quinta-feira, 15 de setembro de 2011

EM CARTAZ: PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM


Cada macaco no seu galho.
Rafael Morais
09 de setembro de 2011.

Para reinventar um clássico é preciso um bom argumento, e em Planeta dos Macacos - A Origem a ideia foi apresentar uma proposta lógica-biológica na evolução dos símios para conquistar o mundo. Até porque, nos filmes anteriores, quando os astronautas - perdidos no espaço - aterrissavam a aeronave, já eram surpreendidos pelo poder e supremacia dos bichos sobre os humanos. Como isso aconteceu? Essa é a premissa do longa.

Analisando a parte técnica relativa aos efeitos visuais/especiais, vislumbramos um trabalho irretocável da empresa Weta Digital de Peter Jackson, que realizou um dos mais impressionantes feitos de computação gráfica já visto nas telas. A criação de chimpanzés, orangotangos e gorilas extremamente realistas chegam em alguns instantes a fazer o espectador se confundir se os bichos são animais de verdade ou crias digitais.  

Mas o que surpreende mesmo é o protagonista, Cesar (gestos de Andy Serkis). O supermacaco inteligente ganha vida no gestual impecável de Serkis - um dos poucos atores de Hollywood a fazer esse tipo de atuação - o ator empresta o seu corpo como um todo para viver o líder da revolução símia, e o resultado é simplesmente fantástico. Vale lembrar que Serkis ficou famoso ao viver o Gollum do Senhor dos Anéis, além de ter atuado em King Kong e o recente Tintim, ou seja, o cara se especializou na técnica da captura de performance.    

O olhar humano que se percebe através das feições símias de Cesar causa uma mistura de fascínio e terror, dualismo conquistado pelo certeiro equilíbrio entre selvageria e humanidade que se dá ao personagem. De um ser dócil e companheiro, Cesar pode provar-se uma ameaça explosiva em segundos. A dúvida paira na cabeça do macaco que não vê diferença para o homem (ser humano): Penso, logo existo! Descobrir as amarras que lhe prendem é o primeiro passo para conseguir a liberdade, e não demorou para ele descobrir.

Com relação ao restante do elenco, parece que James Franco, Freida Pinto, Brian Cox, Tom Felton e David Oyelowo não conseguiram reagir ao trabalho de Serkis. Curiosamente,  o núcleo símio é bem mais realista do que os humanos. Ainda bem que o roteiro dá menos importância à nossa espécie da metade para o fim, deixando a macacada reunida "tocar o terror".

Além dessas atuações abaixo da média, outro ponto fraco do filme é uma tola tentativa de  trazer um personagem - o vizinho de Will - para quebrar a tensão, como um sujeito mais chato e azarado do mundo, ou na caricaturesca expressão símia do tratador "bonzinho" que cuida dos macacos. Isso, de fato, não funcionou.

Entretanto, não sejamos de todo injusto, porque Charles (John Lithgow), por sua vez, tem as melhores cenas do filme fora do núcleo símio. É a doença de seu personagem, o Mal de Alzheimer, afinal, que motiva seu filho Will Rodman (James Franco) a realizar experiências genéticas em macacos. Cesar é o resultado de um desses testes. É também o pai, um erudito, quem batiza o pequeno chimpanzé como o ditador romano. Em sua cabeceira repousa Julio César, a obra de William Shakespeare - e encontra-se nesse ponto da trama outro dos melhores momentos da produção. 

A direção de arte é extremamente competente e fidedigna a alguns trechos da obra original. Observe que em uma das cenas, vimos o, ainda, pequeno Cesar, na casa de Will (Franco) brincando inocentemente/inconscientemente com uma miniatura da estátua da liberdade no seu quarto. O lúdico defronte à iminente realidade. É de emocionar! 

Por falar em emoção, a sequência da batalha na ponte Golden Gate é especialmente brilhante. Na organização de seu exército e nas táticas de Cesar encontra-se a estratégia romana de guerra. Há lanceiros, formações defensiva e um flanqueamento por três pontos que devem empolgar quem gosta de táticas militares. É de deixar qualquer um boquiaberto, literalmente.

Enfim, o prelúdio, ao mesmo tempo, homenageia os filmes originais e busca caminhos inéditos para a franquia, jamais parecendo desesperado por continuações ou sequências. Wyatt é especialmente bem-sucedido nas sequências em que o drama funciona como um filme de cadeia. Sem diálogos, o diretor consegue apresentar a complexa dinâmica do abrigo para animais de maneira totalmente visual, uma arte perdida no "verborrágico" e superexplicativo cinema de hoje (Vide Lanterna Verde).


"A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras."
Carlos Drummond de Andrade


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