sexta-feira, 29 de abril de 2022

Dica Streaming - BINGO: O REI DAS MANHÃS


Por Rafael Morais

Quem viveu os anos 80 entende a definição de politicamente incorreto. Programas “infantis” matinais, extremamente divertidos e nonsense, tomavam as nossas manhãs de assalto, ao passo que concebia uma geração desprovida de “mi, mi, mi”. E em vários momentos deste “Bingo – O Rei das Manhãs”, o personagem Augusto (Vladimir Brichta), na pele do palhaço homônimo do título do filme, solta diversas frases que corroboram a identidade da minha geração: “essas crianças não são fáceis de enganar”; “o Brasil não é para iniciantes”, entre outras do gênero.

Na verdade, estamos diante da cinebiografia do famoso palhaço Bozo que teve como um de seus primeiros intérpretes o excêntrico Arlindo Barreto. Assim, por questões de ordem jurídica (direitos autorais), nomes de artistas, marcas de empresas e locais foram alterados, mas nem por isso deixamos de identificá-los em tela. A Rede Globo, o próprio protagonista, a cantora Gretchen, passando por Xuxa, bem como o SBT, tudo foi convertido em ficção. Talvez por conter DNA de filme alternativo, fora do mainstream, a “Globo Filmes” não despertou interesse em produzir o longa, em que pese abordar o backstage da cultura pop televisiva.

Neste contexto, somos apresentados à história de um jovem ator de pornochanchada que resolve enveredar pelo caminho das telenovelas, tentando se provar constantemente enquanto artista e pai, vindo a parar num set de testes para viver o palhaço Bingo (é o Bozo, você já sabe), sucesso e líder de audiência nos EUA há mais de 10 anos.

Com esta sinopse, relativamente simples, o roteiro consegue explorar todas as possíveis camadas de um artista em ascensão, passando pelo declínio e alcançando a redenção, quesitos obrigatórios em uma cinebiografia. Inteligente, o script explora o talento de Vladimir Brichta (o cara arrebenta!) para entregar diversas nuances de sua dupla persona. E se o protagonista é desenvolvido em tons de cinza (sem maniqueísmo), tal abordagem auxilia na identificação do espectador com os dilemas do herói (ou seria anti-herói?), uma vez que o traço de humanidade surge em momentos de falhas.

“A vida não é fácil”, esbraveja Augusto constantemente. Tentativa e erro são o mantra do protagonista durante a película. Tudo ressaltado pela frustração do artista ao não ser reconhecido nas ruas por sempre estar fantasiado em cena. Reconhecimento do público e da crítica é o que um artista almeja durante a sua carreira, para tanto, temos um belo diálogo entre Augusto e sua mãe Martha Mendes (Ana Lucia Torre), ex-atriz encostada na “geladeira” da emissora Mundial (Globo), sobre a metáfora da necessidade da luz. Enquanto iluminados, eles brilham e fazem a alegria; uma vez apagados, só resta saudade e tristeza.

Assim, os objetos de cena dialogam com os atores, como o quadro com a imagem da atriz em tempos áureos, banhado por uma iluminação indireta, que se apaga abruptamente após o desfecho da conversa. Genial!

Mergulhando o set de gravações do programa em cores vivas, alegres, ressaltada na fantasia de seu apresentador, a fotografia brinca com a dualidade sempre que contrapõe com outra paleta dark, fria e densa nos instantes em que o personagem não está na pele de seu alterego.

Ressaltando esta ideia, perceba também o contraste dos figurinos, e o caprichado trabalho da direção de arte, na cena em que Augusto vai jantar com Lúcia (a sempre formidável Leandra Leal), produtora do programa de TV: de um lado temos um sujeito despojado vestindo uma jaqueta preta, bebendo vinho e à sua frente uma sobremesa de chocolate; de outro, temos uma mulher recatada em vestimentas de cores claras - e o verde sempre impera em Lúcia simbolizando a esperança de Augusto - cabelos sempre presos, ingerindo água, condizente com a sua sobremesa de creme e frutas coloridas. Deste modo, a simbologia auxilia harmonicamente à narrativa proposta.

E o que dizer da trilha sonora escolhida? Supla, Titãs, Roupa Nova, Ritchie, entre outros, evocam o período narrado.

Não menos espetacular, a direção do estreante Daniel Rezende (exímio montador responsável pela edição de Cidade de Deus, por exemplo) não deixa o filme cair num dramalhão ou se deixar levar pela saudosa cafonice da época, muito menos se perder na nostalgia. O cineasta sabe da importância do tema, pesando a mão no drama em momentos pontuais, sem esquecer o tom da comédia ácida, certeira, em outros.

