sexta-feira, 30 de setembro de 2011

EM CARTAZ: CONTRA O TEMPO

Um Sci-fi que perpassa a ação, o drama e o suspense de forma sensível e convincente.
Rafael Morais
26 de julho de 2011.     


Há tempos não assistia a um bom filme de ficção científica cercado por outros gêneros. E foi em Contra o Tempo que veio essa grata surpresa. 

No longa, o Capitão Stevens (Jake Gyllenhall) acorda em um trem e se vê na pele de um homem que ele não conhece, descobrindo, assim, que, sem seu consentimento, está fazendo  parte de um experimento (antiterrorista) criado pelo governo norte-americano chamado "Código Fonte" (Source Code, título original). O programa possibilita que Stevens assuma a identidade de um outro homem em seus últimos 8 minutos de vida. Assim, sua missão é encontrar os terroristas responsáveis por um atentado que deixou milhares de vítimas e, principalmente, impedir outro ataque.

Inicialmente, temos uma falsa e precipitada impressão de que toda a trama não passa de um Déjà Vu, e isso não é apenas aquele sentimento de já ter visto algo parecido antes, mas por ser bem assemalhado ao filme estrelado por Denzel Washington e dirigido por Tony Scott em 2006. Mas, não se preocupem, como disse, é apenas uma pseudo impressão.    

Contudo, o filme não é tão simples quanto parece, exigindo, sobremaneira, uma atenção redobrada do espectador, uma vez que, com o passar da projeção, alguns personagens de capital importância dão o ar da graça, emaranhando, cada vez mais, a árdua missão do Capitão.

Nesse passo, somos apresentados a uma Capitã (vivida pela expressiva Vera Farmiga) que acrescenta doses de humanidade e objetividade às principais cenas da película. É ela que dá o briefing (instuções) de cada inserção do atordoado Stevens aos últimos 8 minutos naquele trem que, inevitavelmente, irá explodir. O personagem de Farmiga é essencial ao roteiro, pois traz consigo um toque de sensibilidade frente à frieza daquele experimento, tornando-a  imprescindível ao desfecho do filme.    

Mais uma vez Gyllenhall encara o papel de protagonista e não faz feio. O jovem ator se insere, paulatinamente, como um dos seletos da nova geração e isso acontece, especialmente, porque as suas atuações convencem e há uma entrega do ator para com o personagem. Sem falar no emergente diretor Duncan Jones (filho do elogiado David Bowie), cineasta ainda injustiçado pela pouca divulgação e distribuição do notável Lunar (ficção científica indie de 2009), filme de estreia do diretor. Agora, Jones tem nas mãos uma produção de grande porte impondo sua câmera/visão eletrizante e tensa, e aí ele não deixa a desejar.  

Enfim, vale salientar que essa resenha não tem o condão de spoiler (entregar ou citar cenas importantes do filme), até porque o seu final deixa algumas pontas soltas (talvez de forma proposital) e apenas poucas certezas, das quais não direi quais são. Mas, acima de tudo, é uma competente produção que nos prende do início ao fim, sem "pestanejar".



Atenção: O filme só veio estrear hoje, 30/09/11. A equipe do Pipoca&Rapadura teve a chance de assistir a uma espécie de premiere, em 26/07/11Fomos, literalmente, "contra o tempo"  .   ; )

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

E A RAPADURA DE OURO DA SEMANA VAI PARA ...


A vida é mais fácil para quem não tem nada a perder.
Rafael Morais
28 de setembro de 2011.

A França, por ser um país cosmopolita, abraça todas as etnias e culturas, e isso é bem retratado em seus filmes e literaturas. Liberté, Égalité, Fraternité. Em O Profeta, percebemos a importância dessas três máximas, pois um sujeito sem liberdade, dificilmente será visto com igualdade, e assim, a tal fraternidade andará a léguas da sua realidade. 

Não foi à toa que o filme ganhou várias premiações festivais afora, entre eles o Grande Prêmio do júri em Cannes em quase todas as categorias. A obra aborda com seriedade um tema de grande valia para a sociedade: o sistema prisional. Uma análise desesperadora acerca do papel sócio-educativo invertido dentro de uma penitenciária. A ressocialização de um indivíduo torna-se quase impossível, fazendo com que um mero "ladrão de galinhas", saia lá de dentro um experiente e influente criminoso.

