terça-feira, 17 de maio de 2022

Dica Netflix - HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO


Por Rafael Morais
*resenha escrita em janeiro de 2019

A Sony, em parceria com a Marvel, finalmente acertou! Depois de “Spider-Man 2” de Sam Raimi, desde 2004, este é o filme que mais entende a origem e os conflitos do herói. No entanto, não levo em consideração aqui “De Volta ao Lar/Homecoming” de 2017, e suas continuações, tendo em vista que o Studios Marvel/Disney realizou um acordo com a empresa japonesa retomando para si a liberdade criativa do “teioso”. E logo no início do longa, já entendemos o motivo deste acerto: reconhecer o erro do passado (o Spider emo do fatídico capítulo 3), tirar sarro com a própria mancada e colocar o herói nos eixos novamente faz parte do lema “apanhar, cair e levantar”.

No multiverso proposto, conhecemos o carismático protagonista Miles Morales: um jovem negro do Brooklyn, filho de uma enfermeira latina e um pai policial, que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker. Entretanto, após desvendar as intenções vilanescas de Wilson Fisk – o famigerado “Rei do Crime” - Miles descobre uma dimensão paralela difundida com a sua realidade, de onde surgem outras, e inusitadas, versões do Homem-Aranha.

Animação vibrante, repleta de homenagens e que fala a língua dos quadrinhos, literalmente; assim, temos uma película que brinca constantemente com a metalinguagem para ambientar o espectador no universo do “amigão da vizinhança”, como nunca antes o Cinema havia conseguido.

Sim, os recursos visuais utilizados pela inspirada tríade de diretores Peter Ramsey, Bob Persichetti e Rodney Rothman vão de pertinentes e verticais tomadas aéreas (na perspectiva de Miles), a uma estranha psicodelia, proposital, no uso das cores. Até as diversas camadas, referentes às realidades paralelas, também são representadas, organicamente, na fotografia do filme. Simplesmente incrível!

Deste modo, para cada tipo de Spider apresentado, há um visual característico e inerente à sua origem, à sua época. Repare que o “Porco-Aranha” é chapado em 2D, carregando toda uma linguagem narrativa voltada aos desenhos tradicionais, como o “Looney Tunes”, por exemplo. Até nos efeitos sonoros, podemos observar o chamado efeito “mickey mousing” na trilha, onde as onomatopeias surgem em tela para traduzir em palavras os sons que estamos escutando. O “tic-tac” do relógio, o “pow” de um soco, entre outros, são arquétipos deste recurso.

Não menos interessante, o “Homem-Aranha Noir” é um detetive que traz um tom de suspense, mais sério e banhado no preto e branco. O que torna rica a experiência de juntar todos os tipos no mesmo universo. A interação entre o digital e o analógico, da menina aranha oriental (advinda dos animes), montada em um robô high tech, convivendo com o Peter Parker tradicional é um baita acerto na interatividade entre personagens de mundos opostos, trazendo química aos diálogos e situações.

O filme aborda essa relação de gerações e culturas, traçando uma analogia com o próprio público, abraçando a todos sem distinção. O que não deixa de ser uma das mensagens finais lançadas, uma verdadeira ode à multidiversidade. Na verdade, o legado de que “qualquer um pode ser o Homem-Aranha” remete tanto à pluralidade quanto ao código de ética do herói Marvel, o que sempre me emociona nesse tipo de filme, uma vez que o altruísmo, tão esquecido em nossa sociedade, surge pungente na pele de um herói improvável.

Sagaz, o roteiro de Rodney Rothman e Phill Lord é um dos trunfos para o sucesso deste “Aranhaverso” quando respeita o passado, e toda a mitologia, expandindo o futuro, ao passo que emociona e diverte na medida, ainda guardando espaço para plot twists (reviravoltas) condizentes com o cânone.

Confesso que me arrepiei diversas vezes durante as suas quase duas horas de projeção, tendo escorrido uma lágrima aqui e acolá. Sim, a minha experiência com o herói-título vem dos desenhos animados que passavam na minha infância e juventude, bem como da reimaginação para as telonas de Sam Raimi, na pele de Tobey Maguire, em 2002. E lá se vão 17 anos...

Ao final, “Homem-Aranha no Aranhaverso” é um presente em forma de animação que não só cativa os fãs, como enche os olhos de quem está conhecendo agora este “novo mundo”. Onde quer que eles estejam, Stan Lee e Steve Ditko, certamente, estão orgulhosos disso tudo!

* Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

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