Neste sentido, é magnífica a sequência em que Bingo entra em cena, ao vivo, após ter consumido bastante cocaína, ocasião em que o seu nariz começa a sangrar e pingar no chão do “picadeiro”. Perceba que a sua vida desordeira culmina no esvaziamento das relações afetivas e profissionais, guardando uma metáfora no derramamento do sangue. Rezende tem consciência dos elementos narrativos que plantou e sabe a hora de utilizá-los ao seu favor. O nariz do palhaço guarda diversos significados, na medida em que representa um essencial artifício de ligação entre pai e filho, relação tão bem abordada durante os três atos do filme.

Concebendo planos longos e planos-sequência inspiradores, o idealizador carrega o espectador pelo braço viajando pelo túnel do tempo, demonstrando acertos também na escolha do elenco, que conta ainda com uma emocionante participação do ator Domingos Montagner, falecido precocemente em 2016.

Representando tão bem o lema do blog, “Bingo – O Rei das Manhãs” mescla entretenimento com conteúdo (“pipoca para entreter, rapadura para enriquecer”), se tornando um dos meus filmes favoritos de 2017.

*Avaliação: 5 pipocas + 5 rapaduras = nota 10,0.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Dica Netflix - EL CAMINO: A BREAKING BAD MOVIE


Por Rafael Morais

"Eu confio em Vince Gilligan", disse Aaron Paul ao justificar o seu retorno ao universo de Breaking Bad durante uma recente entrevista. Faço minhas as palavras do ator. Quando anunciado que "El Camino" seria uma espécie de epílogo da série, focado no destino de Jesse, a primeira coisa que me veio à cabeça foi exatamente isso: com Gilligan no comando não terá erro! E não teve, realmente.

A produção, original da Netflix, acerta quando retoma os acontecimentos do lugar onde parou. O sofrido Jesse foge aos berros catárticos rumo ao desconhecido. Uma pseudo liberdade que o fã mais apaixonado pela série sabia se tratar de algo fugaz, daí o plot ideal e a razão de existir desse longa: dar um desfecho satisfatório ao arco do personagem mais "honesto" com as suas próprias regras de conduta, o mais transparente e vulnerável de todos. E talvez por isso, por ser tão errático, conquistou tamanha empatia e identificação com o público. Pinkman, mais do que nunca, está quebrado tanto mental quanto fisicamente.

Desta forma, “El Camino” fala sobre as segundas chances que a vida nos oferece. Sobre os traumas, as escolhas e as consequências. Juntar os cacos é preciso. Tudo orquestrado por um roteiro impecável - algo característico de Gilligan - que se preocupa em amarrar as pontas, concatenar as ideias, recortar a história pinçando fatos passados que influenciarão o presente e, sobretudo, o futuro de Pinkman. Perceba como a narrativa trata de colocá-lo, volta e meia, recebendo conselhos de figuras icônicas na mitologia do seriado. Como se cada um, em algum momento e ao seu modo, quisesse guiar o anti-herói para um recomeço.

Claro que a maturidade, ou falta dela, vai fazê-lo enxergar e encarar cada possibilidade de maneira distinta. Enquanto um indicava um local ideal para recomeçar, outro propôs cursar uma faculdade como uma oportunidade de mudança de vida; e assim por diante. Mas somente Jesse saberá qual o caminho seguir no final das contas. E não é exatamente assim que acontece na nossa vida?!

A montagem dinâmica e não linear, por sua vez, também é outro destaque. Transitando entre as linhas temporais com imensa organicidade, a edição salta de um ponto a outro através de cortes elegantes e raccords que se apegam a locais, objetos de cena e situações em comum. O espectador se vê num quebra-cabeça nostálgico presenciando momentos importantes da vida do protagonista num vaivém de emoções. As atuações, por sinal, continuam primorosas. O elenco está bem à vontade na retomada de um universo tão aclamado. Paul aparenta tranquilidade e intimidade no reencontro com o seu alterego.

Toda aquela atmosfera de Breaking Bad continua intacta e referenciada. O misto de visceralidade com suavidade, cada qual ganhando o seu protagonismo na hora certa. O tato do autor em abordar os dilemas, as saídas mais coesas. As rimas visuais capazes de estampar o estado de espírito dos personagens sem precisar dizer uma palavra sequer. Os ângulos meticulosamente pensados, as câmeras colocadas nos locais mais insólitos, a quebra do maniqueísmo apresentando personas em "tons cinzas", fugindo dos estereótipos, além de uma fotografia rebuscada. Está tudo lá! Um deleite para os fãs. Assim, voltei a sentir aquela sensação prazerosa, “viciante”, semelhante a de assistir aos episódios, à época. E o melhor, sem precisar de metanfetamina pra isso.

Yo bitch!

*Avaliação: 4,5 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 9,5.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 10 anos de OS VINGADORES


Por Rafael Morais
Há 10 anos o Marvel Studios celebrava o que tinha de melhor, além de prestar uma grande homenagem aos fãs.