O espectador mais atento perceberá que o filme se ambienta em uma França pós-euro, onde essa moeda passa a vigorar em substituição de todas as outras, como o Franco, por exemplo. Repare que as relações multiétnicas e as constantes confluências de culturas dentro da prisão, representam fielmente essa situação cambial-econômica que o país e o continente se encontravam. 

O longa acompanha a trajetória do francês de origem árabe Malik El Djebena (Tahar Rahim) de 19 anos, que após uma suposta agressão a um policial, acaba preso. O roteiro, propositalmente, não explica e nem deixa claro se o prisioneiro realmente cometeu o ilícito. Apenas sabemos que a sua pena será de 6 anos. Com isso, durante as duas horas e meia de filme, percebemos, aos poucos, que essas são pseudoquestões, já que o que aconteceu no passado do jovem delinquente não importa. O que vale mesmo é saber como Malik irá superar os desafios de conviver com diferentes culturas e bandidos de toda espécie. 

Aproveitando-se do novato Malik, os ítalo-franceses, que dominam a penitenciária, liderados pelo implacável veterano César Luciani (Arestrup), obrigam-no a matar um outro encarcerado, alterando definitivamente sua estada naquele purgatório. Escolher o inexpressivo Malik para cometer tal crime não foi tarefa das mais difíceis, pois o novel prisioneiro não tinha influência no "mundo do crime"; a sua figura não impunha a respeitabilidade necessária para a sua vital sobrevivência ali dentro. A ausência de amigos, e também de inimigos, não significa algo louvável, pelo contrário, o morno não tem vez dentro do sistema.

Mas esse cenário logo mudaria, pois Malik aprendeu rápido que precisava de aliados, e aos poucos passou a ganhar mais confiança graças à sua humildade e subserviência. Com a aliança aos mafiosos italianos, o jovem francês fechou as portas para o segundo grupo de dominantes, os muçulmanos franceses. Temos aí, portanto, um arco dramático completo para apresentar a ascensão do "faz tudo", aquele que contra tudo e todos respeita a hierarquia, sem, no entanto, deixar de buscar a sua independência, ameaçando provar aos chefões que pode mais.


Ao abordar temas como o sistema penitenciário - como um entrave universal - sob uma visão holística, o filme acrescenta tons e preocupações sociais relevantes. Já como obra cinematográfica, a produção prende a nossa atenção, uma vez que as cenas de ação - homicídios encomendados, tocaias, tiroteios, violência dentro e fora das "jaulas" - são realizadas, na maioria das vezes, com a câmera não mão, que tremulante e perspicaz representa fielmente o nervosismo inerente à ação do personagem. Algumas cenas dentro da prisão lembra Carandiru (2003, Hector Babenco), devido à visceralidade do homem como animal agrupador inserido em uma situação limite. Nesse contexto, a semelhança entre o homem (ser humano) e um animal irracional acuado são impressionantes.


Outra comparação inevitável é com o clássico O Poderoso Chefão. O diretor Jacques Audiard bebeu da fonte de Coppola ao empregar a hierarquia do mafioso César sobre os demais. Repare que quando o líder entra em cena, temos a impressão de que ele não faz parte daquele meio, parece não estar aprisionado, onde as regras e as leis não o afetam. Permanecer acima do bem e do mal é o seu mister.


As cenas finais propõem uma profundidade de campo em um plano aberto, onde as relações de respeito e hierarquia lembram as questões de família vs. negócio do referido clássico.



Imperdível!
             

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

FILME: LUNAR

















Ficção científica indie diz para que veio.
Rafael Morais
19 de setembro de 2011.

O que sobra de conteúdo, falta em verba, apoio e divulgação. Assim são os filmes indie - abreviatura de independente - produções realizadas com os recursos próprios do cineasta, sem a ajuda de grandes estúdios. 

