quinta-feira, 1 de março de 2012

EM CARTAZ: A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

Viaje com Scorsese por um mundo que ele conhece como poucos.
Rafael Morais
01 de fevereiro de 2012.

A briga pelo Oscar de melhor filme deste ano foi protagonizada por duas produções que focam a mesma dualidade temática: A evolução do cinema X A preservação de obras clássicas. No entanto, A Invenção de Hugo Cabret narra este contexto histórico de uma forma bem mais encantadora e deslumbrante que o filme francês O Artista (o vencedor do Oscar de melhor filme e melhor diretor), até porque traz Martin Scorsese dirigindo pela primeira vez em câmeras 3D. 

E por falar em efeitos de terceira dimensão, Scorsese consegue fazer uma imersão sem igual e inovadora, jamais vista depois de Avatar de James Cameron (o "pai" do 3D). O cineasta usa dos efeitos como linguagem narrativa, ao colocar o espectador dentro do filme, literalmente, de tão perspicaz e fascinante que são os ângulos tridimensionais. Repare na sequência em que o guarda da estação (Sacha Baron Cohen) intimida o garoto Hugo ao aproximar o seu rosto, demonstrando ser bem maior e imponente que a criança, e claro, o diretor não perde a oportunidade de também nos colocar na pele do protagonista, e utiliza organicamente esta aproximação em 3D. Além do mais, o grande cineasta usa a tecnologia para potencializar o efeito dos truques de Méliès no ótimo flashback que relembra o processo do mestre (como a ilusão do tanque de lagostas). 

A história, por sua vez, acompanha a trajetória do protagonista Hugo  (Asa Butterfield), que depois da morte do seu pai relojoeiro, passa a viver na Gare du Nord, a majestosa estação de trem em Paris, cujos relógios o órfão acerta diariamente. Como herança, Hugo ganhou não apenas o talento com engrenagens miúdas, mas também um misterioso autômato, que o garoto tenta remontar com peças que ele rouba de uma loja de brinquedos na estação. Transcorrem os anos 1930 e ninguém desconfia que o deprimido dono da loja é, na verdade, o velho cineasta Georges Méliès (Ben Kingsley), mas isso Hugo logo descobre, quando o caminho dos dois se cruza. 

Quem não conhece Méliès (1861-1938) terá em Hugo Cabret, antes de mais nada, uma tocante introdução aos filmes do diretor de Viagem à Lua (1902). Foi o que aconteceu comigo, que apesar de conhecer esta obra, não tinha ideia de quão grandiosa era a sua cinematografia como um todo. Enquanto os irmãos Lumière, criadores do cinematógrafo, filmavam banalidades do cotidiano em seus curtas, Méliès, veterano do teatro de variedades, levou para o cinema seus espetáculos de ilusionismo. Com seus truques de montagem e encenação, o francês foi pioneiro não só nos efeitos visuais como originou, com sua produção de mais de 500 filmes, toda a ideia do cinema como uma fábrica de sonhos. 

E esta magia é retratada de maneira tocante em Hugo. A visão de Scorsese sobre cinema (o cineasta não esconde sua obsessão sobre o tema) é uma analogia ao mundo onírico, pois quando estamos assistindo a um filme é como se estivéssemos sonhando livremente, sem amarras, longe da nossa cruel e indigesta realidade. Fantasia pura!

Enfim, um filme mágico, deslumbrante e imperdível para os amantes da sétima arte.

É uma pena o longa não ter levado o prêmio de melhor filme, mas em compensação arrebatou todos os prêmios técnicos possíveis.

Comentários
1 Comentários

1 comments:

  1. Esse filme é perfeito em efeitos 3D, depois do Avatar, só ele!!!
    Ele tem magia, drama, comédia, além de abordar cultura, tudo isso em um só filme.
    Um excelente filme e para todas as idades!!!

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