quinta-feira, 15 de setembro de 2011

FILME: RANGO


Para Gore Verbinski, a excentricidade e a originalidade caminham lado a lado.
Rafael Morais
08 de setembro de 2011.

Ao terminar de assistir às aventuras e desventuras de Rango (camaleão-título), é impossível não ter a sensação de que vimos algo novo, ou pelo menos, inexplorado. Desde a fantástica sequência inicial, até o desfecho, o filme reserva algumas reviravoltas e diálogos bem humorados, isso graças a um roteiro ambicioso e bem executado, onde a animação encontra no gênero western uma saída para a mesmice hollywoodiana.   

A envolvente trama narra a trajetória de Rango, um excêntrico camaleão que se vê em "mares nunca d'antes navegados", depois de cair acidentalmente de sua gaiola confortável, forçando a pobre criatura a sair da sua solitária "vidinha" de fantasias, para encarar a dura realidade lá fora. E para piorar a situação, o bicho vai parar em uma cidadezinha interiorana atormentada pela falta de água. Por lá, H2O é ouro, é poder, enfim, a água se torna moeda de troca para que os políticos corruptos comprem o seu povo. Alguma semelhança com a nossa realidade?

O sucesso do filme está na técnica apuradíssima de contar a história. Os personagens coadjuvantes, bem como o principal, são carismáticos e cheios de vida, não deixando a desejar em nada à incomparável Pixar, já que a produção é a primeira incursão da Industrial Light & Magic de George Lucas em animações computadorizadas. Repare no detalhismo da galeria de figuras/personagens os quais somos gradativamente apresentados, aqueles  roedores, répteis e anfíbios transformados em criaturas com rostos marcados e marcantes, representam com perfeição os tipos característicos do gênero. Aliás, basta observar alguns animaizinhos de pele ressecada, e tão assolados pelo sofrimento constante no qual vivem - o que não impede que os realizadores também criem bichos mais engraçadinhos - para constatar o equilíbrio buscado pelo cineasta Gore Verbinski.  

A propósito, Verbinski usou e abusou da excentricidade como premissa maior do longa, pois ao criar Rango, um sujeito expressivo e dotado de uma "beleza" exótica, o cineasta tomou a contramão dos filmes do gênero de animação, aqui não vimos bichinhos fofos e meigos, não. O humor reside nos diálogos e nas situações hilárias - gags - organicamente orquestrados. E por falar em gags, como esquecer a cena em que Rango - ao estilo Jerry Lewis em O Terror das Mulheres - tenta , apavorado, limpar a bagunça que fez no rosto de um bandido, e a cada vez que tenta consertar, só piora mais ainda a situação. Hilário!!!

Mas é claro que é mesmo o próprio gênero western que se torna o principal homenageado da produção: a belíssima trilha de Hans Zimmer, por exemplo, faz constantes referências aos temas clássicos de Ennio Morricone, ao passo que seqüências típicas do faroeste dão as caras aqui, como lutas sobre carruagens em movimento, duelos na rua principal de cidadezinhas hostis e brigas em saloons. Além disso, Verbinski se inspira claramente em Sergio Leone ao construir sua narrativa através de closes fechadíssimos nos rostos surrados de seus personagens (muitas vezes trazendo apenas partes de suas faces) e ângulos que ressaltam a natureza grandiosa, mítica, daquelas criaturas.

A direção de arte e o design de som chegam a ser tão incríveis que nenhum detalhe escapa, haja vista a cena em que Rango adentra um sallon ao som de um velho ventilador, as placas espalhadas pela cidade, a funerária fabricando o próximo caixão para o xerife vindouro. Nada é esquecido! Não menos formidável é a fotografia escolhida para o longa, visualmente impecável ao oferecer paisagens extremas - que vão do escuro céu no fim de tarde à superexposição de raios solares que ressalta a secura e o calor daquele universo dominado pela sede - ademais, por duas vezes durante a projeção, pausei o filme para tomar um copo d'água bem gelado. Acredite, a sensação de sede é impressionante.  

Além de tudo, Rango ainda se encerra com créditos finais vibrantes e envolventes, estabelecendo-se como uma experiência cinematográfica ímpar até o minuto final. Sem dúvida, um dos melhores filmes de 2010.


A versão dublada brasileira desta feita ficou impecável! Diferente da desastrosa dublagem de Enrolados da Disney. Trabalhar com profissionais é outra coisa. 




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