A espera acabou em 26/04/2012. Na sessão de 0h05min., no cinema do Via Sul, aqui em Fortaleza, assisti a tão aguardada pré-estreia de “Os Vingadores”. Foi com muito entusiasmo que presenciei a reunião de alguns dos maiores super-heróis da cultura pop em um filme vibrante que nos remete a nossa infância e adolescência. Madrugada adentro, o público vibrava tal qual um estádio lotado numa partida de futebol. Nunca tinha visto isso antes. Foi impossível não bater palmas em algumas cenas. Me empolguei como um adolescente, vibrei como uma criança. Simplesmente inesquecível!

Na trama, Loki (o talentosíssimo Tom Hiddleston), o irmão adotivo de Thor, chega à Terra com o intuito de dominá-la com o poder do Tesseract (também conhecido como Cubo Cósmico). Aliado aos alienígenas de outra dimensão, o vilão planeja abrir um portal para que a Terra seja invadida e ele possa governar o planeta.

Para combater o sujeito, Nick Fury (Samuel L. Jackson), diretor da SHIELD (agência internacional de contraespionagem) reúne “os heróis mais poderosos do planeta”: o Homem de Ferro (Robert Downey Jr., que nasceu para esse papel), um gênio milionário; Thor (Chris Hemsworth), um deus de Asgard; Capitão América (Chris Evans), um soldado da Segunda Guerra Mundial e Bruce Banner (Mark Ruffalo), um cientista brilhante que não pode ficar nervoso.

Interessante perceber que o desenrolar do filme - com duração de 142 min. - não tem pressa em acontecer, por isso somos apresentados ao Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e aos demais membros da equipe de Fury em meio a um prólogo que, apesar de arrastado, se faz necessário em virtude da necessidade de firmar a trama e introduzir os personagens. A partir daí, o longa ganha ritmo e força (e coloca força nisso), com os heróis se estranhando em embates tanto verbais, através de diálogos hilários e bem sacados, quanto físicos. No entanto, um trágico acontecimento e o ataque brutal ao porta-aviões da SHIELD são a motivação que a equipe precisa para tornar-se coesa.

E graças ao talento do diretor/roteirista Joss Whedon, o longa mantém o nível da narrativa dramática sempre elevado, apostando no humor (tiradas cômicas e autoparódias ditam o ritmo) para cativar o público. Os diálogos afiados e as piadinhas sarcásticas (principalmente por conta de Downey Jr.), não apenas aliviam a tensão, mas divertem, como uma produção do gênero deve ser.

Outro grande desafio, cumprido com maestria, foi conseguir dar o tempo de tela que cada um merecia, sem menosprezar, ou mesmo, preterir um ou outro herói. Assim, todos têm a sua importância na trama.

Enfim, Os Vingadores - The Avengers é um filme de ação bem estruturado que explora os pontos fortes de todo seu elenco e dá ao fã - leitor ou novato, que conheceu esse universo no Cinema - exatamente o esperado. Entra, desde já, como mais um marco na celebrada história da Marvel. Sem dúvida, um dos melhores filmes de super-herói já realizado.

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Aniversariantes Memoráveis: 43 anos de ALIEN - O 8º PASSAGEIRO


Por Rafael Morais

Fazia um bom tempo que eu não sentia medo e não tomava alguns sustos em um filme. E foi na revisitação de “Alien - o 8º Passageiro” que esses sentimentos adormecidos me tomaram de assalto. O longa se tornou um cult sci-fi e não foi à toa. A brilhante direção de Ridley Scott é algo a ser estudado por quem admira a sétima arte. As tomadas são bem pensadas resultando em cenas perfeitamente sincronizadas a um ambiente denso e tenso que o filme propõe. Impecável!

Do início ao fim, você se sentirá como um 9º passageiro da Nostromo. E foi exatamente assim que me senti durante a projeção: imerso naquele inferno espacial, assim como os personagens. Fácil entender o que o próprio slogan do filme sugere: No espaço, ninguém pode ouvir você gritar!

Tudo começa quando uma nave-cargueiro pousa em um asteroide e um dos tripulantes é atacado por um monstrengo hospedeiro, de um embrião alienígena, que passa a se alojar em seu corpo. A partir de então, tudo se transforma em um terrível pesadelo inimaginável.  

O elenco é liderado por Sigourney Weaver, que interpreta Helen Ripley, uma mulher determinada e forte, tornando-se, assim, uma das poucas heroínas de ficção-científica do Cinema. Interessante perceber que Ripley vai ganhando força no decorrer do longa, pois, na medida em que a tripulação vai sendo exterminada, a heroína passa a ser a comandante da situação. Sigourney e todo o elenco demonstra angústia e apreensão, aumentando ainda mais a tensão já quase insuportável.

