Mel Gibson estrela, produz e roteiriza seu novo filme de ação. E, claro, tudo com violência em excesso.
Rafael Morais
03 de junho de 2012.
Que a relação de Mel Gibson com Hollywood anda bastante desgastada, ninguém tem dúvida, uma vez que o astro andou bebendo além da conta, arranjou problemas com a ex-esposa e, sobretudo, propagou o anti-semitismo em suas atitudes e declarações. Diante dessa enxurrada de acontecimentos, Plano de Fuga, seu atual filme, foi lançado por lá somente no sistema pay per view, isto é, o cara não tem mais espaço nas telonas. Ainda bem que por aqui ele continua bem-quisto ("fazendo" dinheiro), e os seus longas ganham os cinemas. Enquanto as coisas não se resolvem, ele continua fazendo filmes independentes.
E Plano de Fuga é tudo isso e ainda uma auto-prova de que ele ainda aguenta estrelar um filme de ação, correndo, atirando e mantendo a pose aos 56 anos. O projeto foi rodado em grande parte na mesma cidade de Veracruz, no México, onde ele filmou Apocalypto (recomendamos) com a direção estreante do argentino radicado no México Adrian Grunberg, primeiro assistente de direção de Gibson no épico maia. A falta de experiência do jovem cineasta logo aparece em alguns momentos, mas não chega a comprometer, principalmente porque Gibson estava ao seu lado.
O filme começa com uma perseguição de carros na fronteira entre Estados Unidos e México. Após ser preso, o protagonista é logo levado para a cidade-presídio de "El Pueblito". Vale lembrar que o ator Dean Morris (o Hank do seriado Breaking Bad) faz uma pequena ponta quase como encarnando o personagem que o consagrou na TV. Uma pena, já que o talentoso ator poderia ser bem melhor aproveitado pelo roteiro. Voltando à trama, o local é comandado por uma família de bandidos locais, que dá ordens até mesmo no diretor do presídio, tratado como um verdadeiro rei. O comércio local é liberado e o pagamento não se restringe apenas a cigarros. Após usar suas artimanhas para conseguir os primeiros trocados, que lhe renderão um certo conforto, Driver (Gibson) é abordado por um menino de 10 anos e vai aprendendo com ele mais sobre o local e seus costumes.
O roteiro - com final bastante previsível, mas um bom desenvolvimento - mostra tudo o que há de mais politicamente incorreto. É boca suja, todos os mexicanos são corruptos e corruptíveis, o local é um grande lixão superpovoado e o menino faz de tudo para conseguir saciar seu vício com a nicotina. Este cenário que poderia perfeitamente ser mostrado em um filme ambientado no Brasil, é tão ou mais interessante que os próprios personagens - principalmente os secundários, tamanhas são as suas visceralidades e realidades.
Como todo bom filme de ação, o longa guarda uma sequência incrível onde um tiroteio está acontecendo dentro da cidade-presídio, lembrando os filmes de faroeste, tanto pela forma como os homens se enfrentam e se encaram antes da bala comer solta, quanto pela fotografia ensolarada e seca. Aliás, por ser uma produção independente, os efeitos visuais, principalmente dessa sequência, são de deixar qualquer um boquiaberto, o bullet time tão usado em filmes como Matrix e game como Max Payne, funciona organicamente à trama, pois ajuda a detalhar a cena, mostrando quem foi acertado naquele tiroteio, enfocando os "inocentes" alvejados e os envolvidos merecedores.
Além de toda essa ação que não poupa sangue, torturas e uma violência exacerbada, e a parte investigativa - bem estilo Mel Gibson - de descobrir por que ele está ali, o que ele roubou e de quem, e como fará para sair daquele inferno, o filme também se utiliza bastante do humor. Um humor diferente, que não tem medo de arriscar para arrancar um sorriso do rosto do espectador. Observe, para ilustrar, a utilização de gag's físicas, do tapa na cara do palhaço - literalmente.
Enfim, em Plano de Fuga, Mel Gibson prova mais uma vez que ainda é um ótimo astro de ação e mantém o seu olhar e jeito insano desde os tempos de Máquina Mortífera.