Por Rafael Morais
24 de fevereiro de 2017
Faroeste contemporâneo, um dos indicados ao Oscar de melhor filme,
retrata a empreitada criminosa de dois irmãos, Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) que, pressionados pela dívida referente à
hipoteca da fazenda da família, resolvem assaltar bancos para obter a quantia
necessária ao pagamento. Ambientado no interior do Texas, EUA, o plano dos
protagonistas consiste em roubar agências bancárias do próprio grupo que está
cobrando a hipoteca. Mas o que eles não esperavam era a presença de um delegado
veterano, casca grossa (Jeff Bridges), que está prestes a se aposentar.
Baseado nesta premissa, o diretor David Mackenzie estabelece o confronto de seus personagens num ambiente hostil, árido e solar, como um bom western deve ser. E a fotografia de Giles Nuttgens ressalta este aspecto. Porém, mais do que ação, o longa oferece uma leitura social para além dos tiros e perseguições. Aqui, os cavalos são trocados por pick-ups 4x4. Abordar sujeitos “engolidos pelo sistema” que os cerca, sejam eles heróis, anti-heróis ou vilões, traz humanidade ao enredo, além de descobrir um pano de fundo significante às motivações de cada um. Se os irmãos estão passando por um drama familiar, financeiro e social, o velho xerife Marcus já apresenta sinais de cansaço – aplauso para a bela atuação de Bridges baseada em fortes expressões corporais e dicção peculiar – e o seu parceiro, descendente de índios, constantemente demonstra revolta com a história de massacre vivida pelos seus antecedentes.
Não menos especial, a excepcional trilha sonora composta por Nick Cave e Warren Ellis traduz o cenário com acordes que remetem a uma espécie de country melancólico. O que não poderia ser diferente, já que a miséria estampada no filme apresenta o interior dos Estados Unidos bem diferente do glamour ao qual o público médio está acostumado, sendo facilmente percebido por casas abandonadas, bem como diversos outdoors que oferecem empréstimos fáceis espalhados por todos os lados.
Até o figurino dialoga com a proposta, já que os cowboys aqui passam longe de se vestirem com roupas limpas, cabelos penteados, ou alguma convenção do gênero. A desconstrução do ideal, do sonho americano, é sentido em cada frame. Neste sentido, a obra se comunica com a filmografia dos Irmãos Coen, sobretudo pelos diálogos afiados. Repare na cena em que Toby conversa com Marcus e a tensão é instalada lentamente, lembrando algumas sequências de “Onde Os Fracos Não Têm Vez” e “Bravura Indômita”, por exemplo.
Assim, “A Qualquer Custo” poderia cair no limbo das produções triviais/genéricas, se não fosse pela sutileza perceptiva de uma direção que sabe pôr em prática um script inteligente, oferecendo camadas a mais na interpretação da obra. Claro que isso tudo somado à entrega do ótimo elenco. E sim, vale a indicação à “carequinha dourada”!
*avaliação: 5
pipocas + 5 rapaduras = nota 10,00.