Por Rafael Morais
*resenha escrita em outubro de 2017
Um filme de comédia, que respeita todas as convenções do gênero, pontuado pelo som pauleira de Led Zeppelin (“Immigrant Song” cai como uma luva) nas principais cenas de ação, tudo isso contando com a presença da estonteante Cate Blanchet. Sem querer minimizar a nova produção do Marvel Studios, este resumo retrata bem a película, mas isso não quer dizer que foi uma experiência ruim. Longe disso.
A aventura da vez foca no iminente Ragnarok (apocalipse) de Asgard, enquanto Thor (Chris Hemsworth, cada vez mais à vontade no personagem) está preso do outro lado do universo, no distante planeta Sakar. Assim, o herói precisa correr contra o tempo para voltar à sua terra natal e tentar impedir o pior. Contudo, a tarefa não vai ser fácil, tendo em vista que a incumbência de destruir aquele mundo repousa nas mãos da poderosa e implacável vilã Hela (a linda e talentosa Cate Blanchett).
Baseado nesta premissa simples, o roteiro deita e rola nas piadas, sem se preocupar em aprofundar as relações, muito menos dramatizá-las. Tudo funciona a favor da diversão, embora esteja tratando, simultaneamente, da extinção de um planeta. Mas isso não incomoda, já que o tom da filmografia da Marvel nunca foi sério ou sombrio, com a exceção da trama de espionagem imprimida em “Capitão América 2: O Soldado Invernal”. Desta vez, o público não pode alegar que foi enganado pela campanha de divulgação. Cartazes extremamente coloridos, trailers bem humorados e a contratação de Taika Waititi para direção: o resultado não poderia ser outro, foi entregue justamente o que se esperava.
Tecnicamente regular, o CGI (computação gráfica), em alguns momentos, não traz verossimilhança aos cenários, sendo quase palpável o chroma key (tela verde para projeção de efeitos) por detrás dos personagens. O capricho visual ficou mesmo por conta do esperado embate entre Thor e Hulk (Mark Ruffalo) na arena de gladiadores. Impecável! Os monstros gigantes também tiveram atenção especial dos efeitos digitais.
A fotografia, por sua vez, parece pouco inspiradora, em que pese o 3D entender bem a profundidade de campo e oferecer perspectivas interessantes, seja na ação ou na própria ambientação, afinal de contas estamos conhecendo o novel universo de Sakar. Destaque para a vasta e saturada paleta de cores nem explorada pela película - transformando-a em um arco-íris - totalmente inspirada nos traços marcantes das HQ’s do aclamado Jack Kirby, segundo especialistas na matéria.
Desta forma, se por um lado “Thor: Ragnarok” acerta na apresentação de novos personagens, como o divertido Korg (expressão corporal captada pelo próprio Waititi); a jornada de redenção da Valquíria interpretada pela ótima Tessa Thompson; o Skurge/Executor de Karl Urban acaba mais interessante do que começou; sem esquecer o divertido Grão-Mestre na pele do experiente Jeff Goldblum; por outro, o mesmo não podemos dizer sobre o desenvolvimento daqueles que já conhecemos: o Loki, que já foi vilão dos Vingadores, não oferece mais ameaça alguma; o Thor parece um humorista, sugerindo que talvez possa vir a ser o alívio cômico do supergrupo; Heimdall, como sempre, desperdiça o talento de seu intérprete, Idris Elba. Já o Hulk “chutou o balde” para o seu dilema existencial, restando apenas um gigante bobo dentro do excêntrico cientista Banner. Mas há uma química entre todos eles, isso não se pode negar.
Ao final, Waititi entrega uma típica obra da Disney/Marvel, dentro da zona de conforto, sem jamais se arriscar, mas que promete agradar a todos os níveis de público. E que venha a saga “Guerra Infinita”...
*Avaliação: 4,5 pipocas + 3,0 rapaduras = nota 7,5.