quarta-feira, 13 de julho de 2022

Nos Cinemas - O TELEFONE PRETO


Por Rafael Morais

Baseado no conto de Joe Hill (filho de Stephen King) "O Telefone Preto" é dirigido e roteirizado por Scott Derrickson (reeditando a parceria de "A Entidade" com Ethan Hank).

A sinopse dá conta de Finney Shaw (Mason Thames): um tímido, mas esperto, adolescente de 13 anos, que é raptado por um sádico assassino (protagonizado por Ethan Hawke) que o enclausura num cativeiro à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue ouvir as vozes das vítimas anteriores do psicopata. E elas estão decididas a assegurar que o que lhes aconteceu não aconteça a ele.

E para nos contar essa história, o roteiro capricha no primeiro ato quando apresenta os personagens. A criação de laços fraternos entre Finney e sua irmã Gwen (a surpreendente Madeleine McGraw) é o sustentáculo necessário para que o espectador torça e se importe com a carismática dupla até o final. Neste sentido, tanto o elenco infantil quanto o adulto estão afiados, com destaque claro para o núcleo escolar que soa documental tamanha a verossimilhança entregue nas atuações.

A propósito, o pano de fundo com a temática do bullying me fez crer que o longa tomaria caminhos diferentes e se aprofundaria nesse quesito. Mas não. Ficou na superficialidade. Assim como a utilização do aspecto sobrenatural, mal explorado aqui, que começa no mistério envolvendo a mãe de Finney e Gwen, porém, o script não vai adiante com isso. O que é uma pena. No entanto, no pouco que abordou o lado imaterial, me remeteu à fitas como “A Espinha do Diabo”, de Guilhermo Del Toro, por exemplo.

Na verdade, o filme se vende como um terror, mas é um suspense psicológico bem atmosférico que flerta com o horror. É uma obra que não se decide por onde quer transitar sempre permanecendo no meio termo. Os jumps scares bem realizados estão lá, mas em contrapartida o gore é poupado talvez no intuito de alcançar um público mais abrangente. Falta coragem.

É uma pena, inclusive, que Ethan Hawke tenha tão pouco tempo de tela e desenvolvimento de seu vilão. Ficam muitas coisas nas entrelinhas e isso não é salutar. Será que a ideia é desenvolver o “The Grabber” em um spin off?! Vindo da Blumhouse, ultimamente, não duvido nada a forçação para criação de uma franquia.

O fato é que o tom onírico empregado em certos momentos rivaliza com a realidade e deixa a película mais conceitual do que propriamente dona de uma identidade própria. Observe, por exemplo, no uso das máscaras por parte do serial killer. Alegoria interessante para um filme do gênero, mas que jamais acrescenta à narrativa. É a busca ansiosa de tentar conceber um ícone pelo visual característico antes mesmo de engrandecê-lo. O que vejo como um grande equívoco, pois é notória a confusão entre algo ser misterioso e ser mal desenvolvido.

Por fim, entre erros (precária progressão dos personagens e ficando no meio do caminho com relação ao estilo que quer adotar) e acertos (excelente elenco e ótima ambientação); torço para que cortem a linha de “O Telefone Preto” e ele não toque mais.

* Avaliação: 3,5 Pipocas + 2,0 Rapaduras = 5,5.

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