Um clássico do horror que ultrapassa gerações.
Rafael Morais
03 de julho de 2012.
O Bebê de Rosemary é uma das raras obras de terror consideradas como antológicas, principalmente porque elevou o gênero ao status de arte, ao trazer uma maturidade no conteúdo e no tratamento dado a um tipo de filme subestimado pelos críticos e desatualizado para sua platéia. Dirigido pelo polêmico e talentoso Roman Polanski, autor de grandes obras cinematográficas como a trilogia do apartamento - Faca na Água, Repulsa ao Sexo e O Inquilino - além do premiado O Pianista, o cineasta se credencia, com o passar do tempo e entre altos e baixos, sobretudo na sua vida pessoal, como um dos maiores diretores do cinema, tanto pelo seu estilo peculiar como pela suas lentes elegantes e "polanskianas" de enxergar uma cena.
A trama conta a história de um casal que se muda para um apartamento em Nova Iorque e passa a se envolver com seus vizinhos, que se tornam indesejavelmente assíduos em suas visitas. Visitas que passarão a ser a causa do transtorno vivido por Rosemary (Mia Farrow). A história se desenvolve a partir do envolvimento de seu marido (John Cassavetes), um fracassado ator, com um casal de idosos que atraem sua atenção desmedida por um obscuro interesse, que envolve Rosemary e sua gravidez.
Inserido nesse contexto, a futura mãe passa a experimentar uma incomum e sofrida gravidez, passando a ser controlada por seus famigerados vizinhos, vivendo um ostracismo doentio e impositivo. Com a crescente tensão em que Rosemary está inserida, suas fugas e solicitações passam a ser consideradas atitudes de insanidade psicológica por seus conhecidos, o que gera uma certa ambigüidade característica no estilo de Polanski.
A sensação que temos é de experimentarmos um certo conflito entre a alucinação e a realidade. Pelo fato do diretor trabalhar o filme nesta linha tênue que separa o mundo pessoal de Rosemary, por isso, ora acreditamos ser real a circunstância do ritual, ora, repentinamente, nos tornamos céticos e julgamos ser um delírio neurótico da personagem, muito embora todos os fatos narrativos nos creditam uma veracidade sobre o casal de feiticeiros.
Mia Farrow entrega uma excelente e "assustadora" atuação, demonstrando toda a sua destreza e habilidade de interpretação que é acentuada por sua frágil e débil aparência, um visual de penúria e resignação terminal. Repare, por exemplo, na magreza esquelética, semblante pálido e olheiras profundas. Méritos também para a maquiagem. Sem dúvida alguma Polanski consegue extrair o melhor de seus atores, como é relevante a sutil invasão interpessoal por parte dos detestáveis vizinhos (Ruth Gordon – a idosa vizinha – ganhou um Oscar por esse filme), que paulatinamente vão manipulando a jovem mãe.
Mia Farrow entrega uma excelente e "assustadora" atuação, demonstrando toda a sua destreza e habilidade de interpretação que é acentuada por sua frágil e débil aparência, um visual de penúria e resignação terminal. Repare, por exemplo, na magreza esquelética, semblante pálido e olheiras profundas. Méritos também para a maquiagem. Sem dúvida alguma Polanski consegue extrair o melhor de seus atores, como é relevante a sutil invasão interpessoal por parte dos detestáveis vizinhos (Ruth Gordon – a idosa vizinha – ganhou um Oscar por esse filme), que paulatinamente vão manipulando a jovem mãe.
Não menos genial é o estilo de narração e o trabalho de movimento de câmera do festejado cineasta, pois durante toda a projeção ele consegue nos inserir no mundo da protagonista, sob o ponto de vista dela, e somente dela. Observe que em nenhum momento, temos uma perspectiva de outro personagem. Até quando o marido vai a uma reunião na casa dos vizinhos, Rosemary fica sozinha em casa, e as especulações sobre o que está acontecendo naquele encontro são inevitáveis. Outro momento emblemático é no primeiro jantar oferecido pelo casal de idosos. Nessa sequência, Rosemary ao sair da cozinha, olha atentamente para a sala, onde o seu marido e o vizinho conversavam, e não conseguindo enxergá-los, avista apenas fumaça saindo daquele sombrio cômodo, denotando uma aura de misticismo, feitiço ou tentação. O que certamente estava acontecendo.
É por demais instigante e arrepiante o fato de que o diretor usou um grupo satanista para fazer algumas cenas ritualísticas, cujas canções rituais entoadas durante a sessão estão presentes na seqüência, o que causa mais incômodo ao assistir estes momentos no filme. Principalmente por saber que Polanski perdera sua esposa, a atriz Sharon Tate, em um macabro assassinato num ritual de uma seita satânica liderada por Charles Mason após ter terminado o presente filme.
Ao fim, Roman Polanski realiza, sem sombra de dúvidas, uma grande obra clássica de terror, com uma qualidade temática e artística sem precedentes feita numa decadente indústria que outrora produzira obras de valor inestimável. É um filme que não deve deixar de ser assistido, para que daí possa se conhecer outras magníficas obras típicas desse gênio atormentado da sétima arte.