Homenagem ao Cinema Nacional.
Rafael Morais
19 de junho de 2012.
Hoje se comemora o Dia do Cinema Brasileiro. A data escolhida pela Ancine (Agencia Nacional do Cinema) não é aleatória: Em 19 de junho de 1889 o primeiro filme em movimento genuinamente brasileiro foi rodado, pelo cinegrafista italiano Afonso Segreto ao chegar da Europa a bordo do navio Brèsil. Antes de pisar em terra firme, fez imagens da entrada da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A partir daí, ele e seu irmão Paschoal Segreto começaram a registrar os principais acontecimentos do país, sendo os únicos produtores brasileiros até 1903.
O primeiro estúdio de cinema só surgiria em 1930. Instalado no Rio, a Cinédia levava ao público comédias musicais e dramas populares. Em 1941, surgiu a Atlântida, filmando as inesquecíveis chanchadas (comédias muito populares, de baixo custo), que marcaram época. “Não Adianta Chorar”, de Watson Macedo, e “Nem Sansão Nem Dalila”, de Carlos Manga, fizeram enorme sucesso.
No fim da década de 1940, foi fundada a Vera Cruz, considerada na época a “Hollywood brasileira”. O estúdio, que tinha à frente o italiano Franco Zampari e o cineasta pernambucano Alberto Cavalcanti, tinha intenção de criar filmes bem ao estilo hollywoodiano. “O Cangaceiro”, rodado em 1952 por Lima Barreto, conseguiu entrar no circuto internacional – foi premiado no Festival de Cannes -, começando uma fase de histórias sobre o cangaço. Com tal repercussão, a obra foi levada para 80 países e vendido para a Columbia Pictures. Apesar de todo esse sucesso, a Vera Cruz acabou falindo.
O fim do sonho dos grandes estúdios deixou o bastão da arte cinematográfica brasileira nas mãos de diretores como Nélson Pereira dos Santos, de “Rio 40 graus”, Anselmo Duarte, de “O Pagador de promessas” e Walter Hugo Khouri, de “Noite Vazia”. O comediante Amácio Mazzaropi, uma das estrelas da Vera Cruz, montou sua própria produtora em 1963, e com seu jeito único de fazer graça, se tornou um fenômeno de bilheteria, influenciando toda uma geração de humoristas ao criar tipos caipiras como Jeca Tatu. Nesse mesmo ano, também se destacou a produção de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, além de “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade.
Com o surgimento da Embrafilme, em 1969, o governo passou a financiar as produções, além de distribuir as fitas. Em meados da década de 1970, Renato Aragão iniciou uma carreira bem sucedida dos filmes estrelados por sua trupe, protagonizando “O Trapalhão no Planalto dos Macacos”. Desta primeira fita até a última, “Simão – O Fantasma Trapalhão”, rodada em 1998, Didi Mocó Sonrisal Colesterol do Fumo detém o conjunto da maior bilheteria do cinema brasileiro. Bruno Barreto também tem sua cota de bilheteria, ao alcançar 12 milhões de espectadores (de 1976 a 1998), com “Dona Flor e seus Dois Maridos”.
Rico em produções, os anos 1980 trouxeram pérolas como “Marvada carne”, de André Klotzel, “Eles não usam Black Tie”, de Leon Hirszman, ganhador do Leão de Ouro em Veneza, em meio a outros filmes de repercussão internacional, como “Memórias do cárcere”, de Nélson Pereira dos Santos, “Pixote – A Lei do Mais Fraco” e “O Beijo da Mulher Aranha”, de Hector Babenco, “Parahyba Mulher Macho”, de Tizuka Yamazaki e “Eu Sei Que vou te Amar”, de Arnaldo Jabor.
A década de 1990 começou mal. O cinema nacional enfrentou dificuldades com os cortes do financiamento oficial e a extinção da Embrafilme. A situação só começou a melhorar em 1993, quando foi criada a Lei do Audiovisual, que promovia novos investimentos por parte do governo federal. Dois anos depois, apareceram as primeiras produções de peso, como “Carlota Joaquina: Princesa do Brasil”, de Carla Camurati – considerado um marco da retomada – que alcançou 1,2 milhão de espectadores.
Cinco anos depois, “Central do Brasil” de Walter Salles conquista as bilheterias, chegando mesmo a receber um Urso de Ouro em Berlim. Fernanda Montenegro, a protagonista, é indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Em 2002, o cinema brasileiro conquista de vez o mundo com “Cidade de Deus” de Fernando Meirelles, recebendo 4 indicações ao Oscar e sendo considerado pela revista Time um dos 100 melhores filmes da história.
Já em 2011, “Tropa de Elite 2″ de José Padilha, continuação do longa de 2007, se torna a maior bilheteria nacional de todos os tempos, ultrapassando a marca de 12 milhões de espectadores de “Dona Flor”. A comédia “Se Eu Fosse Você” de Daniel Filho também é destaque, adaptada ao cinema americano e ao francês, mostrando que o sétima arte nacional está em franca expansão.
Atualmente, o cinema brasileiro é considerado um dos melhores do mundo, mas ainda encontra dificuldades em se estabelecer como indústria. Apesar dos tropeços, o país tem conseguido produzir filmes de qualidade em consonância com seus diversos públicos. 19 de junho, portanto, é motivo para muita comemoração. Viva o Cinema Nacional!