Por Rafael Morais
01 de fevereiro de 2017
Com o lançamento do jogo “Resident Evil VII”, apesar de ainda
não tê-lo jogado, sabe-se que houve uma guinada na saga, sobretudo quanto à
perspectiva intimista, retomando o suspense do primeiro, e clássico, jogo. No
que pese a polêmica decisão pela visão em primeira pessoa, sob a ótica do
protagonista. Algo menos pretensioso e mais claustrofóbico vem se incorporando,
com acerto, a este universo sombrio. Pois é exatamente assim que imagino uma
repaginada para essa desgastada franquia cinematográfica. Que tal reduzir a
emergência para algo menor, de escala diminuta, mesmo que o vírus tenha
proporções globais? Que tal apostar mais no suspense do que na ação desvairada?
Tudo aqui é grandiloquente e pretensioso, na pior acepção da palavra. Contudo,
Paul W.S. Anderson não tem culpa se lhe confiaram toda a criação da mitologia
nos cinemas. O cara dirige, roteiriza e até coloca a sua esposa (Milla
Jovovich) pra atuar nos filmes.
Assim, é notório o potencial que está sendo desperdiçado
ao longo desses seis filmes. Falta identidade, energia, inovação, roteiro
inteligente... Enfim, falta outra visão de Resident Evil! E isso, W.S. Anderson
não pode oferecer por limitação artístico-criativa. É fato que o cineasta sabe
filmar a ação, e até empolga neste episódio em algumas cenas pontuais, como
naquelas em que Alice surge enfrentando monstrengos assombrosos: a Vespa
durante uma alucinante perseguição de carro; e o confronto com um zumbi carregado
de dentes enormemente afiados, parecido com o Baraka do “Mortal Kombat”. Sim, é
fácil perceber a tosquice da obra em comento.
Desta vez, o fio de história
narra a infindável trajetória de Alice (mas esse não era o capítulo derradeiro?
Torcemos que sim!), sobrevivente do massacre
zumbi, retornando para onde tudo começou, Raccoon City. É lá que a Umbrella
Corporation reúne suas forças para um ataque final contra os remanescentes do
apocalipse. Para vencer esta batalha, vendida como final (mérito para a ótima
campanha de divulgação), e tentar salvar a raça humana, a heroína recruta
velhos e novos amigos. Pois é, caros leitores, nem mesmo diante desta modesta
sinopse sobrescrita, o filme consegue se sustentar ou entregar o prometido. O
desenvolvimento dos personagens é sofrível ao ponto de não se preocupar nem sequer
com aqueles que já acompanhamos ao longo de quinze anos – o primeiro filme foi lançado
em 2002 – muito menos com os que conhecemos neste longa. Não existe a mínima
conexão com o público, de tal forma que não conseguimos, nem ao menos, decorar o nome de qualquer personagem antes que ele sofra uma morte brusca. As características marcantes de cada persona,
então, nem pensar! Tudo é demasiadamente descartável e não oferece o mínimo de
profundidade.
Os diálogos são risíveis e se apegam aos absurdos para tentar
convencer o público da seriedade da situação, ao ponto de uma personagem,
durante certa sequência do filme, intimidar o vilão (sócio da Umbrella) com a
seguinte frase, ou algo do tipo: “você não pode mandar e desmandar, pois eu
tenho 50% desta empresa também!”. Não acredito que alguém está pleiteando
direitos civis/societários, levantando questões éticas, debatendo a moral e a boa conduta
de uma figura vilanesca, no mais puro clichê, ainda mais sob o contexto de uma sociedade
imersa no caos, onde restam apenas 4.000 (quatro mil) seres humanos vivos! É sério
isso?!
Entretanto, nem só de desgraça vive a película. O retorno do gore,
perdido durante a franquia, é sempre bem-vindo. As ameaças em forma de puzzles
lembram os videogames do gênero e remetem ao primeiro filme já citado, o melhor
de todos (o que não representa muita coisa rsrsrs), diga-se de passagem. Muito embora a maior parte do filme se passe
na escuridão - a noite toma quase todos os atos - as imagens mais marcantes
ficam por conta de cenas diurnas, ou menos escuras, desprezando o que poderia
ter de melhor num filme de horror. Escuro não é a mesma coisa que sombrio.
Desta maneira, como fã dos games, fica a dica para quem for pôr a mão em um provável
reboot: olhem para o renascimento da saga nos arcades, pois eles têm muito a
oferecer quando não se sabe qual o caminho seguir.
*Avaliação: 3,0 pipocas
+ 1,0 rapadura = nota 4,0.