segunda-feira, 26 de setembro de 2011

FILME: LUNAR

















Ficção científica indie diz para que veio.
Rafael Morais
19 de setembro de 2011.

O que sobra de conteúdo, falta em verba, apoio e divulgação. Assim são os filmes indie - abreviatura de independente - produções realizadas com os recursos próprios do cineasta, sem a ajuda de grandes estúdios. 

Nesse contexto, Lunar se insere como um Sci-Fi dotado de um conteúdo filosófico, estando mais para 2001 - Uma Odisseia no Espaço e Solaris, do que os blockbusters glicerinados: Transformers e Distrito 9. Definitivamente, Lunar veio para somar. 

Duncan Jones, filho de David Bowie, dirige a produção independente - é também diretor de Contra o Tempo, o seu 2º filme no currículo, resenha postada em 26/07/2011 - com parcos recursos, mas nem por isso o resultado deixa de ser esplêndido. Orçado em apenas 5 milhões, vislumbramos sets minimalistas, a la Kubrick, e as poucas e decisivas cenas exteriores, na superfície da lua, tornam-se inverossímeis, de toda sorte o seu sucesso não depende de efeitos especiais/visuais, pelo contrário, o talento do cineasta e do elenco é que sustenta o filme.

Sam Rockwell  tem aqui um dos melhores papéis de sua carreira - e sabe aproveitá-lo com a entrega habitual. Ele passa quase todo o filme atuando sozinho. Suas únicas interações são com seu robô-auxiliar, completo com emotions para expressar suas "emoções" simuladas, o sistema operacional Gerty. Kevin Spacey dubla a máquina, atualizando a frieza distante de Hal 9000 com um tom preocupado e camarada.

Rockwell vive Sam Bell, empregado no fim do seu contrato com as empresas Lunar. Ele tem sido um empregado fiel à companhia há três anos, vivendo na base batizada de Selene, onde reside enquanto supervisiona a mineração de Helium 3. O precioso gás lunar é a chave para reverter toda a crise de energia da Terra. Sam sonha com o dia em que retornará à Terra, para ficar com sua esposa (Dominique McElligott) e filha (Kaya Scodelario), assim que terminar seu turno, mas a Lunar não vê o futuro dessa forma.

A premissa é fundamentada em estudos e pesquisas científicas (o Helium 3 e suas teorias de exploração existem em publicações) empregadas nesse cenário distante e lunático para abordar temas como individualidade, resistência e isolamento. Jones é igualmente competente ao criar situações de solidão e rotina, imersas em "diálogos" e pensamentos introspectivos interessantíssimos.  Os textos demonstram o realismo fantástico que é morar no espaço, distante de tudo e de todos, e ter como único amigo e confidente um robô. 

Apesar de ser um filme complexo e denso, as pontas soltas acabam bem amarradas, sem tornar-se superexplicativo e confiando no mínimo de inteligência do espectador. Viva as produções indie!


No Brasil, o filme chegou diretamente às locadoras. Cópias para o cinema não são tão fáceis quando o resultado, mesmo que satisfatório, não conta com grandes cifras. Os indie's não têm vez frente aos blockbuster's. 

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