Ridley Scott consegue criar um clima angustiante dentro da nave. Cada barulhinho e cada ruído deixam o espectador com os nervos à flor da pele. Você espera pelo pior, mas não sabe quando e como isso vai acontecer. E quando acontece, é fulminante. O roteiro deixa os personagens sem escapatória, como se o único destino de cada um fosse morrer sofridamente nas mandíbulas do Alien.

As cenas sempre são acompanhadas do mais profundo silêncio. Só se ouve a respiração ofegante dos personagens e as batidas cardíacas ao fundo. Note que a trilha sonora é montada a partir dos elementos que o filme oferece, como o soar do alarme da nave, a respiração ofegante, entre outros. GENIAL! 

O filme inteiro se passa no interior da Nostromo, colaborando para a atmosfera claustrofóbica. Outro detalhe: o Alien não é mostrado à exaustão. Esse é um truque que foi utilizado por Spielberg em "Tubarão" e funciona perfeitamente aqui. Logo, sugerir o medo, às vezes, é melhor que explicitá-lo. 

Há cenas memoráveis, como a do "parto", por exemplo. É terror puro! A cena é tão famosa que Mel Brooks a parodiou no filme "SOS - Tem Um Louco à Solta no Espaço". Só que em "SOS" o pequeno alien "nasce" cantando uma música e sapateando, afinal de contas é um filme de comédia.

Por ser o primeiro da série Alien (e que influenciou outros tantos filmes parecidos), "Alien - o Oitavo Passageiro" tem uma originalidade impressionante. Nasce aqui a origem dos filmes de monstros das décadas de 80 e 90.

É uma obra terrivelmente assustadora, como poucas do gênero conseguiram. É inteligente ao usar o terror-psicológico para criar uma ambientação inesquecível de suspense. Sem dúvida, um filmão!

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Dica Netflix - A BALADA DE BUSTER SCRUGGS


Por Rafael Morais

Os irmãos Coen apresentam uma antologia de seis histórias sobre o Velho Oeste americano. Exclusivo da Netflix, o filme narra a visão dos diretores, roteiristas e produtores Ethan e Joel Coen explorando o que eles têm de mais forte: humor ácido, violência gráfica e diálogos caprichados.

“Acompanhando pistoleiros cantores, colonizadores, mineiros, homens condenados à forca, caçadores de recompensa e todo tipo de personalidade do gênero faroeste, estes seis contos curtos vão da mais profunda reflexão até o mais completo absurdo”, diz a sinopse.

Neste contexto, é possível reparar as semelhanças de signos e temas na filmografia da dupla, como o susto empregado no público em “Queime Depois de Ler”, a bela fotografia e localização do gênero western no sensacional remake de “Bravura Indômita”, bem como a comédia peculiar estampada em “Fargo”, por exemplo. Está tudo ali para os cinéfilos se deleitarem!

O “problema” desta nova produção é justamente o caráter episódico de várias historinhas, mas que nenhuma se conecta com a outra diretamente, apenas falam sobre o mesmo universo, compartilham da mesma geografia e mundo. Assim, a obra poderia ter sido pensada, tranquilamente, no formato de minissérie com vários capítulos que não conversam entre si. E é exatamente esta a dificuldade desses tipos de longa-metragem (com espírito de curta) no estilo antologia: não conectar um fio ao outro, deixando personagens carismáticos e extremamente bem construídos para trás com enorme facilidade de desapego e sem remorso. É um potencial desperdiçado, infelizmente!

Vale ressaltar, porém, que dos seis contos apresentados apenas um não me agradou tanto, tornando-se enfadonho. Os demais são espetaculares! O primeiro, de longe, é o melhor! Brincando com as convenções do gênero e subvertendo alguns clichês, o divertidíssimo “A Balada de Buster Scruggs” – escolhido para ser o título oficial - tem no faroeste spaguetti italiano a sua referência, além de fazer uma merecida homenagem ao Cinema desta época.

O elenco, por sua vez, é um show à parte. Temos um inspirado Tim Blake Nelson como o cantante, e não menos perigoso, protagonista do primeiro esquete; um James Franco entregando ótimas expressões faciais/corporais na composição de um fora-da-lei; além do sempre ótimo Liam Neeson como um inescrupuloso empresário em busca de sobrevivência, custe o que custar; e a surpresa ficou por conta de Tom Waits na pele de um ambicioso e sortudo minerador. Na verdade, todos estão muito bem nos seus papeis, até porque o roteiro ajuda!

Desta forma, não posso deixar de destacar a estonteante fotografia capaz de capturar a ambientação árida, ensolarada e quente das manhãs - por meio de uma paleta de cores saturadas - contrastando com a noite azulada, sombria e perigosa do Velho Oeste. As panorâmicas servem para deixar tudo grandioso, ao passo que localizam bem o espectador.

