Por Rafael Morais
De início, já confesso que subestimei essa sequência quando
soube que ia ser lançada, tendo em vista que o primeiro filme é qualquer coisa
de genérico. Esqueça-o, portanto. Aqui, em "Gato de Botas 2 – O Último
Pedido", há um outro patamar de animação, evolução técnica, traço
artístico, roteiro e montagem. Tudo está surpreendentemente fantástico!
Felizmente, podemos testemunhar a maturidade da DreamWorks
Animation, pois, pela primeira vez em mais de uma década, o estúdio apresenta
uma nova aventura do universo Shrek com um elevadíssimo nível técnico.
Aproveitando as recentes derrapadas e flops da concorrente e mandachuva
do nicho, a toda poderosa Disney, temos um filme repleto de carisma e
preocupado em divertir, em emocionar o espectador.
Diferente da casa do camundongo mais famoso do mundo que,
ultimamente, tem se importado mais em atender uma agenda (sem se preocupar
necessariamente com a qualidade), forçando a barra em situações e elaborando
roteiros que mais parecem ter sido "escritos" por um algoritmo -
tamanha a megalomania pretensiosa em atender a todos, mas acaba acertando ninguém. A DreamWorks trabalha
no gap deixado pela tradicional e clássica corporação que, de uns tempos
para cá, vem virando o rosto para o seu verdadeiro público que a consagrou. As
concorrentes, por sua vez, que sempre beberam da fonte, se deleitam na chance
de fazer com maestria e excelência aquilo que aprenderam.
Contexto à parte, a encantadora nova fábula narra as desventuras
do Gato de Botas, o ousado fora-da-lei, dando ênfase na sua paixão pelo perigo
e seu descuido com a própria segurança. Agora, a vida pode lhe cobrar um preço
alto por isso. Assim, temos um herói que já detonou oito de suas nove vidas. Na
ânsia de recuperá-las, o protagonista terá o maior desafio que já enfrentou até
agora.
O longa então embarca em uma jornada épica na Floresta Negra
para encontrar a mítica Estrela dos Desejos, objeto capaz de conceder um último
desejo a quem o possuir. É aquele clássico conto de fadas desconstruído, mas
bem do modo Shrek de ser: um humor sarcástico que, ao mesmo tempo, brinca com a
paródia sem deixar de entregar uma linda mensagem no final como moral da
história.
Nesta arriscada aventura, o Gato de Botas (Alexandre Moreno,
na versão brasileira) terá a ajuda de outra felina, a charmosa, e também
destemida Kitty Pata-Mansa (Miriam Ficher); além do vira-lata good vibes Perrito
(Marcos Veras), um tagarela incansavelmente otimista. Juntos, o trio terá que
andar um passo à frente de Cachinhos Dourados (Giovanna Ewbank) e uma
surpreendente versão dos Três Ursos. Sem contar que João Trombeta (Bernardo
Legrand) e o aterrorizante caçador de recompensas, o Lobo Mau (Sérgio Malheiros), também
estão no páreo. Cada um com as suas intenções.
Com a inspirada direção de Joel Crawford, essa continuação
transita muito bem pelas músicas, ora engraçadas, ora dramáticas, mas jamais
piegas. Destaco a montagem/edição caprichadíssima que não deixa a audiência se
dissipar em momento algum. As transições de cenas são orgânicas dando a certeza
que saíram de meticulosos storyboards. O cineasta passeia pelos gêneros com
muita competência, entregando risos garantidos, através de ótima piadas, emoções
e tensão (para não dizer terror). Sim, inesperadamente há uma atmosfera
enervante de muito suspense e aflição quando o Lobo surge em cena. É gradual e
implacável! Personagem bem construído, o Lobo é aquele típico vilão ameaçador
em toda sua performance. É o contraponto ideal para qualquer herói que se preze.
Genial!
Singelo e sofisticado. Inocente sem ser bobo. “Gato de Botas
2” é sobre coragem, amizade e lealdade. Na verdade, o filme tem tudo para ser o
ponto de virada para reviver a franquia Shrek. Ele pode significar para o “ogro
verde” o que o Aranhaverso foi pro universo cinematográfico de animação do “amigão
da vizinhança”.
Tá cedo para afirmar que já assisti a melhor animação de 2023?!
*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.