segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Nos Cinemas - GATO DE BOTAS 2 - O ÚLTIMO PEDIDO


Por Rafael Morais

De início, já confesso que subestimei essa sequência quando soube que ia ser lançada, tendo em vista que o primeiro filme é qualquer coisa de genérico. Esqueça-o, portanto. Aqui, em "Gato de Botas 2 – O Último Pedido", há um outro patamar de animação, evolução técnica, traço artístico, roteiro e montagem. Tudo está surpreendentemente fantástico!

Felizmente, podemos testemunhar a maturidade da DreamWorks Animation, pois, pela primeira vez em mais de uma década, o estúdio apresenta uma nova aventura do universo Shrek com um elevadíssimo nível técnico. Aproveitando as recentes derrapadas e flops da concorrente e mandachuva do nicho, a toda poderosa Disney, temos um filme repleto de carisma e preocupado em divertir, em emocionar o espectador.

Diferente da casa do camundongo mais famoso do mundo que, ultimamente, tem se importado mais em atender uma agenda (sem se preocupar necessariamente com a qualidade), forçando a barra em situações e elaborando roteiros que mais parecem ter sido "escritos" por um algoritmo - tamanha a megalomania pretensiosa em atender a todos, mas acaba acertando ninguém. A DreamWorks trabalha no gap deixado pela tradicional e clássica corporação que, de uns tempos para cá, vem virando o rosto para o seu verdadeiro público que a consagrou. As concorrentes, por sua vez, que sempre beberam da fonte, se deleitam na chance de fazer com maestria e excelência aquilo que aprenderam.

Contexto à parte, a encantadora nova fábula narra as desventuras do Gato de Botas, o ousado fora-da-lei, dando ênfase na sua paixão pelo perigo e seu descuido com a própria segurança. Agora, a vida pode lhe cobrar um preço alto por isso. Assim, temos um herói que já detonou oito de suas nove vidas. Na ânsia de recuperá-las, o protagonista terá o maior desafio que já enfrentou até agora.

O longa então embarca em uma jornada épica na Floresta Negra para encontrar a mítica Estrela dos Desejos, objeto capaz de conceder um último desejo a quem o possuir. É aquele clássico conto de fadas desconstruído, mas bem do modo Shrek de ser: um humor sarcástico que, ao mesmo tempo, brinca com a paródia sem deixar de entregar uma linda mensagem no final como moral da história.

Nesta arriscada aventura, o Gato de Botas (Alexandre Moreno, na versão brasileira) terá a ajuda de outra felina, a charmosa, e também destemida Kitty Pata-Mansa (Miriam Ficher); além do vira-lata good vibes Perrito (Marcos Veras), um tagarela incansavelmente otimista. Juntos, o trio terá que andar um passo à frente de Cachinhos Dourados (Giovanna Ewbank) e uma surpreendente versão dos Três Ursos. Sem contar que João Trombeta (Bernardo Legrand) e o aterrorizante caçador de recompensas, o Lobo Mau (Sérgio Malheiros), também estão no páreo. Cada um com as suas intenções.

Com a inspirada direção de Joel Crawford, essa continuação transita muito bem pelas músicas, ora engraçadas, ora dramáticas, mas jamais piegas. Destaco a montagem/edição caprichadíssima que não deixa a audiência se dissipar em momento algum. As transições de cenas são orgânicas dando a certeza que saíram de meticulosos storyboards. O cineasta passeia pelos gêneros com muita competência, entregando risos garantidos, através de ótima piadas, emoções e tensão (para não dizer terror). Sim, inesperadamente há uma atmosfera enervante de muito suspense e aflição quando o Lobo surge em cena. É gradual e implacável! Personagem bem construído, o Lobo é aquele típico vilão ameaçador em toda sua performance. É o contraponto ideal para qualquer herói que se preze. Genial!

Singelo e sofisticado. Inocente sem ser bobo. “Gato de Botas 2” é sobre coragem, amizade e lealdade. Na verdade, o filme tem tudo para ser o ponto de virada para reviver a franquia Shrek. Ele pode significar para o “ogro verde” o que o Aranhaverso foi pro universo cinematográfico de animação do “amigão da vizinhança”.

Tá cedo para afirmar que já assisti a melhor animação de 2023?!

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.


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