Nesse contexto, Lunar se insere como um Sci-Fi dotado de um conteúdo filosófico, estando mais para 2001 - Uma Odisseia no Espaço e Solaris, do que os blockbusters glicerinados: Transformers e Distrito 9. Definitivamente, Lunar veio para somar. 

Duncan Jones, filho de David Bowie, dirige a produção independente - é também diretor de Contra o Tempo, o seu 2º filme no currículo, resenha postada em 26/07/2011 - com parcos recursos, mas nem por isso o resultado deixa de ser esplêndido. Orçado em apenas 5 milhões, vislumbramos sets minimalistas, a la Kubrick, e as poucas e decisivas cenas exteriores, na superfície da lua, tornam-se inverossímeis, de toda sorte o seu sucesso não depende de efeitos especiais/visuais, pelo contrário, o talento do cineasta e do elenco é que sustenta o filme.

Sam Rockwell  tem aqui um dos melhores papéis de sua carreira - e sabe aproveitá-lo com a entrega habitual. Ele passa quase todo o filme atuando sozinho. Suas únicas interações são com seu robô-auxiliar, completo com emotions para expressar suas "emoções" simuladas, o sistema operacional Gerty. Kevin Spacey dubla a máquina, atualizando a frieza distante de Hal 9000 com um tom preocupado e camarada.

Rockwell vive Sam Bell, empregado no fim do seu contrato com as empresas Lunar. Ele tem sido um empregado fiel à companhia há três anos, vivendo na base batizada de Selene, onde reside enquanto supervisiona a mineração de Helium 3. O precioso gás lunar é a chave para reverter toda a crise de energia da Terra. Sam sonha com o dia em que retornará à Terra, para ficar com sua esposa (Dominique McElligott) e filha (Kaya Scodelario), assim que terminar seu turno, mas a Lunar não vê o futuro dessa forma.

A premissa é fundamentada em estudos e pesquisas científicas (o Helium 3 e suas teorias de exploração existem em publicações) empregadas nesse cenário distante e lunático para abordar temas como individualidade, resistência e isolamento. Jones é igualmente competente ao criar situações de solidão e rotina, imersas em "diálogos" e pensamentos introspectivos interessantíssimos.  Os textos demonstram o realismo fantástico que é morar no espaço, distante de tudo e de todos, e ter como único amigo e confidente um robô. 

Apesar de ser um filme complexo e denso, as pontas soltas acabam bem amarradas, sem tornar-se superexplicativo e confiando no mínimo de inteligência do espectador. Viva as produções indie!


No Brasil, o filme chegou diretamente às locadoras. Cópias para o cinema não são tão fáceis quando o resultado, mesmo que satisfatório, não conta com grandes cifras. Os indie's não têm vez frente aos blockbuster's. 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

EM CARTAZ: PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM


Cada macaco no seu galho.
Rafael Morais
09 de setembro de 2011.

Para reinventar um clássico é preciso um bom argumento, e em Planeta dos Macacos - A Origem a ideia foi apresentar uma proposta lógica-biológica na evolução dos símios para conquistar o mundo. Até porque, nos filmes anteriores, quando os astronautas - perdidos no espaço - aterrissavam a aeronave, já eram surpreendidos pelo poder e supremacia dos bichos sobre os humanos. Como isso aconteceu? Essa é a premissa do longa.

Analisando a parte técnica relativa aos efeitos visuais/especiais, vislumbramos um trabalho irretocável da empresa Weta Digital de Peter Jackson, que realizou um dos mais impressionantes feitos de computação gráfica já visto nas telas. A criação de chimpanzés, orangotangos e gorilas extremamente realistas chegam em alguns instantes a fazer o espectador se confundir se os bichos são animais de verdade ou crias digitais.  

Mas o que surpreende mesmo é o protagonista, Cesar (gestos de Andy Serkis). O supermacaco inteligente ganha vida no gestual impecável de Serkis - um dos poucos atores de Hollywood a fazer esse tipo de atuação - o ator empresta o seu corpo como um todo para viver o líder da revolução símia, e o resultado é simplesmente fantástico. Vale lembrar que Serkis ficou famoso ao viver o Gollum do Senhor dos Anéis, além de ter atuado em King Kong e o recente Tintim, ou seja, o cara se especializou na técnica da captura de performance.    

