Quem não gelou ao ver a figura do pescador de capa de chuva e gancho em punho, transformando a culpa em pesadelo coletivo? Essa imagem fez de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997), de Jim Gillespie, um clássico imediato dos slashers dos anos 90. Com Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar, Freddie Prinze Jr. e Ryan Phillippe, o filme não só surfou na onda de Pânico como consolidou o vilão como ícone de uma geração.
A sequência, Eu Ainda Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1998), de Danny Cannon, ainda segurava a mão no terror adolescente, mesmo com sinais de desgaste narrativo. O público aceitava: afinal, era verão, tinha suspense, tinha gancho, e tinha Jennifer gritando de novo.
Mas em 2025, o que a diretora Jennifer Kaytin Robinson entrega é quase uma piada de mau gosto. Trouxeram de volta Jennifer Love Hewitt e Freddie Prinze Jr. — e aí entra a pergunta: a que preço? O herói improvável das duas primeiras versões, que quase morreu várias vezes para salvar Julie, agora é transformado em… assassino? Sem motivação, sem arco, sem lógica. Que psicologia é essa? Que Freud é esse que justifica virar psicopata do nada?
Enquanto isso, o novo elenco — Madelyn Cline, Chase Sui Wonders, Jonah Hauer-King, Tyriq Withers, Sarah Pidgeon, Billy Campbell e Gabbriette Bechtel — parece ensaiar para um High School Musical versão terror, mas sem coreografia. Atuam como se a morte fosse apenas mais um teste de elenco para série adolescente da Netflix.
Tecnicamente, o filme também tropeça. A fotografia é clara demais para um terror que deveria ser sombrio. A trilha é genérica, incapaz de criar tensão. Os sustos são tão previsíveis que chegam a ser quase didáticos: o público não se assusta, apenas marca ponto no bingo do clichê.
E o pior: a “grande reviravolta” da vítima que vira vilão destrói o DNA da franquia. O original girava em torno de culpa, segredo e paranoia. Aqui, tudo se resume a um twist mal feito, que mata a coerência e sepulta a memória dos filmes anteriores. O pescador com gancho já não assusta — virou objeto de cena, quase decorativo.
Ou seja: o novo Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado não é apenas ruim. Ele é uma aula involuntária de como desrespeitar uma franquia e ainda tentar vender nostalgia como justificativa. No fim, só resta rir, porque alguns verões deveriam ser lembrados… e outros quem sabe deveriam ser enterrados de vez.