“Filmes são sonhos que você nunca esquece”.
Em “Os Fabelmans” Steven Spielberg utiliza a metalinguagem para falar sobre o poder do Cinema em sua obra mais intimista.
O longa é um retrato profundamente pessoal da infância americana do século 1920. A sinopse dá conta de um jovem que descobre um segredo familiar devastador e revela o poder dos filmes para nos ajudar a enxergar a verdade sobre os outros e sobre nós mesmos. Inspirado na própria infância de Spielberg (semi-autobiográfico), a obra foi coescrita pelo cineasta em parceria com o dramaturgo ganhador do Prêmio Pulitzer, Tony Kushner.
O filme é um olhar para si, para dentro, após o famoso cineasta passear por todos os gêneros, sobretudo fazendo enorme sucesso com blockbusters. E o mais interessante é que ao propor essa perspectiva singela e apaixonada sobre a arte, e como ela entrou na sua vida, o diretor, ao mesmo tempo, presenteia os cinéfilos ao falar sobre as origens: seja do Cinema ou a própria, elas se confundem lindamente aqui.
Portanto, esqueça os fantásticos efeitos especiais (marca registrada do idealizador), a pirotecnia, as grandiosas cenas de ação, os dinossauros, as guerras, os extraterrestres, etc. Aqui o foco é outro. O minimalismo brilha e as emoções são o centro das atenções.
E para ajudar a contar essa emocionante história, o elenco entrega performances esplêndidas. Sammy (Gabriel Labelle) é aquele protagonista carismático, altruísta e errático que o filme merece; Paul Dano interpreta o pai de Sammy com uma atuação contida de olhar tenro e acolhedor. Mas quem rouba a cena mesmo é Michelle Williams vivendo a mãe de Sam: ela é o coração e a força motriz que faz a narrativa andar pra frente. Aposto em indicações para a atriz na temporada de premiações.
Na coadjuvância, não posso deixar de mencionar a participação mais que especial de Judi Hirsch como tio Boris. As poucas cenas reservadas para o personagem são de extrema importância para o deslinde do protagonista. As suas falas entram no coração de Sam para nunca mais sair. É com esse excêntrico tio que o jovem aprende que fazer arte é difícil, é árduo e exige inspiração, mas também muito suor, técnica e vocação. Muitas vezes, a família e as pretensões artísticas vão se chocar. E o artista terá que fazer escolhas difíceis, porém, enriquecedoras para o seu amadurecimento. Simplesmente fantástico!
Outro cameo incrível acontece, mas esse eu não vou falar porque seria um tremendo spoiler.
Fabuloso, Spielberg dá uma aula de Cinema ao longo de duas horas e meia de projeção, sem jamais se tornar enfadonho ou "palestrinha". É tudo muito orgânico e se entrelaça com os acontecimentos da sua vida. Bem humorado, com fortes pitadas de drama, o cineasta mostra porque é um dos maiores contadores de história que a sétima arte já conheceu.
Além do magistral roteiro, tecnicamente não há o que se reparar em "Os Fabelmans". A montagem faz o público observar o extracampo com a mesma atenção que o centro da tela. Afinal, um bom filme não desperdiça a fotografia focando apenas o meio, pelo contrário. Assim como nos filmes, a vida acontece também no periférico, ao redor do "principal".
Aliado a isso, a trilha sonora de John Williams, parceiro habitual de Spielberg, é evocativa à infância, às paixões e ao mundo novo de Sam, no caso o Cinema. A música auxilia na condução da jornada e "manipula" os nossos sentimentos. O script, acertadamente, brinca com essa ideia.
Por fim, posso afirmar que 2023 começou muito bem, obrigado! Alguns dias já se passaram desde que assisti "Os Fabelmans" e o filme ainda está comigo. Crescendo cada vez mais. Mágico, obrigatório. Spielberg!
* Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10!