O olhar humano que se percebe através das feições símias de Cesar causa uma mistura de fascínio e terror, dualismo conquistado pelo certeiro equilíbrio entre selvageria e humanidade que se dá ao personagem. De um ser dócil e companheiro, Cesar pode provar-se uma ameaça explosiva em segundos. A dúvida paira na cabeça do macaco que não vê diferença para o homem (ser humano): Penso, logo existo! Descobrir as amarras que lhe prendem é o primeiro passo para conseguir a liberdade, e não demorou para ele descobrir.

Com relação ao restante do elenco, parece que James Franco, Freida Pinto, Brian Cox, Tom Felton e David Oyelowo não conseguiram reagir ao trabalho de Serkis. Curiosamente,  o núcleo símio é bem mais realista do que os humanos. Ainda bem que o roteiro dá menos importância à nossa espécie da metade para o fim, deixando a macacada reunida "tocar o terror".

Além dessas atuações abaixo da média, outro ponto fraco do filme é uma tola tentativa de  trazer um personagem - o vizinho de Will - para quebrar a tensão, como um sujeito mais chato e azarado do mundo, ou na caricaturesca expressão símia do tratador "bonzinho" que cuida dos macacos. Isso, de fato, não funcionou.

Entretanto, não sejamos de todo injusto, porque Charles (John Lithgow), por sua vez, tem as melhores cenas do filme fora do núcleo símio. É a doença de seu personagem, o Mal de Alzheimer, afinal, que motiva seu filho Will Rodman (James Franco) a realizar experiências genéticas em macacos. Cesar é o resultado de um desses testes. É também o pai, um erudito, quem batiza o pequeno chimpanzé como o ditador romano. Em sua cabeceira repousa Julio César, a obra de William Shakespeare - e encontra-se nesse ponto da trama outro dos melhores momentos da produção. 

A direção de arte é extremamente competente e fidedigna a alguns trechos da obra original. Observe que em uma das cenas, vimos o, ainda, pequeno Cesar, na casa de Will (Franco) brincando inocentemente/inconscientemente com uma miniatura da estátua da liberdade no seu quarto. O lúdico defronte à iminente realidade. É de emocionar! 

Por falar em emoção, a sequência da batalha na ponte Golden Gate é especialmente brilhante. Na organização de seu exército e nas táticas de Cesar encontra-se a estratégia romana de guerra. Há lanceiros, formações defensiva e um flanqueamento por três pontos que devem empolgar quem gosta de táticas militares. É de deixar qualquer um boquiaberto, literalmente.

Enfim, o prelúdio, ao mesmo tempo, homenageia os filmes originais e busca caminhos inéditos para a franquia, jamais parecendo desesperado por continuações ou sequências. Wyatt é especialmente bem-sucedido nas sequências em que o drama funciona como um filme de cadeia. Sem diálogos, o diretor consegue apresentar a complexa dinâmica do abrigo para animais de maneira totalmente visual, uma arte perdida no "verborrágico" e superexplicativo cinema de hoje (Vide Lanterna Verde).


"A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras."
Carlos Drummond de Andrade


FILME: RANGO


Para Gore Verbinski, a excentricidade e a originalidade caminham lado a lado.
Rafael Morais
08 de setembro de 2011.

Ao terminar de assistir às aventuras e desventuras de Rango (camaleão-título), é impossível não ter a sensação de que vimos algo novo, ou pelo menos, inexplorado. Desde a fantástica sequência inicial, até o desfecho, o filme reserva algumas reviravoltas e diálogos bem humorados, isso graças a um roteiro ambicioso e bem executado, onde a animação encontra no gênero western uma saída para a mesmice hollywoodiana.   

A envolvente trama narra a trajetória de Rango, um excêntrico camaleão que se vê em "mares nunca d'antes navegados", depois de cair acidentalmente de sua gaiola confortável, forçando a pobre criatura a sair da sua solitária "vidinha" de fantasias, para encarar a dura realidade lá fora. E para piorar a situação, o bicho vai parar em uma cidadezinha interiorana atormentada pela falta de água. Por lá, H2O é ouro, é poder, enfim, a água se torna moeda de troca para que os políticos corruptos comprem o seu povo. Alguma semelhança com a nossa realidade?

