sexta-feira, 3 de junho de 2011

FILME: O ASSASSINO EM MIM


Incursão em uma mente doentia.
Rafael Morais
03 de junho de 2011.

Aclamado por muitos e repugnado por outros, assim é The Killer Inside Me (O Assassino em Mim) que arrebatou a atenção de críticos nos festivais por onde passou.

O gênero é o noir, ou seja, é um estilo de filme primariamente associado a filmes policiais, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático. E tudo isso é exposto de forma realista e atroz, como tem que ser. Nesse estilo, a perversão é a tônica do enredo, levando os personagens a situações tão viscerais quanto esquizofrênicas. E é assim que Lou Ford (Casey Affleck) age do início ao fim. O cara é um policial desprovido de qualquer remorso e não sabe nem qual é a sensação de ter uma consciência pesada.

O policial oscila a sua personalidade, adaptando-se de acordo com o ambiente em que se encontra, assim Ford consegue "esconder" dos demais personagens o seu lado obscuro e mantém a figura boa-praça perante a sociedade. No entanto, nós, os espectadores, não somos enganados pela sua aparência angelical e engomadinha, já que o filme é narrado em primeira pessoa (narrador autodiegético) e, sem dó nem piedade, somos apresentados ao verdadeiro Lou Ford. 

Ao ser chamado pelo magnata da região para resolver um imbróglio do seu filho que se envolvera com a prostituta Joyce (a linda Jessica Alba), o lobo em pele de cordeiro (Casey) passa a se relacionar de forma quente e violenta com a meretriz. A partir de então, tudo se torna um emaranhado de pensamentos sombrios e armações maquiavélicas dentro da confusa "caixola" do perturbado Lou. 

O triângulo amoroso está formado: o xerife, a prostituta-amante e sua noiva (Kate Hudson). O barril de pólvora foi aceso e o pavio é curto. Tão curto que não dá nem tempo das sonhadoras mulheres fazerem planos de vida, que a realidade lhe bate a cara, literalmente, pois de repente o "homem-da-lei" começa a matar, a espancar e a   trucidar. Tudo dentro de sua própria lógica, é pura violência por violência, sem sentido, por mais que o psicopata tente procurar motivos em fotos antigas e lembranças assaz perturbadoras.

A inteligência é usada para o mal, as artimanhas são artifícios para o êxito nefasto. O demônio deveria estar soltando fogos no inferno, vendo o que aquele homem de aparência inofensiva era capaz de fazer com as suas pobres vítimas manipuladas e assustadas. Só para se ter uma ideia, a cena do espancamento - intensos socos que pareciam atingir não só a indefesa vítima, mas também o espectador - causou-me náuseas e repulsa, as mãos gélidas e a autoantropofagia (roer as próprias unhas) são apenas alguns dos sintomas que me tomaram naquele momento.

A pancadaria chega sem aviso e a violência extrema se anuncia sem trilha de suspense ou técnicas de filmagem, muito menos truques de luz. É de supetão mesmo! 

O preconceito e o estereótipo social também tem o seu lugar no script, revelando-se em uma das melhores cenas do longa, quando um inocente corre pelas ruas da aparente pacata cidade pedindo ajuda com uma faca na mão, mas para a sua infelicidade, quem estava o perseguindo e o acusando era um xerife. E quem tem razão: um policial armado ou um homem desesperado? Nesse caso, pense bem antes de responder.

Por vezes, durante a projeção, lembrei-me de Iha do Medo do magistral Martin Scorsese, por todo esse paralelo entre a realidade e a fantasia criada pelo próprio protagonista. 

   
As aparências enganam.

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