quarta-feira, 11 de maio de 2022

Nos Cinemas – O HOMEM DO NORTE

Por Rafael Morais

895 d.C. Um homem destemido, alimentado pelo ódio, parte em busca de vingança. O humano, o divino e o destino se confundem nessa jornada shakespeariana de proporções épicas.

"The Northman" é um longa de vingança atmosférico, escrito e dirigido por Robert Eggers ("A Bruxa" e "O Farol"). A história, que inspirou Hamlet de William Shakespeare, narra a trajetória do pequeno Amleth (Oscar Novak), trocara apenas a ordem da letra H, príncipe que presencia o seu pai/Rei ser assassinado pelo próprio irmão, seu tio. Em fuga, após o fatídico acontecimento, o menino promete “vingar o pai, salvar a mãe e matar o tio”. Repetindo essa frase trocentas vezes durante o filme.

Qualquer semelhança com “O Rei Leão” e “O Gladiador” não é mera coincidência.

Anos depois, já adulto, o protagonista é encarnado numa versão Viking vivida pelo ator Alexander Skarsgard transbordando ira pelos poros numa interpretação carregada de bastante energia. Aliás, todo o elenco estelar está bem afiado, tal qual as espadas e machados apresentados nas lutas. William Dafoe e Anya Taylor-Joy, parceiros habituais de Eggers, entregam o que é esperado. Heimir pouco aparece, mas seu personagem é de grande importância à trama; já Olga, cresce consideravelmente com o passar dos atos. Nicole Kidman e Ethan Hawke emprestam seus talentos habituais e suas personas acrescentam ao drama e à verossimilhança.

Tecnicamente irreparável, o filme se destaca pela ambientação hostil, recorte de uma era Viking. Contemplar a bela fotografia de Jarin Blaschke e os enquadramentos inspiradíssimos faz parte do fascínio que o longa exerce sobre o público. Não menos impactante, são as sequências brutais de ação. Muitos takes sem corte aparente dão a imersão de acompanharmos os saqueamentos, as invasões e as batalhas como se estivéssemos dentro da cena. 

Outro aspecto importante é observar a escalada do horror visceral. Animalesco e brutal, o sangue jorra sem dó nem pena. O homem enquanto ser primitivo, de natureza instintiva, é o que sempre interessou ao cineasta em sua pequena, mas densa filmografia composta de apenas três produções ao todo.

Em “A Bruxa” temos a descoberta de uma menina que se torna mulher aos olhos de uma família fundamentalista. A luta dos hormônios, os desejos, o sucesso e o desgarramento da “barra da saia” são metáforas para a tentação de não cair na perdição demoníaca. Já “O Farol” é quase um ensaio sobre o enclausuramento, onde duas personalidades distintas perdem o juízo durante um confinamento, ocasião em que os seus “monstros” interiores serão colocados pra fora, inevitavelmente.   

Contudo, a obra não é perfeita. Os “pecados” ficam por conta de uma montagem nada instigante, que quebra o ritmo ao ser dividida em capítulos; além de diálogos formados, em sua maioria, por frases de efeito. O que é uma pena.

* Avaliação: 3,5 Pipocas + 4,5 Rapaduras = 8,0.

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