O sucesso do filme está na técnica apuradíssima de contar a história. Os personagens coadjuvantes, bem como o principal, são carismáticos e cheios de vida, não deixando a desejar em nada à incomparável Pixar, já que a produção é a primeira incursão da Industrial Light & Magic de George Lucas em animações computadorizadas. Repare no detalhismo da galeria de figuras/personagens os quais somos gradativamente apresentados, aqueles  roedores, répteis e anfíbios transformados em criaturas com rostos marcados e marcantes, representam com perfeição os tipos característicos do gênero. Aliás, basta observar alguns animaizinhos de pele ressecada, e tão assolados pelo sofrimento constante no qual vivem - o que não impede que os realizadores também criem bichos mais engraçadinhos - para constatar o equilíbrio buscado pelo cineasta Gore Verbinski.  

A propósito, Verbinski usou e abusou da excentricidade como premissa maior do longa, pois ao criar Rango, um sujeito expressivo e dotado de uma "beleza" exótica, o cineasta tomou a contramão dos filmes do gênero de animação, aqui não vimos bichinhos fofos e meigos, não. O humor reside nos diálogos e nas situações hilárias - gags - organicamente orquestrados. E por falar em gags, como esquecer a cena em que Rango - ao estilo Jerry Lewis em O Terror das Mulheres - tenta , apavorado, limpar a bagunça que fez no rosto de um bandido, e a cada vez que tenta consertar, só piora mais ainda a situação. Hilário!!!

Mas é claro que é mesmo o próprio gênero western que se torna o principal homenageado da produção: a belíssima trilha de Hans Zimmer, por exemplo, faz constantes referências aos temas clássicos de Ennio Morricone, ao passo que seqüências típicas do faroeste dão as caras aqui, como lutas sobre carruagens em movimento, duelos na rua principal de cidadezinhas hostis e brigas em saloons. Além disso, Verbinski se inspira claramente em Sergio Leone ao construir sua narrativa através de closes fechadíssimos nos rostos surrados de seus personagens (muitas vezes trazendo apenas partes de suas faces) e ângulos que ressaltam a natureza grandiosa, mítica, daquelas criaturas.

A direção de arte e o design de som chegam a ser tão incríveis que nenhum detalhe escapa, haja vista a cena em que Rango adentra um sallon ao som de um velho ventilador, as placas espalhadas pela cidade, a funerária fabricando o próximo caixão para o xerife vindouro. Nada é esquecido! Não menos formidável é a fotografia escolhida para o longa, visualmente impecável ao oferecer paisagens extremas - que vão do escuro céu no fim de tarde à superexposição de raios solares que ressalta a secura e o calor daquele universo dominado pela sede - ademais, por duas vezes durante a projeção, pausei o filme para tomar um copo d'água bem gelado. Acredite, a sensação de sede é impressionante.  

Além de tudo, Rango ainda se encerra com créditos finais vibrantes e envolventes, estabelecendo-se como uma experiência cinematográfica ímpar até o minuto final. Sem dúvida, um dos melhores filmes de 2010.


A versão dublada brasileira desta feita ficou impecável! Diferente da desastrosa dublagem de Enrolados da Disney. Trabalhar com profissionais é outra coisa. 




segunda-feira, 12 de setembro de 2011

NOS PALCOS: LOUCURAS DE AMOR


Carri Costa é o Carlitos cearense, guardada as proporções.

Rafael Morais
12 de setembro de 2011.

A Cia. Cearense de Molecagem apresenta o seu 6º trabalho, a peça Loucuras de Amor  estrelada pelo genial Carri Costa (Quintino Paixão), que vive um mototaxista, e a talentosa Solange Teixeira (Alberlenia Tenório), como uma depiladora.

