terça-feira, 27 de setembro de 2022

Dica Disney Plus - ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS


Por Rafael Morais

Logo no início do episódio “IV – Uma Nova Esperança” descobrimos que a princesa Leia recebe os planos de uma potente arma, construída pelo Império, capaz de exterminar planetas inteiros. Mas como a planta dessa bomba foi parar no colo da líder da rebelião? Pronto, é aí que “Rogue One – Uma História Star Wars” entra em cena como um derivado da franquia contando a história do esquadrão de rebeldes que rouba os planos da “Estrela da Morte”, se encaixando, cronologicamente, entre os episódios III e IV. Disposto a ser um capítulo à parte, o filme tenta se desvencilhar da sequência desde a introdução. Portanto, esqueça aqueles letreiros com a fonte clássica, em amarelo negrito, subindo no estilo slide up ao som da trilha de John Williams.

Desta forma, neste prelúdio, somos apresentados a Galen Erso (Mads Mikkelsen), um notável cientista forçado a trabalhar para o Império no setor bélico, tendo a sua família dizimada por não querer contribuir com este poder sombrio que derrubara a República. Com exceção da sua filha Jyn Erso (Felicity Jones), que ainda criança foge para sobreviver, se transformando em uma rebelde nata.

Recheado de personagens, o roteiro guarda nos coadjuvantes Chirrut Îmwe (Donnie Yen), Baze Malbus (Wen Jiang) e no carismático droide K-2SO o seu trunfo, já que a protagonista Jyn, vivida por Jones, não consegue cativar o espectador (pelo menos a mim). Em momento algum sentimos a dor, ou somos convencidos da motivação da heroína, apesar de estar lá. Já Diego Luna traz uma tridimensionalidade ao seu Cassian Andor, aproveitando melhor as nuances de sua persona.

Com um segundo ato inchado, o filme se arrasta por diversos planetas, mas se fixa em Saw Guerrera (o oscarizável Forest Whitaker), um rebelde extremista, que nem mesmo a Aliança o reconhece, para traçar - com muito esforço e boa vontade do público que queira enxergar esse pano de fundo - um paralelo da guerra e suas motivações com o que vivemos hoje em dia. Afinal, os terroristas são sujeitos que não reconhecem um poder ditatorial/imperial e lutam pela sua liberdade? Ou findam paranoicos deturpando os valores e cometendo atos de extrema intolerância, muitas vezes visando assumir este poder?

A linha parece tênue e dialoga com a alarmante situação atualmente, sobretudo no Oriente Médio, refletindo na América e Europa através de sucessivos atentados. Contudo, o Império em Star Wars merece ser combatido por construir, comprovadamente, uma arma de destruição em massa colocando a vida de todos em risco, já que quem discordasse dos seus objetivos seria dizimado. Ok, mas essa não era uma das desculpas utilizadas pelos Estados Unidos como subterfúgio para invadir o Iraque em 2003?!

Entretanto, voltando ao filme, temos um script bem dosado na utilização de gag’s e dos elementos dramáticos, sem o surgimento de piadas deslocadas (e tem uma de humor ácido impagável) ou dramalhão desnecessário. A fita é sobre guerra e tem ciência disso. Comovente também em momentos pontuais, o instante em que associamos o apelido carinhoso que um pai dar à sua filha (Galen à Jyn), com o nome de uma arma catastrófica, principal vilã, é de uma sutileza ímpar.

Por sua vez, o diretor Gareth Edwards captou a essência de “Guerra nas Estrelas” ao reproduzir cenários reais, animatrônicos, harmonizando com a computação gráfica clean, ao passo que respeita a essência dos personagens, em detrimento do abuso de CGI’s (computação gráfica). Aqui não tem espaço para um “Jar Jar Binks” da vida.

A verdade é que salta aos olhos os “pecados” que George Lucas cometeu nos episódios I a III. Ao desconstruir alguns mitos concebidos na trilogia clássica, como o menino Vader na pele do meigo Jake Llloyd, Lucas parece não ter se encontrado com o próprio universo que construiu: teria sido uma crise de identidade ou o interesse de caça-níquel falou mais alto?

O fato é que “Rogue One” é um prato cheio não só para os fãs do universo estendido de “Star Wars”, como também para os que conhecem apenas o básico. A ação é filmada com excelência tanto no ar (Tie Fighter’s e Aliança travam duelos épicos no espaço), quanto em terra firme (os At-At’s nunca foram tão ameaçadores e verossimilhantes). Inclusive, a batalha na praia é uma das cenas mais legais de toda a saga!

Neste quesito, a fotografia de Graig Fraser conversa com os efeitos visuais, tornando o frame a frame lindo em cada quadro. E por mais que não vejamos jedis ou lutas de sabres, há uma atmosfera instaurada que grita “Star Wars”. Sentimos a presença de Obi Wan, apenas em uma rápida menção que nem sequer cita o seu nome – o serviço ao fã é a razão de existir deste spin-off - e a “Força”, como um mantra que motiva a trupe, está lá para quem quiser sentir.

Ao final, com um terceiro ato irretocável, este corajoso título resgata a essência da trilogia clássica, revigorada por uma sequência de suspense claustrofóbica com Darth Vader no centro da ação, contribuindo ainda mais para a mitologia de um dos maiores vilões da história do Cinema.                           

*Avaliação: 4,0 pipocas + 4,5 rapaduras = nota 8,5.     


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