Por Rafael Morais
13 de março de 2017
Parece que a Legendary, em parceria com a Warner Bros, pegou o jeito
em rodar filmes de monstros, vide “Círculo de Fogo” (Pacific Rim) e o último
“Godzilla”, por exemplo. Mas o fato é que ambas se uniram para mesclar o
universo do gorilão com o lagartão atômico, interligados pela mesma empresa
fictícia “Monarch”, que já aparece durante estes longas.
Em “Kong: A Ilha da Caveira”, acompanhamos uma expedição a tal ilha
remota, localizada em algum lugar do Pacífico Sul, na qual Bill Randa (John Goodman) busca atestar a
existência de animais gigantes. A trupe também é formada pelo coronel Preston
Packard (Samuel L. Jackson), o rastreador James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotógrafa Mason Weaver
(Brie Larson). Visualmente incrível, os efeitos especiais se harmonizam com a
inspirada fotografia solar de Larry Fong,
remetendo a obras como “Apocalypse Now”. E esta comparação não se restringe
apenas ao campo estético, além disso, há uma tentativa do fraco roteiro em
abordar, superficialmente, a questão da loucura do militar diante da guerra,
algo batido em fitas de guerra.
Dono de um primeiro ato irretocável, o filme
estabelece a missão com precisão, embora os seus personagens careçam de
complexidade. Os estereótipos do gênero estão lá, descaradamente, e isso não
quer dizer algo pejorativo, necessariamente, já que a obra tem consciência de
sua limitação enquanto temática B, no bom sentido. Desta forma, o jovem diretor
Jordan Vogt-Roberts jamais tenta ser o que não é - Copolla é apenas uma inspiração
– inserindo a diversão acima de tudo. Blockbuster de primeira, “Kong: A Ilha da
Caveira” ganha mesmo o espectador é nas aparições e sequências de ação do
protagonista-título. E o Rei Kong nunca esteve tão imponente. Seja pelo tamanho
- evidenciado no formato IMAX - ou pelas habilidades de luta, o primata gigante
apresenta evolução até na utilização de armas brancas.
Roubando a cena do elenco, que contava com Nick Fury,
Loki e Capitã Marvel, ops, Jackson, Hiddleston e Larson, o modesto Shea Whigham vive Cole: um soldado
carismático, alívio cômico, que guarda a melhor cena de anticatarse da
projeção. Já àquelas que ficam guardadas na retina do público repousam sobre os
takes de King Kong. Toda vez que o gigante surge em cena – desde o espetacular
combate com os helicópteros a uma degustação de polvo – o deslumbre toma conta
da sala de cinema tamanha a imponência e detalhes técnicos na composição do
protagonista. Neste contexto, o antagonista de Kong não se limita apenas ao ser
humano, ambicioso por natureza. Outros monstros enormes vivem na ilha, tendo
como um dos piores predadores um lagarto, meio crocodilo, escroto que mora nas
profundezas do lugar. Assim, a referência à “Jurassic Park” grita na tela, já
que o bicho/vilão se parece demais com aqueles que Spielberg apresentou há 24
anos, misto de Velociraptor e T-Rex. Outra semelhança com o Parque é a própria
Ilha da Caveira. Cada local apresenta um ser diferente, onde os sobreviventes
passam a conhecer a fauna e a flora em que estão envolvidos. Pena que Conrad
não chega aos pés de Alan Grant, graças ao carisma de Sam Neil.
Aliás, falta
ritmo e tom nas personas do herói e da mocinha. Totalmente descartáveis, o
aventureiro e a fotógrafa poderiam ser totalmente limados do final cut sem prejuízo algum para o
desenvolvimento da história. Ponto negativo para o raso script.
Contudo, não podemos dizer o mesmo da magnífica trilha sonora
escolhida, passando por Black Sabbath, David Bowie e Led Zeppelin. Um show à
parte!
Com a cena pós-crédito, temos a certeza que o crossover entre este
universo de criaturas fantásticas, proposto pelos estúdios, continuará a ser
explorado, o que é ótimo. Porém, gostaria que nos próximos capítulos focassem
mais nos monstros do que nos humanos, evitando o desperdício de um ótimo elenco
com diálogos rasos e personagens acéfalos.
*Avaliação: 5 pipocas + 2,5 rapaduras = nota 7,5.