O domingo à noite geralmente é melancólico, mas não foi o que aconteceu ontem (11/09/11), pelo menos para mim, no que pese os 10 anos do atentado às torres gêmeas, o programa dominical que escolhi, ajudou e muito para não me recordar da fatídica data. Também, com Carri Costa em cena, quem "desabou" de rir foi a plateia. Foi um verdadeiro "atentado" ao mau humor. Que me desculpem os infames trocadilhos, mas a vida deve continuar e com bom humor é mais fácil superar os nossos problemas, afinal somos cearenses e enxergamos anedotas disfarçadas de desgraças.

Escrito e dirigido por Carri, o espetáculo tem uma premissa simplória, pois as idas e vindas de um casal e os seus contratempos já foram tema de inúmeras histórias teatrais e cinematográficas. Contudo, o diferencial está na forma de contar a trama. É aí que a comédia cearense deita e rola no palco, onde as marcações parecem tão familiares para a dupla de atores, quanto os cômodos de suas casas. 

Com efeito, o figurino ajuda a ambientar e contemporizar organicamente a montagem da peça, assim como o cenário limitado e suficiente, porque Carri consegue aproveitar cada carpintaria colocada em cena, cada metro, para ele, é uma possibilidade de criar.  

A harmonia da dupla, somada à linguagem "cearensês" do enredo, resulta em uma peça singelamente perfeita. O fato é que fazer o básico, hoje em dia, tornou-se o complexo de outrora. Tudo está mais sofisticado e inventado do que o necessário. O velho e bom "feijão com arroz" quase ninguém consegue mais realizar. Vale lembrar que o memorável Charles Chaplin construía seus filmes imersos em argumentos rasos, porém executado com maestria e genialidade. 

A história se passa em uma rodoviária, Alberlania está decidida a voltar para sua terra natal, Saboeiro. Com isso, ela pretende deixar o passado para trás e superar o fim de um relacionamento que durou quinze anos. Mas para a sua surpresa, ali naquela estação, o seu ex-marido vai tentar de todas as maneiras convencê-la a mudar de ideia.

Acontece que entre uma passagem anulada e outra remarcada, o casal vai relembrando os momentos felizes e difíceis que viveram juntos, tudo isso tendo a plateia como testemunha, já que fazemos parte do elenco como passageiros da rodoviária. A identificação teatro x público é instantânea. O ambiente nos envolve e a espontaneidade de Carri impressiona, o ator tem o carisma e uma molecagem natural, algo que surge sem fazer esforço, ditando o ritmo e graduando o termômetro das gargalhadas extraídas do público.

Os diálogos propõem um "território" impreciso e "bipolar" dos apaixonados. A complicada engenharia da atração e suas nuances (as cantadas são muito bem sacadas), as complicações da mulher, o machismo do homem, os grandes e pequenos gestos, a dualidade do tema fidelidade, os encontros e desencontros, está tudo colocado lá de maneira clara e desprovida de malícia. 

A sátira e a comédia são combinadas para encenar as idas e vindas dos relacionamentos, sob as batidas do coração apaixonado e as "gaiatices" do nosso humor. Em tempos de stand-up's nada originais, um espetáculo desse estilo é muito bem vindo. Garanto que você vai "se abrir da marmota".

A Cia. irá sair em temporada por São Paulo - Capital, no mês de outubro, com as peças Tita & Nic, As Vizinhas e Cacos de Família (resenha postada em 04/04/11), sem nenhum patrocínio. O apoio e incentivo à cultura é algo raro por aqui. Que vergonha!!




sábado, 3 de setembro de 2011

EM CARTAZ: LANTERNA VERDE


Aceso o sinal vermelho para o herói esverdeado da DC Comics.
Rafael Morais
04 de setembro de 2011.

