terça-feira, 5 de julho de 2022

Nos Cinemas - THOR: AMOR E TROVÃO

Por Rafael Morais

Neste novo episódio da saga “solo” do deus do trovão, encontramos Thor (Chris Hemsworth) em uma jornada diferente de tudo que ele já enfrentou. Em meio a uma crise existencial, onde a busca pela paz interior é a sua meta, o herói precisa interromper o seu período sabático após o assassino galáctico conhecido como Gorr (Christian Bale, formidável como sempre) buscar incessantemente a extinção dos deuses.

Para combater esta ameaça, Thor pede a ajuda de Valquíria (Tessa Thompson), Korg e da ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman), que – para sua surpresa – inexplicavelmente empunha o Mjolnir com bastante propriedade, revelando-se a Poderosa Thor. Juntos, eles embarcam em uma aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança de Gorr e detê-lo antes que seja tarde demais.

Essa é a sinopse de “Thor: Amor e Trovão”. E não se espante, o filme não reserva muita coisa além disso no quesito enredo. E olhe que não dei nenhum spoiler aqui. Tudo isso está nos trailers. Não há grandes reviravoltas, desenvolvimentos ou intrigas. Com exceção da importância, merecida, dada à personagem de Natalie Portman (eu mesmo já reclamava disso lá em 2011).

Taika Waititi, que continua na direção e roteiro, usa a "carta branca" de Kevin Feige para entregar o filme de comédia definitivo do universo cinematográfico da Marvel. O timing cômico do idealizador é perceptível em cada cena. As piadas se acumulam de maneira ininterrupta dando ritmo ao longa e fincando os dois pés no gênero. Quase não sobra espaço para o habitual momento dramático, muito menos para o público respirar diante de tanta cor, luzes e gags...muitas gags visuais e verborrágicas! Confesso que me diverti muito com a maioria esmagadora das piadas, enquanto que outras vão se tornando repetitivas, mas não menos engraçadas. O tom de autoparódia e galhofa fica no ar e isso pode desapontar bastante boa parte do público.

Assim, o ponto alto mesmo fica por conta de Christian Bale, que se desdobra para apresentar um vilão minimamente em tom de cinza, uma vez que o fio de história não o ajuda. O conhecido antimaniqueísmo da Marvel em seus filmes, na apresentação do antagonista, continua em "Love and Thunder", mesmo que por vezes pareça forçado. 

Gorr merecia um pouco mais de tempo de tela, é bem verdade. Mas fica aquela questão: é obrigatório o vilão ter sempre motivos moralmente inquestionáveis? Sinto falta de ver no Cinema blockbuster atual aquele tipo malvado por natureza que não terá redenção, não adianta tentar sensibilizá-lo, sobretudo quando o filme flerta com a época oitentista - o que é o caso - através de diversas referências, mas sem jamais se entregar a ela quando o assunto é a vilania e o âmago da sua intenção.

Ainda sobre o antagonismo, interessante perceber que o roteiro diminui tanto a mitologia das divindades, equiparando-a rente ao chão - através de quebra de expectativa e sátiras o tempo todo - que o objetivo do “Carniceiro dos Deuses”, como o Gorr é conhecido, acaba se esvaindo na própria ideia. A sensação que fica é a seguinte: “Ok, vilão, pode matar todos esses deuses aí que mais parecem cópias jocosas de si mesmos, não me importo”. Observe que esse conceito é um “tiro no pé” nas pretensões dos conflitos e no senso de perigo/urgência. O público não se importar com o desfecho dos personagens pode ser um grande problema em um filme de super-heróis.

Entretanto, quando o assunto é quesito técnico, a saturação da paleta e do humor representa o conceito que Waititi imagina para esse universo. É o extremo oposto do sombrio e realista. Há inventividade, coração e química entre as personas que já se conhecem há bastante tempo. Isso é inegável. No entanto, não há nada de impactante ou muito relevante aqui. É a típica sequência hollywoodiana onde a fórmula do antecessor é repisada e elevada à enésima potência, à exaustão.

Neste sentido, observe que enquanto em "Ragnarok" imperava o Immigrant Song de Led Zeppelin para inebriar o público nas cenas de ação, um videoclipe perfeito, neste novo capítulo o heavy metal do Guns N' Roses tem a mesma função, com exceção que agora quase um álbum inteiro é utilizado, um verdadeiro tributo. A trilha sonora de Michael Giacchino é quase imperceptível tamanha a inserção de músicas conhecidas e licenciadas para a produção.

Infelizmente, fica a impressão que o Marvel Studios possa estar enfrentando alguma crise de ideias, como se estivesse perdido desde a conclusão da inesquecível “Saga do Infinito”.

E se Martin Scorsese comparou os filmes de heróis com um parque de diversões, que venha a próxima montanha-russa de altos e baixos. O problema são os efeitos de rodar tanto e sempre nos mesmos brinquedos. Só espero não chegar ao ponto de passar mal e enjoar.

* Avaliação: 4,0 Pipocas + 2,0 Rapaduras = 6,0.

Nenhum comentário:

Postar um comentário