Tecnicamente, tudo remete às obras de Sergio Leone e às trilhas de Enio Morricone ao explorar os elementos naturais daqueles inóspitos locais: poeiras, assobios, ricochetes de tiros, o ranger das portas do Saloon; tudo se torna matéria-prima para concepção de acordes sonoros diegéticos (aqueles sons inerentes ao universo do filme).

Portanto, também é interessante perceber que a afinidade com o Cinema de Quentin Tarantino não é pura coincidência, uma vez que o diretor de “Pulp Fiction” já declarou ser fã e influenciado pelos irmãos cineastas. Sim, eles vieram antes. Sequências de diálogos verborrágicos e circunstâncias quase idênticas são encontradas tanto aqui, na última história desta coletânea dos Coen, quanto em “Os Oitos Odiados”.

Para sorte do público, temos grandes realizadores, contemporâneos, pensando a sétima arte de maneira análoga. E quem sai ganhando somos nós!

*Avaliação: 4,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,0.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Dica Netflix - THE PERFECTION


Por Rafael Morais

Quando Cisne Negro (Aronofsky, 2010) encontra O Albergue (Eli Roth, 2005), assim podemos resumir “The Perfection”, filme de horror exclusivo da Netflix. Na verdade, como o longa é repleto de plot twists (reviravoltas), até em demasiado, tudo o que for dito aqui, indevidamente, poderá estragar a sua experiência. Portanto, não entrarei em detalhes do enredo nesta análise.

A sinopse dá conta de Charlotte (a sempre ótima Allisson Williams), uma violoncelista prodígio que, após perder o centro das atenções para a nova pupila Elizabeth (Logan Browning), passa a perseguir sua rival e o seu mentor Anton (Steven Weber). Nesta pegada, a busca pela perfeição musical toma um rumo sinistro ao descascar das camadas narrativas.

Com uma montagem dinâmica, o longa, neste quesito, remete a "Réquiem Para Um Sonho", também do diretor Aronofsky, tamanha a agilidade na precisão dos cortes rápidos de uma cena para outro, inclusive auxiliando na passagem da linha temporal. Logo no início já percebemos um exemplo desta edição fluida quando o difícil passado de Charlotte é exposto, entrecortes, passando de uma tomada para outra nos revelando, bruscamente, imagens marcantes dos traumas da protagonista. Efeito eficiente, elegante e brutal, ao mesmo tempo.

Não diferente, merece destaque a trilha sonora diegética (aquela realizada pelos próprios personagens e/ou instrumentos em cena) marcada por música clássica, na maioria das vezes, o que causa uma sensação de estranheza diante dos horrores mostrados perante os nossos olhos. O erudito e o animalesco coexistem naturalmente em The Perfection. Escatológica e perturbadora, a cinematografia do diretor Richard Shepard tem uma atmosfera angustiante com o gore na medida, prometendo agradar ao público mais sádico e ávido por sangue.

Ainda na questão técnica, a fotografia capricha na utilização da paleta de cores carregada na pertinente tonalidade amarela, que significa inocência. Por sinal, a trama brinca com o jogo de personalidade da protagonista e da coadjuvante, revelando aos poucos a intenção de cada uma. Agressor x vítima, ingenuidade x maldade, inveja x indiferença, diversos embates morais estarão à prova, sobretudo a partir do final do segundo ato. Aliás, a contar deste momento, o espectador terá que comprar a ideia da primeira virada, sob pena de colocar em risco o envolvimento com o desfecho e a resolução extrema dos conflitos apresentados lá no começo.

Por fim, temos um filme que, apesar de pecar no excesso de guinadas gratuitas para surpreender o público, acerta quando aborda as relações abusivas e as sequelas deixadas em quem as sofre; enxergar além da violência gráfica é uma das virtudes da nova safra das películas de horror. Que venham mais desse naipe...

*Avaliação: 4,5 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,5


sexta-feira, 8 de abril de 2022

Dica Netlix - ROMA


Por Rafael Morais

México, 1970. 

Cleo – vivida pela surpreendente Yalitza Aparicio - é uma humilde doméstica/babá que trabalha para uma “tradicional” família de classe média. Diante de uma premissa aparentemente rasa, o diretor, roteirista, produtor e responsável pela fotografia, o mestre Alfonso Cuarón, nos convida para participarmos da rotina deste núcleo familiar pelo período de um ano. Neste ínterim, diversos acontecimentos inesperados passam a afetar a vida de todos os moradores da casa, ocasionando várias mudanças, tanto coletivas quanto pessoais.

Disponível somente na “Netflix”, o filme é belamente fotografado em preto e branco, escolha esta que não apenas ajuda na ambientação da década de 70, como também se harmoniza com a carga dramática crescente. Na verdade, a obra é esteticamente perfeita em todos os quesitos técnicos. Destaco aqui a perspicaz sequência que abre o longa, a incrível mixagem de som, bem como as tomadas panorâmicas dentro da enorme residência. Sem esquecer aquelas captadas em um mar revolto, o que nos insere como verdadeiras testemunhas dos acontecimentos. Câmeras estáticas que fazem movimentos leves para os lados capturam o vaivém da família, o dia a dia e a interação com a protagonista Cleo. Sim, o filme é dela!