De todos os personagens da DC Comics, o Lanterna Verde é o que tem o universo mais complexo. Afinal, o super-herói faz parte da Tropa dos Lanternas Verdes, formada por mais de 3.600 defensores da paz na galáxia. O pano de fundo, rico em infinitas possibilidades de interação entre esses seres e os de outros planetas, como a Terra, por exemplo, credenciava o filme a um resultado apoteótico. Entretanto, a expectativa não foi correspondida, colimando em uma fracassada adaptação.
Os contratempos existem desde a superficial apresentação do planeta Oa - Lar dos Guardiões da Galáxia - até a falta de detalhamento de seus ocupantes, os Lanternas Verdes. Diferente de Asgard (Thor - Marvel), Oa não exprime uma verossimilhança de que aquele lugar possa existir, ou até mesmo, de estar em harmonia com os outros planetas, justo porque falta uma narrativa mais convincente e os combates/conflitos dos outros lanternas são esquecidos, dando foco apenas no lanterna humano/guardião da Terra (Hall Jordan - Ryan Reynolds)
Apesar da boa atuação de personagens coadjuvantes como o Sinestro (Mark Strong) e do vilão Hector Hammond (Peter Sarsgaard), que os tornam de longe os mais reais do filme, a entrega desses atores, definitivamente, não segura o filme. Aliás, por falar em prender o espectador, a história não hipnotiza nem criança, muito menos adulto, haja vista que durante a projeção - na minha sessão, pelo menos - era comum constatar o vaivém dos espectadores nas poltronas,  saindo para comprar bombons, pipocas e visitando o toilet com mais frequência, tudo na esperança que, de repente, o longa melhorasse exponencialmente. Falsa ilusão!  

Confesso que em um dado momento, quase adormeci. Vale dizer que isso só tinha me acontecido em Harry Potter - As relíquias da morte 7.2, porém, no filme do bruxo, o fato de não ter lido nenhum livro da saga, pode justificar o cochilo.
O que vale, afinal, a única rapadura representada na avaliação? O design, a qualidade da computação gráfica, e, principalmente, os efeitos 3D. Acredite, só não joguei dinheiro fora graças à ilusão de ótica que os óculos tridimensionais conseguem nos proporcionar. Para não ser injusto, o treinamento de Hal Jordan para se tornar um dos lanternas é uma sequência positiva, pinçada no meio da desastrosa película.
A história carece de intensidade e aprofundamento, o que era rico nas HQ's e animações, tornou-se pobre nas telonas. Interessante que o cinema tem o poder de aumentar - não só em tamanho, mas em valorizar cada cena - e em Lanterna Verde não houve essa simbiose.
Na ilógica trama, o herói é apresentado como o melhor piloto de provas da Ferris Aeronáutica,  que desafia a todo instante seus medos - tema central do filme - mas a memória do pai, morto em um acidente durante um teste, é a barreira entre Hal e o que ele pode se tornar, o homem que pode ser. O problema é que isso é trabalhado com mão extremamente pesada pelo roteiro, além de ser repetitivo e chato.
Os conflitos de Hal ficam apenas na superfície sem fazer muito sentido e o diretor Martin Campbell, que deixou claro estar ali pelo tamanho do cheque, não tem qualquer afinidade com a obra original e nada faz como cineasta para mudar isso. Repare que o texto cria as situações de conflito para resolvê-las com falatório. 
Ao invés do super-herói aprender lições sobre amadurecimento e responsabilidade, simplesmente, ouve da ex-namorada, Carol Ferris (Blake Lively), em uma sequência tediosa, o que precisa para seguir adiante. Tudo soa como uma obra de auto-ajuda super-heróica.  Como se não bastasse mastigar o roteiro, a solução para os problemas do herói esverdeado se repete tantas vezes, que chega a subestimar a inteligência do espectador. A obviedade do discurso menospreza os vastos recursos cinematográfico que poderiam ter sido utilizados, sutilmente, para uma explanação mais orgânica e perspicaz. 
Que vilões adoram explicar seus planos, todo mundo já sabe, mas em Lanterna Verde essa é uma característica geral, ganhando até um narrador para deixar tudo ainda mais claro.

O verde é cor da esperança, e esta é a última que morre. Tomara que não venha sequência por aí.







FILME: VELOZES E FURIOSOS 5 - OPERAÇÃO RIO

Alguns homens e nenhum segredo. 
Rafael Morais
30 de agosto de 2011.

