu ser! Todo aquele potencial de ser um filme sombrio, de piração na psicodelia, foi resgatado aqui. Se o antecessor não mergulhou no diferente, esse pulou de ponta.

Inventivo também no embate entre seres poderosos – sair na mão, simplesmente, era uma saída preguiçosa - "No Multiverso da Loucura" é lúdico e inteligente o suficiente para escapar do óbvio. O que dizer da luta cifrada?! Aplausos para a incrível trilha sonora de Danny Elfman!

Sem mais detalhes para não entregar trechos importantes (NO SPOILERS!), é interessante notar como o UCM não tem se fechado para as novas tendências. Em uma determinada sequência, por exemplo, fica clara a influência da subversiva série de animação "Invencível" (Amazon Prime Video). Afinal de contas, chocar o público também faz parte do espetáculo.

Não menos magnífico, os trechos rodados com as câmeras IMAX (se puder, assista nesse formato) deixam o espectador boquiaberto tamanha a nitidez, imersão e beleza dos cenários. Parece que estamos ali com o protagonista subindo aquela imensa e tenebrosa escadaria. A poeira, a goteira, a névoa...os elementos de cena são perceptíveis e proporcionam uma ambientação estupenda!

Por fim, nada mais apropriado que esse filme ter sido lançado na semana do dia das mães. Entendedores entenderão! Confesso que vai ter criança com medo na hora de dormir e isso é sinal que Sam Raimi fez um bom trabalho. A fase quatro desse universo expandido da Marvel começou em grande estilo.

*Avaliação: 4,5 Pipocas + 4,5 Rapaduras = 9,0.

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