Aqui, Cuarón aprofunda o seu apuro estético de tal forma que faz autorreferências com a sua filmografia, algo digno de quem está no panteão dos grandes do Cinema. Me diverti muito com uma cena que remete diretamente à “Gravidade” e outra que faz menção visual ao sensacional “Filhos da Esperança”; esta última conseguida com apenas um magistral movimento de câmera no carro quando a família está reunida em viagem.

Entretanto, faço uma ressalva: se você é daqueles que não curte um filme mais contemplativo, que não aprecia uma história narrada sem pressa, que não liga para os mínimos detalhes, inerentes à nossa vida, ao cotidiano, e que se incomoda com uma montagem mais lenta, passe longe deste longa-metragem! Em “Roma”, o milagre da vida está nas coisas menores, nas entrelinhas, na identificação com “pequenas” situações vividas pelos personagens.

Neste tocante, separo duas sequências que me identifiquei como se fossem flashes da minha infância: quando o pai das crianças chega do trabalho e estaciona, meticulosamente, o carro na garagem apertada, sob a espera ansiosa dos filhos para recebê-lo e abraçá-lo, sem antes o diretor não esmiuçar todos os detalhes do interior do veículo, evidenciando os vários cigarros colocados no cinzeiro e dando um ar quase místico à figura paterna; e a outra tomada faz referências às viagens em família no carro, quando os irmãos e primos brincam e celebram com músicas e cânticos a chegada à praia.

Não menos interessante é perceber que todo grande cineasta tem os seus temas recorrentes. Cuarón, por exemplo, explora questões como nascimento, renascimento, morte e vida através de diferentes signos e singelas metáforas. Seja numa ficção quando uma astronauta surge em posição fetal na nave, ou quando renasce ao sair de uma situação surreal, dando os seus “primeiros” passos; seja num drama distópico quando a humanidade se torna estéril e as mulheres não conseguem mais trazer bebês ao mundo.

Em “Roma” não é diferente: há uma pungência na forma de abordar as temáticas. O que nos leva à angustiante sequência que se passa com a protagonista Cleo em um hospital público. “Cleo, nós, mulheres, seremos sempre sozinhas. Sempre!” Diz a patroa à doméstica em um momento de desespero e decepção. É notório, portanto, que o roteiro aborda a questão do machismo, porém, sempre de maneira honesta, sem pieguice ou apelação.

Deste modo, por ter uma pegada sóbria, dura e quase documental, há um flerte natural com o cinema neo-realista italiano (“Ladrões de Bicicleta”). Mas, por outro lado, também lembrei do nosso Cinema nacional, mais precisamente de “Que Horas Ela Volta”, de Anna Muylaert, por exemplo. Não somente pela temática com pano de fundo social, mas por ser extremamente afetuoso e humano. Ao final, “Roma” é uma película obrigatória para os cinéfilos de plantão. Não por acaso, é “Amor” ao contrário...

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Aniversariantes Memoráveis - 68 anos de JANELA INDISCRETA


Por Rafael Morais

O que seria um espectador ao assistir um filme, senão um "voyeur" da visão do diretor?

A história de Janela Indiscreta gira em torno de um jornalista chamado Jeff, interpretado por James Stewart, que está em sua casa, de licença do trabalho, depois de quebrar a perna arriscando-se na produção de uma matéria. Como está completamente ocioso durante o dia, ele passa a espiar o cotidiano de seus vizinhos, até que desconfia que um deles tenha matado a própria esposa e tenta provar isso para sua mulher, sua secretária doméstica e um amigo detetive. E é nesse simples, mas intrigante argumento, que o mestre Alfred Hitchcock "pinta e borda". A facilidade do cineasta em pegar situações e cenários simplórios e transformá-los em algo denso, tenso e intimista é algo fantástico, todavia, essa virtude já havia sido realizada e apresentada em Psicose, Um Corpo que Cai e Festim Diabólico

E em Janela Indiscreta não foi diferente. A produção caprichou e deixou tudo com o jeito Hitchcock de fazer cinema. Só para se ter uma ideia, foi construído um enorme cenário nos estúdios da Paramount, contendo 31 janelas para o filme ser ambientado. Assim, o estúdio foi projetado exclusivamente para o filme. Estamos presenciando o velho modo de se fazer Cinema, com a mão na massa, literalmente, fazendo acontecer. Bem diferente dos tempos contemporâneos, onde os computadores e CGI's dão vida aos personagens e objetos, através de "oxigênio artificial" e "cimento virtual".

