Por Isa Barretto
Echo Valley, dirigido por Michael Pearce e roteirizado com precisão por Brad Ingelsby, é um thriller contido, mas de impacto, que prende o espectador pela tensão psicológica e pela força silenciosa de suas protagonistas.
Julianne Moore dá vida a Kate, uma mulher marcada pelo luto e pela solidão, vivendo isolada em uma fazenda. Sua interpretação é poderosa justamente por não exagerar: cada olhar, cada pausa diz muito. Kate é o tipo de personagem que fala pouco, mas que deixa tudo no ar — e Moore domina isso com maestria.
Quem também impressiona é Sydney Sweeney, no papel de Claire, a filha que reaparece com um problema grave e um passado cheio de rachaduras. Sweeney traz intensidade e vulnerabilidade na medida certa, equilibrando fragilidade com impulsividade. A química entre as duas sustenta o filme do início ao fim.
O roteiro é um dos grandes acertos. Construído de forma enxuta e direta, não desperdiça palavras nem cenas. Os diálogos são carregados de tensão, e há um jogo constante entre o que é dito e o que fica subentendido. Ingelsby cria uma narrativa que se desenrola como um novelo — quanto mais o espectador puxa, mais camadas surgem, sem perder o ritmo.
A direção de Pearce mantém o tom sombrio, com uma fotografia fria e silenciosa que reflete bem o estado emocional das personagens. O uso do espaço — especialmente a fazenda tão isolada — amplifica bem o clima de claustrofobia emocional.
Apesar do ritmo mais contido, o filme nunca é arrastado. Ao contrário, ele cresce à medida que os segredos são revelados e o laço entre mãe e filha é testado até os extremos. Echo Valley trata da maternidade de forma dura e realista, mostrando que nem sempre o amor protege — às vezes, ele cega, sufoca e ultrapassa limites.
Sem recorrer a cenas forçadas ou reviravoltas artificiais, Echo Valley constrói sua força em uma tensão contínua e emocionalmente densa. O resultado é um filme que não precisa ensinar nada explicitamente — apenas nos entrega duas atrizes em performances memoráveis, guiadas por um roteiro preciso e sob medida para seu talento.
Echo Valley é um filme que merece ser assistido com atenção — e, depois, digerido com calma.