Por Rafael Morais
04 de março de 2017
Até que enfim uma das
figuras mais queridas da cultura pop ganha uma adaptação à sua altura. “Logan”
representa a digna despedida de Hugh Jackman da persona que representa há 17
anos, bem como traz frescor aos filmes de super-herói através de uma história concentrada
no minimalismo. Depois do fraco “Wolverine Origens” e do mediano “Imortal”, a
Fox resolveu apostar as fichas numa versão realista e sombria, focando no lado
humano do mito, no estudo de personagens, a começar pelo próprio título. E deu
muito certo!
Inserido num
universo em que os mutantes não nascem há mais de 25 anos – lembrando “Filhos
da Esperança” de Alfonso Cuarón – o cansado Logan trabalha como motorista de limousine
para ganhar a vida, ajudando a cuidar do agora idoso e adoentado Charles Xavier
(o genial Patrick Stewart). Assim, o 1º ato é dedicado a narrar o cotidiano do
protagonista, inserindo o espectador naquele ambiente desesperançoso e hostil.
Todos os elementos de cena reforçam esta ideia de desilusão que o longa propõe.
Repare o local onde o prostrado Xavier vive, ou melhor: passa o tempo. Se antes
o líder dos X-Men tinha a tecnologia ao seu favor, como o “cérebro” gigante e a
famosa escola para tomar conta, por exemplo, agora lhe resta as ruínas de uma
fábrica, dentro de um tonel desativado para chamar de lar, onde espera a morte
chegar.
A fotografia solar
também sinaliza o clima árido da região desértica de El Paso, transpirando
poeira na tela. O olhar sempre amargurado, banhado em vermelho, o caminhar
vacilante, mancando do início ao fim, a barba gigante e as diversas cicatrizes
de Logan contribuem para a composição perfeita do caos. Ponto também para a
maquiagem, figurino e direção de arte.
Mas tudo muda com a
aparição de Laura (a espetacular Dafne Keen), uma garotinha que precisa de
ajuda após fugir de uma organização paramilitar. Os “carniceiros”, capangas da
vez, estão por todos os lados atrás da fugitiva e não poupam quem estiver no
caminho. Contudo, o roteiro de James Mangold (também diretor), Michael Green e
Scott Frank não explora os membros mecânicos dos inimigos como deveria, já que
todos tem alguma parte do corpo formada por exoesqueleto. Tal artifício não serve aqui como
arma ou empecilho nos combates. Perceba o líder Donald Pierce (vivido por Boyd
Holbrook), o sujeito tem um braço de
armadura biônica e nunca o utiliza para esmagar um crânio sequer. Potencial
desperdiçado que poderia dar um ar de urgência ou perigo.
Entretanto, com a
chegada de Laura, Xavier e Logan saem da zona de conforto e enfrentam um road movie com o objetivo de ajudar a
criança. Os principais momentos do filme, fora as sensacionais sequências de
ação, ficam por conta do relacionamento do trio. Os diálogos nas viagens de carro, entre outros momentos, só acrescentam à história. Comovente, a relação avô-pai-filho-neta,
mesmo que disfuncional, conquista o espectador segurando toda a narrativa. O
arco do herói, agora com pretensões humildes, tem nos valores da família a sua
principal catarse. Sensível, e juro que não esperava mencionar esse adjetivo
para esse gênero de filme, “Logan” busca um meio termo entre blockbuster e
alternativo ao tratar sobres temas tão espinhosos como o envelhecimento e a morte.
Gore, a película não deixa barato o corte das afiadas garras de adamantium fazendo
jorrar sangue por todos os lados. A selvageria toma conta dos combates, o que
não poderia ser diferente, uma vez que Wolverine é animalesco por excelência! A
violência, nem sempre gráfica, remete a filme como “Kick Ass”, quando a Hit-Girl,
X-23 aqui, chuta bundas de adultos espalhando um rastro de morte por onde
passa.
Pecando ao inchar o
final do 2º ato, a duração poderia facilmente se encaixar em duas horas,
cortando, na montagem, esses vinte minutos a mais. Mas isso não tira o mérito
do resultado final, absolutamente! De tal modo que este “Logan” está para a
franquia cinematográfica dos “X-Men”, assim como “O Cavaleiro das Trevas” está
para o Batman, parafraseando alguém que li esses dias na internet.