Sem esquecer a questão técnica do longa, não podemos deixar de falar sobre o seu som. Entenda que seria praticamente impossível ter um som de qualidade caso o filme tivesse sido realmente rodado em um quarteirão, mas como estamos falando do gênio Hitchcock, que tem como característica o perfeccionismo, o cara resolveu dar uma atenção a mais nesse quesito. Para manter a verossimilhança sonora, captou todos os sons externos ao quarto da janela de Jeff, ou seja, com a distância real entre a janela do protagonista e o espaço onde a ação externa realmente acontecia. Ou seja, quando ouvimos o som do piano, estamos ouvindo-o com a distância real que ele realmente estava do quarto. Lógico que hoje em dia tudo isso seria desnecessário, pois a mixagem do som poderia dar esse tom de distância que o idealizador queria; mas, de novo, nada como o velho e genial modo de se fazer Cinema e ter a certeza de que funcionaria. 

Voltando à trama, o filme tem o seu suspense abordado de maneira crescente, pois, aos poucos somos apresentados, simultaneamente com o protagonista, aos fatos e aos acontecimentos, nos colocando na mesma perspectiva do personagem, descobrindo tudo com ele. Assim, com o passar da história, não só quem rodeia Jeff - sua namorada e secretária não acreditavam nele - mas nós, como voyeur's daquela aparente paranoia, passamos a bisbilhotar a vida dos vizinhos, sem querer perder nenhum lance sequer, seja a entrada, a saída ou as conversas dos confinantes. No final, já nos vemos em meio a situações que nos deixarão apreensivos e envolvidos completamente na trama, graças ao roteiro firme e bem estruturado.

Igualmente irretocáveis são as atuações de James Stewart e Grace Kelly, contribuindo sobremaneira para o clima proposto. Até mesmo o diretor faz sua aparição habitual, e discreta, ao consertar um relógio em um dos apartamentos. A fotografia, que começa com tomadas calmas e distantes, além de bastante solar, também evolui para um ponto dramático, com planos fechados e tons mais tenebrosos e sombrios, ou seja, tudo está em uma perfeita sincronia para a grand finale.

Sem mais delongas, e sem querer entregar spoiler's para aqueles que ainda não viram essa obra, Janela Indiscreta é um clássico da sétima arte, uma aula de Hitchcock e uma prova de como somos voyeur's do Cinema, uma vez que estamos nas mãos do diretor e observando a sua visão daquela história, como intrusos que querem observar, absorver e dá pitaco em tudo. Enfim, trata-se de um filme atemporal, já que viver a vida dos outros e deixar de viver a sua é a tônica de hoje em dia.  

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10,0.


quarta-feira, 6 de abril de 2022

Nos Cinemas - ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS SEGREDOS DE DUMBLEDORE


Por Juliana Prado

Quando o professor Alvo Dumbledore (Jude Law) sabe que o poderoso bruxo das trevas Gerardo Grindelwald (Mads Milkelsen) está se mexendo para assumir o controle do mundo bruxo, entra em cena o magizoologista Newt Scamander (Eddie Radmayne) para liderar uma intrépida equipe de bruxos, bruxas e um bravo padeiro trouxa em uma missão perigosa.

Diante dessa sinopse, o filme já começa com uma introdução que expõe o conflito central da trama, mas sem entregar os segredos, deixando um suspense no ar.

Os efeitos visuais estão incríveis! Melhores até do que os outros filmes da saga. Os Animais Fantásticos ganharam mais vida, parecendo até mais reais.

Quanto à participação da nossa atriz Maria Fernanda Cândido - interpretando a bruxa Vicência Santos - a qual eu já era grande admiradora, adorei sua atuação no filme. Apesar de suas falas serem curtas, o seu papel é muito importante. Sem falar na homenagem feita ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro quando o Parque Lage e o Cristo Redentor surgem inesperadamente. Sem mais para não dar spoiler.

A nostalgia toma conta do filme quando traz várias referências ao querido e saudoso Harry Potter. Não só ao personagem em si, mas ao universo do bruxinho como um todo. Como por exemplo: as magias ao atravessar paredes, os objetos em cena remetem aos filmes clássicos, as vassouras que voam por Horgwarts, bem como o refeitório da Escola também está lá; tudo remete e homenageia a saga de Harry Potter, do quadribol ao caprichado figurino.

Mas foi a presença de Picket, ganhando mais destaque nesta continuação, que fez o fofurômetro disparar. O bichinho é o animal de estimação do protagonista. Um coadjuvante carismático e inteligente, tão pequeno e tão cativante. Lembrando, até certo ponto, o Groot de Guardiões da Galáxia. Guardadas as devidas proporções.

