segunda-feira, 25 de abril de 2022

Dica Netflix - A BALADA DE BUSTER SCRUGGS


Por Rafael Morais

Os irmãos Coen apresentam uma antologia de seis histórias sobre o Velho Oeste americano. Exclusivo da Netflix, o filme narra a visão dos diretores, roteiristas e produtores Ethan e Joel Coen explorando o que eles têm de mais forte: humor ácido, violência gráfica e diálogos caprichados.

“Acompanhando pistoleiros cantores, colonizadores, mineiros, homens condenados à forca, caçadores de recompensa e todo tipo de personalidade do gênero faroeste, estes seis contos curtos vão da mais profunda reflexão até o mais completo absurdo”, diz a sinopse.

Neste contexto, é possível reparar as semelhanças de signos e temas na filmografia da dupla, como o susto empregado no público em “Queime Depois de Ler”, a bela fotografia e localização do gênero western no sensacional remake de “Bravura Indômita”, bem como a comédia peculiar estampada em “Fargo”, por exemplo. Está tudo ali para os cinéfilos se deleitarem!

O “problema” desta nova produção é justamente o caráter episódico de várias historinhas, mas que nenhuma se conecta com a outra diretamente, apenas falam sobre o mesmo universo, compartilham da mesma geografia e mundo. Assim, a obra poderia ter sido pensada, tranquilamente, no formato de minissérie com vários capítulos que não conversam entre si. E é exatamente esta a dificuldade desses tipos de longa-metragem (com espírito de curta) no estilo antologia: não conectar um fio ao outro, deixando personagens carismáticos e extremamente bem construídos para trás com enorme facilidade de desapego e sem remorso. É um potencial desperdiçado, infelizmente!

Vale ressaltar, porém, que dos seis contos apresentados apenas um não me agradou tanto, tornando-se enfadonho. Os demais são espetaculares! O primeiro, de longe, é o melhor! Brincando com as convenções do gênero e subvertendo alguns clichês, o divertidíssimo “A Balada de Buster Scruggs” – escolhido para ser o título oficial - tem no faroeste spaguetti italiano a sua referência, além de fazer uma merecida homenagem ao Cinema desta época.

O elenco, por sua vez, é um show à parte. Temos um inspirado Tim Blake Nelson como o cantante, e não menos perigoso, protagonista do primeiro esquete; um James Franco entregando ótimas expressões faciais/corporais na composição de um fora-da-lei; além do sempre ótimo Liam Neeson como um inescrupuloso empresário em busca de sobrevivência, custe o que custar; e a surpresa ficou por conta de Tom Waits na pele de um ambicioso e sortudo minerador. Na verdade, todos estão muito bem nos seus papeis, até porque o roteiro ajuda!

Desta forma, não posso deixar de destacar a estonteante fotografia capaz de capturar a ambientação árida, ensolarada e quente das manhãs - por meio de uma paleta de cores saturadas - contrastando com a noite azulada, sombria e perigosa do Velho Oeste. As panorâmicas servem para deixar tudo grandioso, ao passo que localizam bem o espectador.

Tecnicamente, tudo remete às obras de Sergio Leone e às trilhas de Enio Morricone ao explorar os elementos naturais daqueles inóspitos locais: poeiras, assobios, ricochetes de tiros, o ranger das portas do Saloon; tudo se torna matéria-prima para concepção de acordes sonoros diegéticos (aqueles sons inerentes ao universo do filme).

Portanto, também é interessante perceber que a afinidade com o Cinema de Quentin Tarantino não é pura coincidência, uma vez que o diretor de “Pulp Fiction” já declarou ser fã e influenciado pelos irmãos cineastas. Sim, eles vieram antes. Sequências de diálogos verborrágicos e circunstâncias quase idênticas são encontradas tanto aqui, na última história desta coletânea dos Coen, quanto em “Os Oitos Odiados”.

Para sorte do público, temos grandes realizadores, contemporâneos, pensando a sétima arte de maneira análoga. E quem sai ganhando somos nós!

*Avaliação: 4,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,0.

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