O projeto X da geração Y.
Rafael Morais
15 de julho de 2012.
E eu pensava que Ferris Bueller tinha curtido a vida adoidado?! Não, não me entendam mal, pois eu também sou um fã inveterado do filme de 1986, e não perdia nenhuma vez que passava na sessão da tarde. Porém, sei que tudo está proporcional à sua época. Se naqueles tempos, "matar uma aula" para tirar um dia de folga com um amigo e sua namoradinha era algo reprovável, hoje em dia fazer o que Costa, Thomas e J.B fizeram em Projeto X está diretamente proporcional ao nossos tempos.
O filme conta a história destes três adolescentes que fazem parte da "turma invisível", ou seja, aquela patota nada popular da escola, mas que, no aniversário de um deles, resolvem aproveitar que a casa estará vazia e fazer uma festa inesquecível. E, sem medo de spoilers, já adianto: os caras conseguem.
Utilizando-se mais uma vez o estilo de filmagem encontrada (found footage) popularizado em A Bruxa de Blair, aperfeiçoado em Atividade Paranormal e elevado a outro patamar em Poder Sem Limites, Projeto X consegue escapar das armadilhas da fórmula apresentada pelo gênero, ao focar basicamente na tal festa adolescente que foge absurdamente do controle, e acaba virando notícia nacional. A câmera na mão comandada por um colega do trio protagonista faz todo o sentido aqui e te coloca no lugar em que você mais gostaria de estar, no meio da festa, dançando com a galera, tomando tudo o que aparece na frente e aproveitando ao máximo cada segundo. Somando-se à câmera principal, temos trechos captados por iPhones, Blackberries e Flips que a produção forneceu aos atores e figurantes durante a balada épica.
Apesar de muitos críticos torcerem o nariz para a produção, bem como para o desenvolvimento do filme por acharem desmedido e altamente reprovável, do pondo de vista cinematográfico, e até mesmo social. Acredito que o cinema como arte não deve se ater a obras "certinhas" ou comedidas, até porque a censura, passada a fase ditatorial, tornou-se mais branda. Para os que não entenderam o espírito do longa, Projeto X foi feito para a geração YouTube, que vê o mundo em cortes rápidos, através das telinhas das filmadoras digitais barateadas, dos celulares que captam todas as cenas do cotidiano, enfim, do vídeo democratizado. Se você não vestir a camisa da Geração Y, jamais vai entender ou curtir o filme. E Todd Phillips (Caindo na Estrada, Se Beber Não Case, Um Parto de Viagem) conseguiu produzir e entregar um material que condensasse todas as suas obras em uma só. Em um certo momento, parece que estou assistindo a um The Hangover, versão teen.
Apesar de curto - apenas 87 minutos - o ritmo, literalmente, alucinante do longa faz parecer que ele é mais extenso do que realmente é. Até aí, tudo bem. O problema é que o roteiro do promissor Michael Bacall (Scott Pilgrim, Anjos da Lei) não consegue dar um desfecho compatível com o que havia sido mostrado até então. A comédia fica um pouco deixada de lado diante do reaparição de um personagem mostrado lá no início. A história vira quase que um filme de ação/guerra. E a festa apenas termina.
Resumindo, pegue um liquidificador e bata: doses cavalares de Se Beber Não Case, tudo a base de Curtindo a Vida Adoidado, extrato de aroma de Poder Sem Limites, uma pitada de Superbad - É Hoje, com a essência de Bruxa de Blair. Pronto! Chegamos ao resultado no sense que é esse filme. De resto, estão todos os clichês de filmes sobre adolescentes: a vontade de ser popular, o anseio de finalmente pegar alguém, a dificuldade de conseguir bebida, o carrão intocável do pai e tudo que eles têm ou não direito.