Quando Cisne Negro (Aronofsky, 2010) encontra O Albergue (Eli Roth, 2005), assim podemos resumir “The Perfection”, filme de horror exclusivo da Netflix. Na verdade, como o longa é repleto de plot twists (reviravoltas), até em demasiado, tudo o que for dito aqui, indevidamente, poderá estragar a sua experiência. Portanto, não entrarei em detalhes do enredo nesta análise.
A sinopse dá conta de Charlotte (a sempre ótima Allisson Williams), uma violoncelista prodígio que, após perder o centro das atenções para a nova pupila Elizabeth (Logan Browning), passa a perseguir sua rival e o seu mentor Anton (Steven Weber). Nesta pegada, a busca pela perfeição musical toma um rumo sinistro ao descascar das camadas narrativas.
Com uma montagem dinâmica, o longa, neste quesito, remete a "Réquiem Para Um Sonho", também do diretor Aronofsky, tamanha a agilidade na precisão dos cortes rápidos de uma cena para outro, inclusive auxiliando na passagem da linha temporal. Logo no início já percebemos um exemplo desta edição fluida quando o difícil passado de Charlotte é exposto, entrecortes, passando de uma tomada para outra nos revelando, bruscamente, imagens marcantes dos traumas da protagonista. Efeito eficiente, elegante e brutal, ao mesmo tempo.
Não diferente, merece destaque a trilha sonora diegética (aquela realizada pelos próprios personagens e/ou instrumentos em cena) marcada por música clássica, na maioria das vezes, o que causa uma sensação de estranheza diante dos horrores mostrados perante os nossos olhos. O erudito e o animalesco coexistem naturalmente em The Perfection. Escatológica e perturbadora, a cinematografia do diretor Richard Shepard tem uma atmosfera angustiante com o gore na medida, prometendo agradar ao público mais sádico e ávido por sangue.
Ainda na questão técnica, a fotografia capricha na utilização da paleta de cores carregada na pertinente tonalidade amarela, que significa inocência. Por sinal, a trama brinca com o jogo de personalidade da protagonista e da coadjuvante, revelando aos poucos a intenção de cada uma. Agressor x vítima, ingenuidade x maldade, inveja x indiferença, diversos embates morais estarão à prova, sobretudo a partir do final do segundo ato. Aliás, a contar deste momento, o espectador terá que comprar a ideia da primeira virada, sob pena de colocar em risco o envolvimento com o desfecho e a resolução extrema dos conflitos apresentados lá no começo.
Por fim, temos um filme que, apesar de pecar no excesso de guinadas gratuitas para surpreender o público, acerta quando aborda as relações abusivas e as sequelas deixadas em quem as sofre; enxergar além da violência gráfica é uma das virtudes da nova safra das películas de horror. Que venham mais desse naipe...
*Avaliação: 4,5 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,5