Destaque para duas sequências magistrais, literalmente. A primeira é quando Newt imita um animal e esbanja performance de expressão corporal, e muito bom humor, numa cena que promete ganhar o público. E a outra é quando Lally (Jessica Williams) faz uma mágica sensacional ao criar uma ponte de páginas de livros abrindo caminho para Jacob (Dan Fogler) fugir de uma enrascada. Aliás, Jacob é o alívio cômico do longa; o “trouxa” é engraçado, inocente e de coração puro.

Assim, "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore" é uma produção com várias pitadas de humor, aventura e romance que pode agradar até quem não é fã da franquia Harry Potter.

* Avaliação: 4,0 Pipocas + 4,0 Rapaduras = 8,0.


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Dica Netflix - RANGO

Por Rafael Morais

Para Gore Verbinski, a excentricidade e a originalidade caminham lado a lado.


Ao terminar de assistir às aventuras e desventuras de Rango (camaleão-título), é impossível não ter a sensação de que vimos algo novo ou, pelo menos, inexplorado. Desde a fantástica sequência inicial até o desfecho, o filme reserva algumas reviravoltas e diálogos bem humorados, isso graças a um roteiro ambicioso e executado com maestria, onde a animação encontra no gênero western uma saída para a mesmice hollywoodiana.

A envolvente trama narra a trajetória de Rango, um excêntrico camaleão que se vê em "mares nunca d'antes navegados", depois de cair acidentalmente de sua gaiola confortável, forçando a pobre criatura a sair da sua solitária "vidinha" de fantasias para encarar a dura realidade lá fora. E para piorar a situação, o bicho vai parar em uma cidadezinha interiorana atormentada pela falta de água. Por lá, H2O é ouro, é poder, enfim, a água se torna moeda de troca para que os políticos corruptos comprem o seu povo. Alguma semelhança com a nossa realidade?!

O sucesso do filme está na técnica apuradíssima de contar a história. Os personagens coadjuvantes, bem como o principal, são carismáticos e cheios de vida, não deixando a desejar em nada à incomparável Pixar, já que a produção é a primeira incursão da Industrial Light & Magic de George Lucas em animações computadorizadas. Repare no nível de detalhe da galeria de figuras/personagens os quais somos gradativamente apresentados, aqueles roedores, répteis e anfíbios transformados em criaturas com rostos marcados e marcantes representam com perfeição os tipos característicos do gênero. 

Aliás, basta observar alguns animaizinhos de pele ressecada e tão assolados pelo sofrimento constante no qual vivem - o que não impede os realizadores também de criarem bichos mais engraçadinhos - para constatar o equilíbrio buscado pelo cineasta Gore Verbinski.

A propósito, Verbinski usou e abusou da excentricidade como premissa maior do longa, pois, ao criar Rango, um sujeito expressivo e dotado de uma "beleza" exótica, o cineasta tomou a contramão dos filmes do gênero de animação. Aqui não vimos bichinhos fofos e meigos, não. O humor reside nos diálogos e nas situações hilárias organicamente orquestrados. 

E por falar em gags, como esquecer a cena em que Rango - ao estilo Jerry Lewis em O Terror das Mulheres - tenta, apavorado, limpar a bagunça que fez no rosto de um bandido, e a cada vez que tenta consertar, só piora mais ainda a situação. Hilário! Destaque para a versão dublada brasileira, ficou impecável!

Mas é claro que o próprio gênero western acaba se tornando o principal homenageado da produção: a belíssima trilha de Hans Zimmer, por exemplo, faz constantes referências aos temas clássicos de Ennio Morricone, ao passo que sequências típicas do faroeste dão as caras aqui: como lutas sobre carruagens em movimento, duelos na rua principal de cidadezinhas hostis e brigas em saloons. 

Além disso, Verbinski se inspira claramente em Sergio Leone ao construir sua narrativa através de closes fechadíssimos nos rostos surrados de seus personagens (muitas vezes trazendo apenas partes de suas faces) e ângulos que ressaltam a natureza grandiosa, mítica, daquelas criaturas.

A direção de arte e o design de som chegam a ser tão incríveis que nenhum detalhe escapa, haja vista a cena em que Rango adentra um sallon ao som de um velho ventilador, as placas espalhadas pela cidade, a funerária fabricando o próximo caixão para o xerife vindouro. Nada é esquecido! 

Não menos formidável é a fotografia escolhida para o longa, visualmente impecável ao oferecer paisagens extremas - que vão do escuro céu no fim de tarde à superexposição de raios solares que ressalta a secura e o calor daquele universo dominado pela sede - ademais, por duas vezes durante a projeção, pausei o filme para tomar um copo d'água bem gelado. Acredite, a sensação de sede é impressionante.

Além de tudo, Rango ainda se encerra com créditos finais vibrantes e envolventes, estabelecendo-se como uma experiência cinematográfica ímpar até o minuto final. Sem dúvida, foi um dos melhores filmes de 2010.

*Avaliação: 5,0 Pipocas + 5,0 Rapaduras = 10.