Um clássico do terror e suspense que ultrapassa gerações.
O Bebê de Rosemary é uma das raras obras de terror consideradas como antológicas, principalmente porque elevou o gênero ao status de arte ao trazer uma maturidade no conteúdo e no tratamento dado a um tipo de filme subestimado pelos críticos e desatualizado para sua plateia.
Dirigido pelo polêmico e talentoso Roman Polanski, autor de grandes obras cinematográficas como a trilogia do apartamento - Faca na Água, Repulsa ao Sexo e O Inquilino - além do premiado O Pianista, o cineasta se credenciou, com o passar do tempo e entre altos e baixos - sobretudo na sua vida pessoal - como um dos maiores diretores do Cinema, tanto pelo seu estilo peculiar como pelas suas lentes elegantes e "polanskianas" de enxergar uma cena.
A trama conta a história de um casal que se muda para um apartamento em Nova York e passa a se envolver com seus vizinhos, que se tornam indesejavelmente frequentes em suas vidas pessoais. Assim, estas visitas recorrentes desaguam na causa das agruras vividas por Rosemary (Mia Farrow). A história se desenvolve a partir do envolvimento de seu marido (John Cassavetes), um fracassado ator, com um casal de idosos que atraem sua atenção desmedida por um obscuro interesse envolvendo Rosemary e sua gravidez.
Inserida nesse contexto, a futura mãe passa a experimentar uma incomum e sofrida gestação, sendo controlada por seus famigerados vizinhos. Com a crescente tensão estabelecida no universo da protagonista, suas fugas e solicitações começam a ser consideradas atitudes de insanidade psicológica por seus conhecidos, o que gera uma certa ambiguidade característica no estilo de Polanski.
Desta forma, a sensação que temos é de experimentarmos um certo conflito entre alucinação e realidade, pelo fato de o diretor trabalhar o filme nesta linha tênue que separa o mundo pessoal de Rosemary, por isso, ora acreditamos ser real a circunstância do ritual, ora, repentinamente, nos tornamos céticos e julgamos ser um delírio neurótico da personagem, muito embora todos os fatos narrativos nos creditam uma veracidade sobre o casal de feiticeiros.
Mia Farrow entrega uma excelente e "assustadora" atuação, demonstrando toda a sua destreza e habilidade de interpretação que é acentuada por sua frágil e débil aparência, um visual de penúria e resignação terminal. Repare, por exemplo, na magreza esquelética, semblante pálido e olheiras profundas. Méritos também para a maquiagem. Sem dúvida alguma Polanski consegue extrair o melhor de seus atores, como é relevante a sutil invasão interpessoal por parte dos detestáveis vizinhos (Ruth Gordon – a idosa vizinha – ganhou um Oscar por esse filme), que paulatinamente vão manipulando a jovem mãe.
Não menos genial é o estilo de narração e o trabalho de movimento de
câmera do festejado cineasta, pois, durante toda a projeção ele consegue nos
inserir no mundo da protagonista, sob o ponto de vista dela, e somente dela.
Observe que em nenhum momento, temos uma perspectiva de outro personagem. Até
quando o marido vai a uma reunião na casa dos vizinhos, Rosemary fica
sozinha em casa e as especulações sobre o que está acontecendo naquele encontro
são inevitáveis. Outro momento emblemático é no primeiro jantar oferecido pelo
casal de idosos. Nessa sequência, ao sair da cozinha, Rosemary olha
atentamente para a sala, onde o seu marido e o vizinho conversavam, e não
conseguindo enxergá-los, avista apenas fumaça saindo daquele sombrio cômodo,
denotando uma aura de misticismo, feitiço ou tentação. O que certamente estava
acontecendo.
É por demais instigante e arrepiante o fato de que o diretor usou um grupo satanista para fazer algumas cenas ritualísticas, cujas canções cerimoniais entoadas durante a sessão estão presentes na sequência, o que causa mais incômodo ao assistir estes momentos no longa, tamanha verossimilhança. Principalmente por saber que Polanski perdera sua esposa, a atriz Sharon Tate, em um macabro assassinato num ritual de uma espécie de seita satânica liderada por Charles Mason após ter terminado de rodar o filme em questão.
Ao fim, Roman Polanski realiza, sem sombra de dúvidas, uma grande obra clássica de terror, com uma qualidade temática e artística sem precedentes. É um filme que não deve deixar de ser assistido, para que, a partir dele, possa se conhecer outras magníficas obras típicas desse gênio atormentado da sétima arte.
*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.