sexta-feira, 2 de maio de 2025

PARALELOS - 'Corra!' e 'Pecadores'


Por Isa Barretto

Paralelos: 'Corra!' e 'Pecadores' — O horror por trás do controle e da opressão.

O verdadeiro terror nem sempre está no escuro. Às vezes, ele se esconde na luz — no cuidado que sufoca, no afeto que aprisiona, no fascínio que vira dominação.

Em Corra! (2017), Jordan Peele escancara o racismo travestido de civilidade. Chris, um jovem negro, visita a família branca da namorada e descobre que a hospitalidade esconde um plano perverso: eles querem mais do que aceitá-lo — querem possuí-lo. O corpo negro é desejado, mas não por respeito: é visto como ferramenta, como produto. O horror está na tentativa de tomar sua mente, sua identidade, sua liberdade.

Em Pecadores (2025), Ryan Coogler conduz uma história ambientada no Mississippi de 1932.Seus personagens são marcados pela dor, pela fé e pelo poder ancestral da música. E é justamente essa música — símbolo de resistência, espiritualidade e identidade negra — que passa a ser alvo de apropriação. Não basta silenciar vozes. É preciso capturá-las. Domesticá-las. 

Nos dois filmes, há uma tensão silenciosa: o que se deseja não é destruir o povo negro — é se apossar do que ele tem de mais profundo. O corpo, em Corra!; a alma, em Pecadores. Ambos são capturados sob o pretexto de admiração. Mas por trás do encantamento está a violência da dominação.

O paralelo é claro: são histórias sobre tentativas de controle — físico, emocional e cultural. Histórias onde o terror nasce do desejo de roubar o que não se compreende... e transformá-lo em algo que sirva aos olhos de quem oprime.

Dois filmes. Dois gritos. 
Um só alerta: nem tudo que brilha é acolhimento. Às vezes, é armadilha.



Nenhum comentário:

Postar um comentário