Antes de mais nada, vai um dado: nenhum carioca/fluminense foi ferido durante as filmagens. Eram todos caribenhos, afinal. Pois é, em Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio, só foram realizadas 5% das filmagens por aqui, o restante aconteceu em Porto Rico. Claro que essa trucagem de usar dublês de cidades é tudo uma questão de estrutura (mão de obra, impostos, viabilidade de fechar ruas, entre outros), contudo essa farsa só funciona legal pra quem não conhece o lugar real. O que não é o nosso caso.
Vamos reconsiderar esse ponto e partir para o roteiro. Agora sim, algo interessante? Sinto informar, mas a premissa de Velozes e Furiosos, que alavancou a franquia, mudou e muito. Nada há mais naquele mundo unferground de rachas e pegas alucinantes. Nem resquício dele restou nesse último filme. Acredito até que o roteirista Chris Morgan pensou assim: "Vamos reunir toda a trupe dos filmes anteriores ( Chris “Ludacris” Bridges, Tyrese Gibson, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Elsa Pataky, Don Omar e Tego Calderon) para fazer um assalto a banco - não é o Banco Central de Fortaleza, ainda bem - e colocar no encalço da gangue um policial linha dura (The Rock) pra quebrar o pau com Vin em alguma cena." 
Mudar radicalmente de temática - antes, um filme mais descolado "car porn", agora uma ação/policial desloucada - demonstra que a franquia seguiu uma tendência das últimas produções hollywoodianas, lançar longas acerca de golpes recheados de reviravoltas pífias. Bem longe do resultado surpreendente conquistado em filmes como Saída de mestre , Plano Perfeito e Efeito Dominó. 

Aliás, a cena em que conseguem as digitais da palma da mão boba do mafioso Reis (vivido pelo ator português Joaquim de Almeida) é uma tentativa frustrada em imitar a icônica franquia Missão Impossível, no seu melhor estilo, a investigação.
Na pobre trama, os amigos Dominic Toretto (Vin Diesel) Brian (Paul Walker) se veem escondidos e foragidos nas favelas do "Rio de Janeiro", já que estão perseguidos pela Polícia Federal e sem nenhuma "banda" de dinheiro. Mas, quem tem Dom como amigo, tem tudo. O grandão arma um plano daqueles para sair da pindaíba, pretendendo assim, ajudar o amigo e cunhado Brian  casado com a sua irmã, que está grávida. 
A ação é cada vez mais exagerada, apesar de ser bem filmada e coreografada (as sequências de abertura e encerramento são absolutamente enlouquecidas e sem qualquer apego às leis da física) e o roteiro, anencéfalo, ignora a coerência (como a Equipe Toretto consegue seus equipamentos de ponta se estão falidos e escondidos?). Parece que o que importa é que Dom deixou de ser um valentão criminoso para tornar-se um verdadeiro general e "cérebro" da gangue.
A intenção de transformar Vin Diesel em um George Clooney bombado e Paul Walker em um Brad Pitt falido e mal pago, não cola. É isso mesmo pessoal, os brutamontes querem ser os Onze homens e um segredo. O que aconteceu com a originalidade da franquia? Pra ser sincero, só o 1º Fast e Furious e o desafio em Tóquio escapam dessas malogradas sequências. Até a ideia de trazer todos os comparsas de Toretto de volta me parece ridículo, pois o personagem "japinha" (Sung Kang) havia morrido na continuação em Tóquio. Nem uma explicação plausível somos merecedores. Ou será que aquilo é uma assombração saída desses filmes de terror asiáticos?
A trilha sonora "original" é composta pelo funk carioca, o "melô da popozuda" toca no meio de um furto aos carros da corrupta polícia do Rio. E aí há um lapso de memória do 1º e bom filme, quando os amigos durante esse furto resolvem fazer um pega. Pois é, vocês eram bons nisso, pessoal! Ao final da projeção, temos o desprazer de ouvir a música de Latino e Daddy Kall - não se engane com o nome estiloso, trata-se de um dos integrantes do You can dance do programa da Xuxa, lembra? - pois não é que incluíram a música do ritmo Kuduro no apagar das luzes. What the fuck?


Se vai haver Copa, Olimpíadas, ararinhas expatriadas (animação Rio de Carlos Saldanha), por que não explodir tudo em solo brasileiro? Afinal, Stallone quando veio rodar algumas cenas em terras tupiniquins, declarou o seguinte: : "Lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem 'obrigado! E aqui está um macaco para você levar para casa".