Baseado no conto de Joe Hill
(filho de Stephen King) "O Telefone Preto" é dirigido e roteirizado
por Scott Derrickson (reeditando a parceria de "A Entidade" com Ethan
Hank).
A sinopse dá conta de Finney Shaw
(Mason Thames): um tímido, mas esperto, adolescente de 13 anos, que é raptado
por um sádico assassino (protagonizado por Ethan Hawke) que o enclausura num
cativeiro à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone
desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue
ouvir as vozes das vítimas anteriores do psicopata. E elas estão decididas a
assegurar que o que lhes aconteceu não aconteça a ele.
E para nos contar essa
história, o roteiro capricha no primeiro ato quando apresenta os personagens. A
criação de laços fraternos entre Finney e sua irmã Gwen (a surpreendente
Madeleine McGraw) é o sustentáculo necessário para que o espectador torça e se
importe com a carismática dupla até o final. Neste sentido, tanto o elenco
infantil quanto o adulto estão afiados, com destaque claro para o núcleo
escolar que soa documental tamanha a verossimilhança entregue nas atuações.
A propósito, o pano de fundo com
a temática do bullying me fez crer que o longa tomaria caminhos diferentes e se
aprofundaria nesse quesito. Mas não. Ficou na superficialidade. Assim como a
utilização do aspecto sobrenatural, mal explorado aqui, que começa no mistério
envolvendo a mãe de Finney e Gwen, porém, o script não vai adiante com isso. O
que é uma pena. No entanto, no pouco que abordou o lado imaterial, me remeteu à
fitas como “A Espinha do Diabo”, de Guilhermo Del Toro, por exemplo.
Na verdade, o filme se vende
como um terror, mas é um suspense psicológico bem atmosférico que flerta com o
horror. É uma obra que não se decide por onde quer transitar sempre
permanecendo no meio termo. Os jumps scares bem realizados estão lá, mas em
contrapartida o gore é poupado talvez no intuito de alcançar um público mais
abrangente. Falta coragem.
É uma pena, inclusive, que
Ethan Hawke tenha tão pouco tempo de tela e desenvolvimento de seu vilão. Ficam
muitas coisas nas entrelinhas e isso não é salutar. Será que a ideia é
desenvolver o “The Grabber” em um spin off?! Vindo da Blumhouse, ultimamente, não
duvido nada a forçação para criação de uma franquia.
O fato é que o tom onírico
empregado em certos momentos rivaliza com a realidade e deixa a película mais
conceitual do que propriamente dona de uma identidade própria. Observe, por
exemplo, no uso das máscaras por parte do serial killer. Alegoria interessante
para um filme do gênero, mas que jamais acrescenta à narrativa. É a busca
ansiosa de tentar conceber um ícone pelo visual característico antes mesmo de engrandecê-lo.
O que vejo como um grande equívoco, pois é notória a confusão entre algo ser
misterioso e ser mal desenvolvido.
Por fim, entre erros (precária
progressão dos personagens e ficando no meio do caminho com relação ao estilo
que quer adotar) e acertos (excelente elenco e ótima ambientação); torço para
que cortem a linha de “O Telefone Preto” e ele não toque mais.
* Avaliação: 3,5 Pipocas + 2,0 Rapaduras = 5,5.